O ex-presidente se mexia irrequieto no banco dos réus enquanto seu contador, Donald Bender, depunha sob a acusação de que ele inflara os ativos da família Trump, que pode ficar sem a Trump Tower e proibida de fazer negócios em Nova Iorque
Um dos momentos em que Trump se mostrou mais tenso, durante seu primeiro dia de julgamento por fraude financeira, foi quando o tribunal de Nova Iorque ouviu o depoimento de seu contador, Donald Bender.
“Seu rosto às vezes ficava vermelho e, a certa altura, ele apontou com o dedo para o depoente enquanto sussurrava agressivamente no ouvido do advogado de defesa”, diz matéria publicada pela NBC News.
O ex-presidente Donald Trump começou a ser julgado por fraude em um tribunal de Nova York, na segunda-feira (02), julgamento que poderá custar-lhe a mais conhecida de suas propriedades, a Trump Tower, além de outros valiosos imóveis.
No segundo dia de julgamento, nesta terça-feira, o juiz do Tribunal Estadual em Manhattan, declarou que Trump poderia ser “sancionado”, caso continue a assacar contra o juiz e a corte.
O juiz Arthur Engoron, que preside o caso Trump por fraude, impôs uma “ordem de silêncio” ao réu, declarando que ele pode ser “sancionado por violações da lei” caso siga atacando o juiz e o tribunal.
O juiz chamou os advogados de Trump para dizer que os ataques a ele e sua equipe eram “inaceitáveis, inapropriados e não serão tolerados em quaisquer circunstâncias”, depois que Trump atacou o tribunal dizendo que “o crime é este julgamento”.
“Considerem esta minha declaração uma ordem de silêncio”, disse o juiz Engoron aos advogados de Trump.
Desde que começaram os processos que expõem a raiz de seu badalado “sucesso financeiro”, ou seja, a fraude, ele vem negando os crimes que já são públicos e tenta desqualificar as acusações como uma tentativa de impedir a sua recondução à Casa Branca nas eleições do próximo ano.
Trump, que até aqui lidera as pesquisas de intenção de voto dentro do seu partido para representar os republicanos nas próximas eleições presidenciais está sendo julgado junto com dois de seus filhos e executivos de sua empresa Trump Organization, acusados de terem inflacionado durante anos o valor de seus ativos imobiliários para obtenção de benefícios.
“A razão pela qual fui processado é porque voltei a concorrer à Presidência”, desconversou o magnata, que já tem quatro processos-crime abertos além deste, que pertence à jurisdição civil.
“Donald Trump e dois dos seus filhos, Donald Trump Jr e Eric Trump são responsáveis por fraudes financeiras relacionadas com a avaliação dos ativos da Trump Organization”, informou o juiz Arthur Engoron, do Tribunal do Estado de Nova York, em Manhattan, que concluiu que o ex-presidente norte americano cometeu fraude ao supervalorizar os valores de apartamentos, hotéis, clubes de golfe e outros ativos para obter financiamentos sem lastro para construir o seu império imobiliário, nos anos de 2011 a 2021.
POSSÍVEL CONFISCO
E agora deve resolver seis outras acusações que incluem falsificação de registros contabilísticos, emissão de relatórios financeiros falsos e fraude em seguros. Se as decisões do juiz forem mantidas por um Tribunal de Apelações ao qual Trump pode recorrer, ele poderia sofrer o confisco das empresas que são objeto do processo. Nesse caso, essas propriedades seriam confiadas a liquidatários, o que poderá forçá-lo a ceder alguns de seus bens em Nova Iorque.
A procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James, cuja investigação acerca dos negócios de Trump foi iniciada em 2019, quando ele ainda era presidente, denunciou que Trump inflou o valor de suas propriedades em até US$ 2,2 bilhões (cerca de R$ 10,9 bilhões) e pediu 250 milhões de dólares (cerca de R$ 1,2 bilhão) de reparações financeiras e interdições de dirigir empresas para o ex-presidente e seus dois filhos
O julgamento promete ser técnico, mas é marcado pelas pressões que a Justiça do país sofre das multinacionais e grupos dominantes, e espera-se que deponham dezenas de testemunhas, incluindo três dos filhos de Trump, Eric, Donald Jr e Ivanka (a filha foi denunciada mas acabou por não ser indiciada). Também deverá testemunhar o ex-CFO da Organização Trump, Allen Weisselberg, que cumpriu pena de prisão depois de se declarar culpado de fraude fiscal em outro processo contra o grupo.
Além deste caso, Trump enfrenta 91 acusações em quatro Estados – Washington, Florida, Geórgia e outras em Nova York. 40 delas estão relacionadas à suposta manipulação de documentos confidenciais em sua mansão na Flórida; 34 com supostos pagamentos ilegais a uma atriz pornô durante sua campanha presidencial, em Nova York; 13 sob a lei estadual de crime organizado na Geórgia por tentativa de reverter os resultados das eleições de 2020; e outras 4 acusações em Washington DC ligadas ao mesmo assunto, pelas suas falsas alegações de que houve fraude eleitoral e múltiplas manobras enganosas.
CANDIDATURA EM PERIGO?
Trump não pode ser condenado à prisão por esta acusação e não deverá testemunhar durante semanas, mas o julgamento será uma antecipação de uma série de casos legais que poderão perturbar a sua campanha para a candidatura presidencial republicana.
Se Trump fosse condenado em Washington e na Flórida antes das eleições do próximo ano e vencesse, ele poderia tentar indultar-se. No entanto, esse poder não se estende aos casos da Geórgia e de Nova York, porque são processos estaduais. O presidente dos EUA só pode conceder indultos por crimes federais.
