Um agente da polícia do Capitólio, Brian Sicknick, morreu na quinta-feira (7), em consequência dos ferimentos sofridos quando tentava impedir a invasão do Congresso dos EUA pelas turbas trumpistas na véspera, no que foi chamado de “dia mais tenebroso” para a democracia nos EUA.
A presidente da Câmara, deputada democrata Nancy Pelosi, exigiu que os responsáveis pela morte do policial sejam “levados perante a Justiça”. Ela acrescentou que a morte de Sicknick, de 42 anos, “nos faz lembrar de nossa obrigação para com aqueles a quem servimos: proteger nosso país de todas as ameaças externas e domésticas”.
Segundo testemunhas, Sicknick foi golpeado na cabeça com um extintor de incêndio por um invasor, chegou a ser levado a um hospital, mas não resistiu. Ele havia servido na Guarda Aérea Nacional de Nova Jersey antes de se juntar à Polícia do Capitólio em 2008. Com Sicknick, chegaram a cinco os mortos durante o assalto ao Congresso dos EUA. Os outros quatro eram trumpistas, uma veterana da Força Aérea, que morreu atingida por um disparo no pescoço, um invasor que despencou ao escalar um andaime e dois, por parada cardíaca.
O demissionário comandante da polícia do Capitólio, Steven Sund, disse em comunicado que mais de 50 de seus agentes saíram feridos, vários deles internados em estado crítico, após “ativamente atacados” com canos de metal e outras armas, pelos invasores. “Eles queriam entrar e causar o maior dano possível”, acrescentou.
RENÚNCIAS EM SÉRIE
Sund aceitou renunciar a partir do dia 16, após duras críticas de Pelosi e de outros líderes parlamentares ao despreparo da polícia legislativa diante do assalto das hordas de supremacistas brancos, adeptos do nazismo, negacionistas da vacina e delirantes da seita QAnon.
Pelosi havia feito questão de destacar o empenho dos agentes na proteção dos parlamentares e das dependências do Capitólio, em contraste com a falta de “liderança” ou, até mesmo, leniência, diante dos invasores, de parte do comando da polícia legislativa.
“Mr. Sund nem mesmo entrou em contato conosco por telefone”, acrescentou a presidente da Câmara, assinalando que estava exigindo a renúncia dele. O presidente eleito Biden chamou os invasores de “terroristas domésticos”.
Outros responsáveis pela segurança do Congresso dos EUA também se viram forçados a renunciar, além de Sund – o Sargento de Armas do Senado, Michael Stenger (a pedido do líder republicano Mitch McConnell), e o Sargento de Armas da Câmara, Paul Irving.
Dois deputados democratas que lideram o comitê que supervisiona o orçamento da polícia legislativa, Rosa DeLauro e Tim Ryan, pediram que “a turba que atacou a Casa do Povo e aqueles que os instigaram sejam plenamente levados perante a lei”, como resposta à “morte sem sentido” de Sicknick. Deputados republicanos também repudiaram o assassinato do policial.
Também a prefeita de Washington, Muriel Bowser, pediu que haja uma investigação a fundo para punir exemplarmente os invasores e os instigadores.
GOVERNADOR HOGAN
Na quinta-feira, o governador republicano do estado de Maryland, Larry Hogan, conhecido opositor de Trump no partido, em uma coletiva de imprensa deu detalhes sobre quão perto esteve a situação no Congresso dos EUA de desandar.
Ele relatou como o líder democrata da Câmara, Steny Hoyer, deputado por Maryland, falou com ele, desde o porão do Capitólio, pedindo o envio da Guarda Nacional, cuja autorização supostamente teria sido dada pelo Pentágono.
“Ele estava gritando do outro lado da sala para Schumer [líder democrata no Senado], e eles iam e vinham dizendo que ‘nós temos a autorização’ e eu estou dizendo: não temos”.
A Guarda Nacional de Maryland, para entrar em território federal (a capital, Washington), precisava de autorização do Pentágono, estava pronta para ir, mas a autorização não era dada.
Só “duas horas depois”, de acordo com o governador Hogan, ele recebeu o que chamou de “uma chamada ‘do nada’, não do secretário de Defesa [o interino, recém-nomeado por Trump], não através do que seria um canal normal”, mas do secretário do Exército, Ryan McCarthy, que deferiu o envio da Guarda Nacional.
Segundo outras fontes, foi preciso que a liderança democrata conseguisse acionar o Estado-Maior Conjunto, que falou com o vice-presidente Mike Pence, e foi por esse caminho que o cerco trumpista ao Capitólio foi desbaratado.
O presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, que liderou a acusação contra Trump no impeachment de 2019, disse em uma declaração na sexta-feira que Trump “acendeu o estopim que explodiu na quarta-feira no Capitólio. Cada dia que ele continuar no cargo, ele é um perigo para a República”.