A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) agendou somente para o mês de março a vistoria das fábricas que poderão produzir no Brasil a vacina russa contra o coronavírus, a Sputnik V.
A agência é atualmente presidida por Antonio Barra Torres, fiel bolsonarista, que cria entraves burocráticos para impedir a aquisição de imunizantes. A gestão da Anvisa não vê problemas em, no meio da maior crise sanitária da história brasileira, agendar com um prazo de quase 30 dias a vistoria às fábricas das vacinas.
A eficiência lesmar da agência ocorre num momento crítico, onde diversas cidades brasileiras já estão paralisando as campanhas de imunização por falta de vacinas. Enquanto isso, o Brasil registra a maior média móvel de mortes desde o início da pandemia, com 1.102 mortes ao dia. Até esta segunda-feira, registramos 239.895 mortes por Covid-19.
O mesmo Barra Torres também não se intimida ao defender o veto presidencial ao texto aprovado pelo Congresso Nacional da MP que prevê a autorização para uso emergencial, ou definitivo, em um prazo de cinco dias, dos imunizantes que tiverem sido autorizados pelas agências reguladoras de países como os EUA, Inglaterra, a União Européia, Rússia, China, Japão ou Argentina.
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A primeira vistoria, agendada para os dias 1 e 5 de março, será nas instalações da Precisa Farmacêutica, representante do laboratório indiano Bharat Biotech no país, que pretende trazer para o Brasil a vacina Covaxin.
A vistoria na fábrica da União Química, parceira brasileira do Instituto Gamaleya, da Rússia, que tenta, desde dezembro do ano passado, dar início ao processo de registro para uso emergencial da vacina, foi marcada para acontecer entre 8 e 12 de março. A fábrica da União Química fica em Guarulhos (SP).
Chama a atenção que a vacina Covaxin, que deverá ter o laboratório visitado primeiro pela Anvisa, não se encontra nos planos de aquisição estabelecidos pelos órgãos públicos brasileiros, mas sim, num plano empresarial de comercializar vacinas na rede privada de saúde. Segundo a Associação Brasileira das Clínicas Particulares, em São Paulo, já há uma pré-venda de doses do imunizante a R$ 1.400,00 a dose.
Nenhum dos dois imunizantes tem pedido para uso emergencial ou aplicação em massa no país autorizado pela Anvisa. No entanto, a inspeção das fábricas antes do pedido formal é necessária para o processo de análise e de aprovação para a aplicação no Brasil. Caso as fábricas estejam de acordo com as normas da Anvisa, elas receberão o Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF).
No último dia 8, a Pfizer/Biontech, pediu o CBPF para três locais de fabricação. O laboratório tem outras quatro fábricas certificadas pela Anvisa. Atualmente, além da Pfizer, os produtores de três vacinas – AstraZeneca, Janssen e CoronaVac – têm fábricas aprovadas pela Anvisa. No entanto, somente as vacinas da AstraZeneca e CoronaVac estão com o uso emergencial liberado pelo órgão. Entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, os produtores da AstraZeneca e da vacina da Pfizer pediram o registro definitivo à agência.
FALTA DE VACINAS
Ao menos sete capitais brasileiras já relataram preocupação com o fim dos estoques de vacinas contra a Covid-19 e a possível suspensão das campanhas de vacinação para pessoas que não receberam a primeira dose.
A situação se agrava no Rio de Janeiro, onde ocorrerá a paralisação da imunização já na próxima quarta-feira (17) e ainda se repete em outras cidades, como Salvador (BA), Manaus (AM), Ananindeua (PA), Juazeiro do Norte (CE) e Ourinhos (SP).
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De acordo com números compilados pelo consórcio de veículos de imprensa com base em dados das secretarias estaduais de Saúde, até agora, apenas 2,11% da população brasileira recebeu a primeira dose de uma vacina contra a Covid-19 e 0,05% as duas, segundo os números levantados pelo consórcio de veículos de mídia.
Há ainda 6,53 milhões de doses prontas para uso no Brasil. No entanto, 70% delas devem ser aplicadas em quem já tomou a primeira dose. Dessa forma, se mantido o ritmo atual de imunização, de cerca de 250 mil doses por dia, o estoque se esgotaria em oito dias para novos vacinados. Assim, até a chegada das novas doses previstas, o país ficaria seis dias apenas aplicando a segunda dose em que já recebeu a primeira.
A falta de vacinas também atinge Florianópolis e Curitiba. Na capital do Paraná, a Prefeitura estima que as doses disponíveis devem durar somente até quarta-feira. A mesma situação atinge Cuiabá, Aracajú e Natal.
Em Salvador, as autoridades suspenderam a vacinação de agentes de saúde e alteraram o cronograma de imunização de idosos, aplicando doses apenas para maiores de 85 anos. Não há mais previsão para vacinação em pessoas de 80 a 84 anos.
As vacinas foram distribuídas aos Estados conforme os números de pessoas enquadrados nos grupos prioritários – e não com base no número total de habitantes.
Os critérios são questionados por alguns estados, como Pará, Santa Catarina, Tocantins e Espírito Santo, que vêm criticando o governo. Outros, como a Bahia, buscam caminhos alternativos, como a compra da vacina russa Sputnik V.
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