Os tratores adquiridos pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que fizeram parte dos recursos destinados por meio de um “orçamento secreto” criado pelo governo Bolsonaro para financiar aliados às escondidas, tinham como destinatários políticos ligados ao chamado Centrão.
A iniciativa, que movimentou R$ 3 bilhões para bancar emendas individuais de parlamentares alinhados ao governo, ficou conhecida como ‘tratoraço’ nas redes sociais. Isso porque na operação, também chamada de Bolsolão, os tratores foram comprados por valores 259% acima do preço de mercado.
Esse orçamento paralelo, com recursos sendo dirigidos pela Codevasf para a compra de tratores, moeda em alta no mercado de votos, teria servido também para turbinar a campanha do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) à presidência da Câmara dos Deputados.
Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, o caso do então prefeito de Junqueiro, Carlos Augusto (MDB), é um exemplo de como a estatal foi aparelhada pelo Centrão.
A reportagem do veículo aponta que, a três semanas da eleição de 2020, Carlinhos, como é conhecido, concorria a um novo mandato, apoiado por Lira. As máquinas foram entregues pela Codevasf à Prefeitura do município, no agreste alagoano, onde nasceu o pai do deputado, ex-senador Benedito de Lira. Mas a oposição venceu a disputa e, quando o novo prefeito Leandro Silva (PTB) assumiu, os bens doados já haviam sido devolvidos à estatal.
Os equipamentos chegaram à cidade em outubro e e foram adquiridos por verbas anteriores ao lote do “orçamento secreto”, mas o episódio é revelador de como o aparelhamento da estatal já estava em curso. O artifício foi criado no fim do ano passado por Jair Bolsonaro para conseguir apoio no Congresso.
O atual presidente da Câmara foi um dos parlamentares que mais puderam impor o destino do dinheiro do Ministério do Desenvolvimento Regional. Ao todo, ele direcionou R$ 114,6 milhões para obras, aquisição de tratores e máquinas pesadas, segundo a planilha secreta do governo.
Lira precisaria de quase quatro mandatos de deputado para controlar esse volume de recursos apenas com suas emendas parlamentares, limitado ao valor de R$ 8 milhões que cada parlamentar tem direito em emendas na Lei Orçamentária Anual.