Aliados do próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), avaliam que a indicação foi desastrosa e defendem novo nome do partido, como o deputado Marcelo Freitas (PSL-MG)
A deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) continua sua militância virtual em defesa de seu pleito e de parte do chamado “PSL bolsonarista”, em detrimento da ala “bivarista”, ligada ao deputado Luciano Bivar (PSL-PE).
O próprio Bolsonaro força a indicação da parlamentar perante o novo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), mesmo diante da grande resistência que destampou na sociedade, nas redes sociais e no próprio parlamento. Bia Kicis é uma terraplanista assumida, além das posições golpistas que publicamente defende e que são investigadas pelo STF.
Pela manhã, a deputada tuitou: Todos sabem das minhas convicções políticas. Se honrada c/ a confiança dos meus pares, minha atuação à frente da CCJ será pautada pela imparcialidade, diálogo, previsibilidade e respeito à CF e ao regimento, c/ isenção em todos os projetos apresentados. Sigo a linha de @ArthurLira_”.
Parece que o problema é exatamente este. “Todos sabem das convicções políticas” da deputada. Ela não mudou de comportamento depois de eleita. Ao contrário, até radicalizou, sobretudo depois de eleita e protegida pelas imunidades que lhes dão anteparos diante das atitudes abjetas sob o mandato parlamentar.
O mundo acompanha a “militância terraplanista” da deputada, que não se comporta como uma “representante do povo”, que ao assumir o mandato parlamentar jurou, no plenário da Câmara dos Deputados, manter um compromisso: “Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil”. A parlamentar tem feito exatamente o oposto a este “compromisso” constitucional, parlamentar e popular.
A vaga é do PSL. Todavia, em razão das resistências que pululam de todos os lados, até na bancada da deputada, líderes governistas passaram a trabalhar por uma solução: um nome alternativo. Aliados do próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), avaliam que a indicação foi desastrosa e defendem novo nome do partido, como o deputado Marcelo Freitas (PSL-MG).
REAÇÃO NO STF
A jornalista Andreia Sadi, em seu blog no G1, diz que os “ministros do STF receberam sinais de que líderes buscam uma solução para evitar Bia no comando da CCJ. Eles têm ouvido que a indicação só ocorrerá após o Carnaval, o que daria tempo de buscar uma alternativa.”
É de fato preocupante para o Supremo ter no comando da principal comissão da Câmara dos Deputados uma parlamentar que ameaça constantemente, embora seja advogada e procuradora aposentada, a Constituição da República.
Ainda segundo Sadi, a “avaliação de ministros ouvidos pelo blog, a indicação, se confirmada, ‘desmoralizaria’ os trabalhos da comissão que cuida justamente da legalidade de propostas, como emendas constitucionais”.
A deputada já defendeu o impeachment de ministros como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além de ter uma postura negacionista diante da pandemia.
Nas conversas com ministros do STF, governistas tentam afastar a ideia de que Bolsonaro apoia Bia na CCJ, e lembram que o presidente sacou a deputada da vice-liderança do governo quando ela votou contra o Fundeb.
ALTO PREÇO
A deputada está pagando alto preço pelo tipo de militância tresloucada que desenvolve em torno do mandato parlamentar. Pelo andar da carruagem ela terá muita dificuldade de ser confirmada na cadeira. Diante da insistência da deputada, partidos se articulam para derrubar a indicação ou derrotá-la no voto.
Embora a prerrogativa seja de o PSL indicar o titular da comissão, diante do impasse, outros partidos começam a se movimentar para açambarcar o colegiado. É o caso do Podemos, que especula com o nome do deputado João Bacelar (BA), que corre por fora, e anunciou sua candidatura à presidência da CCJ com discurso apaziguador. “Precisamos de equilíbrio, aqui nesta Casa. Chega de disputas acirradas, conflitos e pressões do governo”.
“A CCJ exige equilíbrio, qualidade impossível de encontrar em Bia Kicis, negacionista da extrema direita ideológica. Não podemos ter na presidência da comissão mais importante da Câmara, quem defende torturadores e apoia movimentos q/ pedem o fechamento dos poderes da República”, tuitou a deputada acriana e líder do PCdoB, Perpétua Almeida.
Por toda essa movimentação e resistência, tudo indica que não vai ser dessa vez que a deputada que optou pelo negacionismo do combate e proteções da pandemia da Covid-19 vai assumir cargo relevante na Câmara. A formalização de nomes para dirigir as comissões técnicas da Casa ainda não foram formalmente determinadas.
MARCOS VERLAINE (colaborador)