Pesquisa realizada pela Agência Lupa mostrou que o presidente da República fez ataques em 42 das 49 ‘lives’ neste ano
Definitivamente, o presidente da República Jair Bolsonaro (PL) não gosta da imprensa e tampouco dos jornalistas. Foi isso que a Agência Lupa comprovou por meio de levantamento que comprova essa assertiva. Ao longo de 2021, Bolsonaro ocupou manchetes e virou assunto nas redes sociais por conta dos seguidos ataques contra jornalistas e a imprensa.
Para deixar ainda mais clara a aversão do chefe do Executivo federal contra os profissionais e veículos, levantamento mostrou, ao menos, 78 vezes em que desacatos foram proferidos durante as ‘lives’ semanais na internet.
A pesquisa mostrou que Jair Bolsonaro atacou a imprensa em 86% das transmissões em 2021. Isso corresponde a 42, do total de 49, veiculações feitas ao longo do ano. No geral, as declarações desvalorizam o trabalho da imprensa e insinuam que as reportagens veiculadas espalham mentiras. Claro, contra ele.
Entre uma das falas polêmicas do presidente, ele parabenizou os jornalistas no dia 1º de abril, data conhecida como o Dia da Mentira.
PRESIDENTE FURIBUNDO
De todos os 78 ataques, o relatório apontou que 49 citavam algum veículo específico. Dentre esses, os mais mencionados foram da Rede Globo, 26 vezes incluindo a rede de televisão e o jornal O Globo; a Folha de S.Paulo, 17 vezes e o Estado de S.Paulo, 13.
Em raras vezes em que Bolsonaro elogiou o trabalho jornalístico foi em favor de veículos que são apoiadores do mandato dele.
Por exemplo, o programa Pingo nos Is, da Jovem Pan, apelidada nas redes sociais de ‘Jovem Klan’, que na opinião de Bolsonaro, reporta “a verdade, diferente da Globo”.
‘Jovem Klan’ faz alusão à organização racista norte-americana Ku Klux Klan.
RELATÓRIO DA FENAJ
Não é a primeira vez que levantamento desse tipo, que mostra ataques do presidente da República, contra a imprensa é divulgado. A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) publicou, em outubro de 2020, relatório em que denunciou os sucessivos ataques que Bolsonaro cometeu contra membros da imprensa — profissionais ou veículos ou ambos.
Segundo a pesquisa da Fenaj, chamada Monitoramento de discursos, entrevistas e postagens em redes sociais, foram 299 ataques entre janeiro e setembro de 2020, o que corresponde a mais de uma declaração hostil aos veículos de comunicação por dia.
No Twitter, Bolsonaro debochou do levantamento. Ele postou matéria do portal de O Globo com o título: “Em nove meses, Bolsonaro cometeu 299 ataques ao jornalismo, diz relatório”. Acima da matéria, escreveu: “‘Ataque’ n° 300: Perderam a boquinha!”.
LIBERDADE DE IMPRENSA
Essas ofensas resultaram na entrada de Bolsonaro na lista de “predadores da liberdade de imprensa”, elaborada pela RSF (Repórteres Sem Fronteiras).
A edição de 2021 foi divulgada em julho. É composta por 37 chefes de Estado ou governo que impõem repressão massiva à liberdade de imprensa.
A edição descreveu que Bolsonaro usa “insulto, humilhação e ameaças vulgares” como “modo de predação”. De acordo com a publicação, desde que Bolsonaro assumiu a presidência da República, em 1º de janeiro de 2019, tornou muito mais difícil o trabalho da imprensa no Brasil.
“Sua marca registrada? Insultar, estigmatizar e humilhar jornalistas muito críticos”, está descrito no documento da ONG.
M. V.