“Hoje fica difícil negar que ele tem uma estratégia, claramente. E ela não é boa. Isso se depreende não tanto do discurso, que é agressivo e tosco, mas da prática”, acrescentou o economista
Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, afirmou neste sexta-feira (10), em entrevista à Folha de S. Paulo, que Jair Bolsonaro “é fera ferida e acuada diante de seus baixos índices de aprovação e deve tornar constantes os ataques à democracia, como os do 7 de Setembro”. “Meu receio a essa altura é que isso será uma constante daqui até o fim deste governo”, observou.
“Eu interpreto que a ausência de violência nas ruas pode ter sido tática. Não posso acusar ninguém, mas era a minha expectativa que, se tivesse havido violência, teria sido algo muito negativo para o governo. Como os índices de aprovação do governo vêm caindo e parecem muito restritos ao grupo mais próximo, e insuficientes para uma reeleição, começa a ficar claro que podemos estar diante de um comportamento de fera ferida, de fera acuada. E isso é sempre um perigo”, alertou Fraga.
“Eu interpreto que a ausência de violência nas ruas pode ter sido tática. Não posso acusar ninguém, mas era a minha expectativa que, se tivesse havido violência, teria sido algo muito negativo para o governo”
Na opinião do economista, esse comportamento deve afetar a recuperação da economia, “retraindo investidores, elevando as taxas de juros e pressionando o dólar e a inflação”. “Do ponto de vista econômico, é absolutamente paralisante”, afirma. Segundo ele, a esperada recuperação do setor de serviços, que representa 70% do PIB (Produto Interno Bruto), vai acontecer em um ambiente muito adverso para o emprego, para o empreendedorismo e para o investimento em geral”.
“Hoje fica difícil negar que ele tem uma estratégia, claramente. Não é boa, nem a que a gente precisa, mas ele tem”, prossegue Armínio Fraga. “Isso se depreende não tanto do discurso, que é agressivo e tosco, mas da prática. Essa estratégia está dando errado e é muito perigosa. E o mercado, de certa maneira, responde a isso”, acrescentou.
“Hoje fica difícil negar que ele tem uma estratégia, claramente. Não é boa, nem a que a gente precisa, mas ele tem”
“Temos um aumento significativo das taxas de juro e uma inflação que assusta, principalmente com nosso histórico, que não permite brincar com isso. Sem uma âncora fiscal, o que o Banco Central pode fazer também é limitado. Isso tudo se espelha no dólar, que está muito mais caro do que poderia estar num ambiente mais calmo, ainda de preço de commodities favorável”, destaca Fraga.
O economista avaliou que a polarização política atual não é boa para o país e defendeu um terceiro caminho na sucessão presidencial. Descartando Bolsonaro, pelos motivos que ele já apresentou, Fraga também criticou Lula. “Torço para que ele não ganhe e acho que está na hora de aparecer outra alternativa. E isso seria importante, mesmo que não ganhe, para enriquecer o debate”, afirmou o dono do Gávea Investimentos.
“Precisamos neste momento é sobreviver a essa sandice que está aí”
“O Brasil vai ter, outra vez, a oportunidade de buscar um caminho melhor. Mas não dá para nos iludirmos. Para que dê certo, muita coisa vai ter que acontecer. E a política vai ter de encontrar alguma forma mais produtiva de trabalhar. Mas o que precisamos neste momento é sobreviver a essa sandice que está aí. Essa é a ordem do dia. Precisamos pensar e buscar caminhos. O Brasil precisa estar pronto, independente de quem ganhe, desde que não seja essa turma atual”, afirmou.