O recém realizado leilão do 5G no Brasil, a nova tecnologia que acelera em 100 vezes a velocidade da internet, é a questão abordada pelo pesquisador e professor Elias Jabbour no Meia Noite em Pequim, da TV Grabois.
É um incrível avanço tecnológico, não é para amanhã, tem toda uma infraestrutura para ser instalada, mas a importância do 5G coloca algumas questões que merecem ser debatidas, destaca Jabbour.
A China tem 40 anos de abertura e 15 de política industrial voltada para a criação de tecnologia própria, que resultaram no 5G, no Big Data, na Inteligência Artificial e, agora, no supercomputador quântico.
São plataformas que têm sido usadas para ampliar a capacidade de planejamento do país. A posse de muitos dados permite ao planejador acelerar um projeto ou tomar decisões mais rápido.
Essas plataformas elevam o controle sobre a natureza, são a base do que Jabbour tem chamado de nova economia do projetamento.
Trata-se de muito mais do que uma aceleração da velocidade da internet, e a discussão não deve ficar só nisso. Para Jabbour, o debate, aqui no Brasil, sobre o 5G, deveria estar ligado a políticas industriais para a expansão tecnológica.
A utilização do 5G para a elevação da produtividade do trabalho e da planificação na nossa economia.
E para as oportunidades – em termos de obter contrapartidas – abertas por uma disputa de oferta de tecnologia como a se vê hoje em dia no 5G.
Os Estados Unidos argumentam que o 5G da China abre a porta para a espionagem e a coleta de dados.
Aqui Jabbour lembra como o governo Vargas levou a CSN, a implantação da siderurgia em Volta Redonda, manobrando diplomaticamente entre os EUA e a Alemanha, quando da II Guerra Mundial.
Evidentemente, assinala o pesquisador, não é esse tipo de preocupação que passa pela cabeça de Bolsonaro.
Entre as possibilidades abertas, Jabbour aventa uma parceria com os chineses no 6G, que já está em desenvolvimento. Ou apoio tecnológico chinês para que o Brasil produza chips de 7 a 10 nanômetros – ao invés de desmontar a única fábrica de chips do país.
Dada a sensibilidade do que está em jogo e já que Biden não quer que o Brasil compre da Huawei, o que ele tem para nos oferecer?
O Brasil deveria exercitar essa visão estratégica, é assim que as grandes potências, os grandes grupos econômicos internacionais se tratam.
Poderíamos aproveitar para impor algumas condições. Que empresas vão participar no Brasil? Quais as contrapartidas em transferência de tecnologia e treinamento de pessoal?
Haveria amplas oportunidades para assegurar o interesse do Brasil, seja com os chineses, seja com os americanos. O Brasil está perdendo uma oportunidade única, vai olhar só no curto prazo e não tiraremos nenhuma vantagem dessa disputa estratégica, adverte Jabbour.