O jornal inglês The Guardian publicou, no domingo, 10, um artigo no qual compara as medidas adotadas contra a Covid-19 pelo governo argentino com as do Brasil, e advertiu que o país conduzido por Jair Bolsonaro atravessa “um devastador surto de coronavírus impulsionado pela atitude depreciativa de seu próprio presidente em relação a pandemia”.
O periódico aponta que as “diferenças entre as experiências” não só se devem às “personalidades contrastantes de seus presidentes”, mas também a sua forma de governar. “Bolsonaro separou-se do partido que o levou ao poder, enquanto que Fernández é produto de um dos movimentos nacionais mais duradouros e poderosos da América Latina”, assinalou o acadêmico consultado, Andrés Malamud, referindo-se ao peronismo.
O The Guardian repassou cronologicamente a atitude de ambos os governos na medida em que avançava o vírus na região e mostrou que “o presidente brasileiro minimizou a crise, qualificando-a como histeria dos meios de comunicação”, além de ter rejeitado “em repetidas ocasiões as recomendações de distanciamento social de seu próprio governo”, inclusive quando a quantidade de mortos disparou.
“A Argentina, ao contrário, impôs rapidamente uma quarentena nacional e parece haver achatado com sucesso a curva de contágios”, destacou o jornal.
Para Jair Bolsonaro, o novo governo peronista da Argentina representou um retrocesso à “maré rosa” dos líderes latino-americanos que coincidiu com o tempo de Cristina Fernández de Kirchner no cargo de 2007 a 2015.
“Mas, cinco meses depois, é o Brasil que se dirige para uma emergência humanitária, no bojo de um devastador surto de coronavírus impulsionado pela atitude depreciativa de Bolsonaro com a pandemia”, disse o matutino britânico.
Destacou “a estreita coordenação” entre o governo nacional argentino, os governadores e os prefeitos para administrar a quarentena obrigatória e sublinhou como um forte “contraste” o fato de que, no Brasil, Bolsonaro “demitiu seu ministro de Saúde e se enfrentou com os governadores regionais”.
“Você pode se recuperar de uma queda no PIB, mas não pode recuperar-se da morte”, é a frase de Alberto Fernández que o The Guardian colocou na manchete do artigo e compara os dados vigentes no dia 10: “Com só 5.611 casos e 293 mortes até o momento, contra os quase 136.000 casos do Brasil e mais de 9.100 mortes, até os partidários acérrimos de Bolsonaro estão olhando agora para seu vizinho do sul com um olhar invejoso”. Na segunda-feira, 11, os casos no Brasil já pularam para 163.510 e mais de 11.200 mortes, contra 6.034 casos e 305 mortes na Argentina.
O jornal lembrou que “quando Alberto Fernández assumiu o cargo de presidente da Argentina em dezembro passado, sua pose foi boicotada pelo líder do governo do Brasil, que qualificou Fernández e a sua vice-presidente, Cristina Kirchner, como bandidos de esquerda”.
O artigo conclui com uma frase do presidente Fernández em coletiva de imprensa realizada na sexta-feira passada: “Preferiria que uma fábrica estivesse vazia porque seus trabalhadores estão em quarentena e não porque estejam doentes ou mortos”.