Os governadores que se reuniram com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na sexta-feira (26), via videoconferência, criticaram a política externa brasileira, conduzida por Ernesto Araújo, o comitê federal formado por Bolsonaro para gerir a pandemia e defenderam 2 milhões de doses por dia da vacinação, quando o governo propõe 1 milhão.
Após a videoconferência com os governadores, Bolsonaro foi até a residência oficial de Rodrigo Pacheco para uma visita.
Após a vista, Pacheco disse que relatou a Bolsonaro os pedidos e críticas dos governadores.
Pacheco informou que o comitê federal vai se reunir na próxima segunda-feira (29). Disse ainda que vai falar com o grupo da necessidade de se ouvir os governadores que ficaram de fora do comitê, apenas sete foram convidados, uma crítica pesada feita pelos chefes de executivos estaduais na reunião com Pacheco.
Segundo Pacheco, Bolsonaro precisa assumir uma “coordenação política” das medidas que envolvam a pandemia, outra crítica dos governadores.
“Fizemos uma compilação das ideias dos governadores, basicamente envolvendo a questão da coordenação nacional que, de fato, precisa existir atrás da presença do presidente da República, de assumir essa coordenação política, igualmente do credenciamento ao ministro da Saúde para que o ministro possa fazer essa coordenação técnica, com base na ciência, com base na medicina, com ações que sejam efetivas”, disse o presidente do Senado.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), criticou a exclusão dos governadores no tal comitê formado por Bolsonaro e pediu respeito à federação. Ele enfatizou e quase fez um desenho para Bolsonaro entender ao dizer que o país é feito pelos Estados e municípios, e a União existe como resultado dessas esferas. “Essa federação precisa ser reconhecida”, afirmou.
“Temos um duplo problema. A ausência do presidente da República na coordenação, como o presidente do Senado já destacou, e isso dificulta muito o trabalho”, avaliou Eduardo Leite.
“Somos governadores nos esforçando para articular como nação, mas estamos em um mesmo nível hierárquico. O presidente é um e somos 27. Um presidente deveria coordenar e liderar o processo, e ele não só se omite como lidera na direção contrária, enfrenta, confronta e nos faz perder enorme energia não só pelos ataques que sofremos como pelas mentiras que temos que desmentir”, completou Eduardo Leite.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também questionou a ausência dos governadores no comitê.
“Na reunião com o presidente do Senado, demonstrei os erros do decreto presidencial de hoje e insisti na necessidade de um verdadeiro Pacto Nacional contra o coronavírus”, informou Flávio Dino pelo Twitter.
“Comitê anticovid excluindo Estados e municípios? Qual a lógica disso, a não ser criar mais confusão? Mais uma agressão desnecessária e violadora do princípio da lealdade federativa”, questionou o governador do Maranhão.
Para o governador, o governo federal “mostra mais uma vez a sua irresponsabilidade diante da maior crise sanitária da história do Brasil” ao rejeitar a proposta formulada pelos governadores de um Pacto Nacional pela Vida e pela Saúde.
“Registrei que o Decreto 10.659 não criou coordenação NACIONAL, na medida em que exclui Estados e municípios. Propus que o Senado tenha um verdadeiro comitê nacional, inclusive com especialistas da área de saúde”, destacou Dino.
Representando o governador de São Paul, João Doria (PSDB), o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM) também criticou o governo federal. Ele declarou que “antes tarde do que nunca” a criação de um comitê federal de combate à pandemia. “Precisou passar um ano da pandemia, mais de 300 mil brasileiros mortos, para termos alguma iniciativa de coordenação nacional. Quero cumprimentar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco por essa iniciativa”, observou.
Ele cobrou um aumento da taxa de vacinados no país com urgência e destacou que atualmente quase somente a vacina do Butantan está cumprindo um papel na vacinação.
Segundo ele, a cada 10 brasileiros, nove são imunizados com a vacina do Instituto Butantan. “A população quer a vacina no braço e comida no prato. Quem tem salvado o Brasil é o Butantan. O primeiro pedido foi que tivéssemos um cronograma verdadeiro e sincero do Ministério da Saúde (para vacinação), e não as falhas que estamos assistindo a todo momento, com prorrogação de entregas da AstraZeneca, prorrogação da Fiocruz”, disse.
“Entendemos que o momento é delicado, vamos compreender, mas pedimos um calendário sincero. Segundo ponto, a coordenação da compra de insumos, seja de medicamento, seja de oxigênio, nós tínhamos o aprendizado da primeira onda (de contaminação) no tocante aos respiradores e à lei de oferta e procura. Isso volta a valer. Os remédios subiram de preço. Às vezes sobra em um lugar e falta em outro. É preciso uma coordenação nacional em relação aos remédios. E o terceiro ponto é o credenciamento de leitos de UTI”, cobrou. Garcia reclamou que é preciso ir ao Judiciário para obrigar o Ministério da Saúde a habilitar leitos de UTI para pacientes com coronavírus.
O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que coordena a temática da Covid-19 no Fórum dos Governadores, criticou a ausência dos Estados e municípios no comitê federal da pandemia.
“O tema principal é vacinas, ao que propusemos que possamos fazer uma agenda em conjunto com o secretário da Organização Nacional das Nações Unidas, para que possamos ter a entrega de vacinas, a sensibilidade do mundo para ajudar o Brasil com mais vacinas”, afirmou o governador do Piauí.
Para ele, para avançar no processo de vacinação, o comitê precisa articular o tema junto à organismos internacionais.
“Estamos pedindo agenda em conjunto com a OMS, Opas, Gavi, para mais vacinas. Ainda, trabalhar com o Reino Unido e estreitar o diálogo com a China, Índia, Rússia”. Segundo Dias, é necessário “sensibilizar o mundo para ajudar o Brasil, neste instante, com mais vacinas”.
As reivindicações do governadores são:
1) meta de ter 1 milhão de brasileiros vacinados por dia até o meio de abril e 2 milhões até maio;
2) acompanhamento, de forma integrada entre União e Estados, do cumprimento dos contratos e cronogramas de entregas de insumos e vacinas por outros países;
3) pedido de agenda com o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres;
4) apoio aos municípios em relação à Atenção Básica de Saúde, à distribuição de máscaras e kits de higiene, à implementação de barreiras para entrada nas cidades e também barreiras sanitárias nos aeroportos.
Após a reunião com os governadores e depois com Bolsonaro, Rodrigo Pacheco, transmitindo as preocupações dos chefes dos executivos estaduais, disse que voltou a falar com Bolsonaro sobre a atuação do ministro das Relações Exteriores e reiterou as suas críticas à diplomacia brasileira no enfrentamento da crise sanitária.
“Consideramos que a política externa do Brasil ainda está falha, precisa ser corrigida. É preciso melhorar a relação com os demais países, inclusive com a China, porque a China é o maior parceiro comercial que temos do Brasil”, disse Pacheco.
“Então, eu considero que, para além de uma avaliação pessoal sobre o desempenho do ministro, vamos falar sobre ideias, sobre propostas e comportamentos. E isso precisa melhorar na relação externa do Brasil”, afirmou.