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Segundo a nota da Davati, “ele apenas intermediou a negociação da empresa com o governo, apresentando ao senhor Roberto Dias.” O representante denunciou o esquema de propina de US$ 1 por dose apresentado pelo diretor de logística do MS
A linha adotada pelos bolsonaristas da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Covid) de que o representante comercial, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, não representava a Davati Meical Supply caiu por terra nesta quinta-feira (1) com a divulgação pela empresa de nota confirmando que Dominguetti efetivamente representou a empresa nas negociações com o Ministério da Saúde.
NOTA CONFIRMA NEGOCIAÇÃO
A empresa americana Davati Medical Supply, uma distribuidora de medicamentos com sede no estado do Texas, confirmou na nota que o empresário Luiz Paulo Dominguetti Pereira intermediou negociações de doses de vacina contra Covid-19 com o Ministério da Saúde do Brasil. A empresa acrescentou que, apesar dele não possuir vínculos empregatícios com a empresa, tratava-se de um “vendedor autônomo” autorizado.
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“Nesse caso, ele apenas intermediou a negociação da empresa com o governo, apresentando ao senhor Roberto Dias”, afirmou a direção da Davati, se referindo ao agora exonerado diretor de Logística do Ministério da Saúde, que condicionou o avanço das negociações ao pagamento de propina correspondente a um dólar de cada uma de 200 milhões de doses da vacina que a empresa estava oferecendo. O total de doses oferecidas pela Davati era de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.
OFERTA DE VACINAS
A empresa também confirmou que, após seu representante oficial no Brasil, Christiano Alberto Carvalho, informar sobre a necessidade de vacinas no país, contatou o governo brasileiro, por iniciativa própria, para verificar se havia interesse em doses da AstraZeneca e se disponibilizou para intermediar a negociação.
Documentos que estão de posse da CPI também confirmam que o primeiro contato entre a empresa e o ministério teria acontecido por e-mail, em 26 de fevereiro. O contato foi através de e-mail enviado por um executivo a Roberto Dias, diretor de logística do ministério. “No mesmo dia, o representante da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, recebeu retorno do e-mail, por parte do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, confirmando interesse no lote de vacinas e agendando encontro para discutir sobre a negociação.”
A Davati prossegue: “Christiano Alberto Carvalho compareceu ao Ministério da Saúde para tratar sobre a possível negociação, que no decorrer dos dias seguintes não evoluiu, visto que a empresa não recebeu retorno do governo brasileiro com formalização do interesse ou perspectiva de fechamento do negócio, com uma Carta de Interesse.” Na verdade quem foi ao Ministério representando a empresa no dia 26 de fevereiro às 15h foi Luiz Paulo Dominguetti Pereira. Ali ele confirmou que não aceitaria pagar propina e a proposta não andou. Ele foi colocado numa sala e recebeu um telefonema perguntando se tinha mudado de posição. Respondeu que não e foi dispensado.
PEDIDO DE PROPINA
O pedido de propina feito pelo diretor de logística do MS, Roberto Dias, se deu no dia anterior, 25 de fevereiro deste ano, em jantar no restaurante Vasto, localizado num shopping de Brasília. O depoente, Dominguetti Pereira, relatou que se encontrou com o diretor de logística do ministério juntamente com o com tenente-coronel Marcelo Blanco e outra pessoa, que ele não sabia quem era.
Dominguetti explicou que foi ao jantar a pedido do CEO da Davati, Christiano Alberto Carvalho. Segundo o depoente, ele representa a Davati no Brasil informalmente, em acerto com Christiano Carvalho, desde janeiro, e, formalmente, a partir de abril. Em seu relato, ele confirmou que, quando ouviu a proposta de propina do diretor do ministério, recusou de imediato a proposta e logo se retirou do jantar que, segundo ele, foi pago por Roberto Dias em dinheiro.
DEPOENTE ADMITE QUE PODE TER SIDO INDUZIDO SOBRE O ÁUDIO
Dominguetti falou sobre o áudio que apresentou no depoimento à CPI e admitiu que pode ter sido induzido a erro ao tentar relacionar o áudio a um suposto envolvimento do deputado Luis Miranda (DEM-DF) na negociação de vacinas. Indagado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) se pode, então, ter sido induzido a erro, Dominguetti confirmou.
Alessandro Vieira perguntou: “O senhor seguramente é a única pessoa até o momento neste país que ouviu aquele áudio e conseguiu identificar referência ao irmão do deputado. […] O senhor alega que foi induzido ao erro?” Dominguetti, então, respondeu: “Isso. A minha interpretação da mensagem não muda contextualização do áudio, a prova. A perícia vai provar que recebi áudio do Christiano.”
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) insistiu na questão e, mais uma vez, Dominguetti disse que pode ter sido induzido. “Eu recebi o áudio e acreditei no áudio de boa-fé. Me foi postado e induzido a acreditar que eram vinculados, que eram postagens próximas, uma embaixo da outra, dando a entender a mim que eram vinculados ao mesmo fato. A forma que eu recebi o áudio, que ela sugeria, uma ligação, que eram as mesmas tratativas”, afirmou Luiz Paulo Dominguetti.