Com a pandemia novamente fora de controle nos EUA, especialmente na Flórida, Texas e Arizona, o presidente Trump resolveu que a hora é de partir para a fritura do principal infectologista do país, Anthony Fauci, e dos órgãos públicos (CDC) – que tentam remendar a incúria dele diante do coronavírus -, para arranjar um bode expiatório e sustentar que, nesse quadro horroroso, não tem problema algum em reabrir as escolas.
Trump retuitou uma mensagem de um ex-figurante de game show, Chuck Woolery, conhecido pelo “Roda da Fortuna”, que diz que “todo mundo está mentindo. O CDC, Mídia, Democratas, nossos Médicos, não todos, mas a maioria, que nos dizem para confiar. Acho que é tudo sobre a eleição e impedir que a economia reabra, que é sobre a eleição. Estou cansado disso”.
Para não restar dúvida do que se trata, o presidente bilionário retuitou – para seus 83 milhões de seguidores – outra postagem do mesmo sujeito: “existem tantas evidências, sim, evidências científicas, de que as escolas devem reabrir neste outono. É mundial e é avassalador. MAS NÃO.”
Enquanto porta-voz da Casa Branca jura que não existe tal fritura, Trump não vem mais conseguindo se conter. Na semana passada, ele disse à Fox News que Fauci “é um cara legal, mas fez um monte de erros” sobre a pandemia.
Ele também ficou furibundo quando o CDC (Centro de Controle de Doenças) definiu orientações às escolas sobre como proceder na volta às aulas presenciais, e mandou refazer, por estarem “rígidas demais”.
Uma pesquisa realizada pelo Siena College para o New York Times no mês passado mostrou que, quanto à pandemia, 67% dos americanos confiavam no Dr. Fauci. Em Trump, apenas 26%.
Fauci revelou que faz dois meses que Trump e ele não conversam; a Comissão antiCovid da Casa Branca ficou todo esse tempo sem se dirigir diretamente ao público. Enquanto isso, a Flórida acaba de superar o pior momento de Nova York em total diário de contágios, 15.300, e as infecções estão em alta em 39 dos 50 estados. Os EUA seguem imbatíveis como recordistas mundiais em mortes e contágios, com 5% da população do planeta e 25% dos contágios e mortes, no país mais rico do mundo.
Não é por falta de aviso daquele que é considerado o principal infectologista dos EUA, já tendo servido a seis presidentes.
Na semana passada, o Dr. Fauci disse ao Wall Street Journal que os estados deveriam considerar “fechar” ou “dar uma pausa no processo de abertura”. Conselho que acaba de ser ouvido pelo governador da Califórnia.
“O que nós estamos vendo é um crescimento exponencial”, acrescentou o especialista. “[O total de novos casos] Foi de uma média diária de cerca de 20.000 para 40.000, 50.000. Isso é dobrar. Se continuar dobrando, duas vezes 50 é 100 [100 mil]”.
Trump também não gostou nem um pouco da declaração do Dr. Fauci de que os EUA continuavam “com os joelhos enfiados” na primeira onda da pandemia. Ou dos esclarecimentos que prestou ao Congresso.
Numa entrevista ao FiveThirstyEight.com na semana passada, o Dr. Fauci disse que só uns poucos estados tinham o vírus sob controle, mas que “como um país, quando você nos compara a outros países, eu não acho que se pode dizer que estamos fazendo grande”. “Não estamos”.