“Se esse cidadão continuar a reincidir [coagindo testemunha], não temos outra coisa a fazer senão requisitar a prisão dele”, acrescentou o relator da CPI. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, ameaçou o servidor do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, por este denunciar corrupção dentro do governo com a compra da Covaxin
O relator da CPI da Covid-19, Renan Calheiros (MDB-AL), pediu ao presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), que seja marcado o depoimento do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni.
Na avaliação de Aziz, ficou claro que Onyx tentou ameaçar testemunhas e atrapalhar investigação ao fazer discurso em defesa do governo.
Isso ocorreu na reunião desta quinta-feira (24) que ouve os especialistas, o pesquisador da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e epidemiologista Pedro Hallal e a diretora executiva da Anistia Internacional Brasil e representante do Movimento Alerta, Jurema Werneck.
A CPI, instalada em 27 de abril no Senado, investiga as ações, omissões e inações do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus.
“PRESSÃO ANORMAL”
Em pronunciamento, na noite de quarta-feira (23), Lorenzoni disse que a PF (Polícia Federal) vai investigar o deputado Luís Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, Luís Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde que relatou ao MPF (Ministério Público Federal) ter sofrido “pressão anormal” para agilizar a compra da vacina Covaxin.
De acordo com o emedebista, o ministro do governo está coagindo testemunhas. Se ele reincidir, declarou Calheiros, ele vai pedir a prisão do ministro.
“ELE COMETE UM CRIME”
“Quero expressar a minha mais completa repugnância pela bravata do Onyx Lorenzoni, com despudorada coação de duas testemunhas e desta CPI. Além de uma intromissão indevida de uma investigação de outro Poder, ele comete um crime”, criticou Renan.
“É um caso clássico de coação de testemunha e de dificuldade ao avanço da investigação. Não podemos submeter esta CPI, uma instituição da República, expressão do Parlamento, que investiga se era possível evitar parte destas mais de 507 mil vidas perdidas, entendo e peço a Vossa Excelência que possamos avaliar este requerimento hoje mesmo”, acrescentou.
“Se esse cidadão continuar a reincidir, não temos outra coisa a fazer senão requisitar a prisão dele”, acrescentou.
ENTENDA O CASO
Em pronunciamento na noite de quarta-feira (23), o ministro afirmou que o Planalto pediu à PF (Polícia Federal) a abertura de investigação sobre as declarações do deputado Luis Miranda (DEM-DF), que é irmão do servidor do Ministério da Saúde que alega que foi pressionado a assinar documentos para a importação da Covaxin.
Onyx também disse que o governo vai solicitar procedimento administrativo disciplinar para apurar a conduta do funcionário público. O deputado e o irmão vão prestar depoimento nesta sexta-feira (25) à CPI.
Para o presidente da CPI, discurso de Onyx traz série de incoerências. O ministro, por exemplo, não desmentiu que Luis Miranda e o irmão dele tivessem alertado Bolsonaro sobre as possíveis irregularidades. Aziz cita, ainda, que é estranho o fato de o governo não ter tomado qualquer providência após a denúncia.
Na avaliação do senador, a própria negociação da Covaxin envolve fatos suspeitos, como a rapidez das tratativas, o alto custo e a existência de intermediário na compra da vacina, que sequer tinha aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
“DERRUBAR A REPÚBLICA”
Omar Aziz afirmou, ainda, que no primeiro contato com Luis Miranda, o deputado disse ter informações que poderiam “derrubar a República”.
“Entendo que se um deputado federal se oferece para falar sobre um assunto tão delicado, eu tenho obrigação de ouvi-lo”, disse Aziz. “É uma denúncia que pode dar muita dor de cabeça para qualquer governante”.
M. V.
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