Se o primeiro dia de carnaval teve como destaque o tema da cultura como elemento de luta e resistência, o segundo dia não deixou nada a desejar. Críticas à atuação do governo durante a pandemia, às desigualdades sociais e o resgate da cultura negra brasileira tomaram as avenidas em mais um dia de belíssimos desfiles das escolas no Rio e de São Paulo.
Entre os destaques da segunda noite, a Rosas de Ouro chamou a atenção, com o enredo Sanitatem. A escola da Brasilândia tratou dos rituais de cura destacando os diferentes caminhos para curar todos os males através da fé, da magia, do divino e do poder de cura da cultura popular, em especial, do samba.
Defendendo a importância da ciência, a escola homenageou os profissionais da saúde. Se Bolsonaro se recusou a tomar a vacina contra a Covid-19, Rosas de Ouro não só o fez se vacinar na avenida, como o transformou em jacaré diante do público. A sabotagem de Bolsonaro à vacinação foi criticada durante o desfile, acompanhado de sonoros “Fora Bolsonaro” da arquibancada. O desfile contou, ainda, com a participação da deputada estadual e grande figura do samba, Leci Brandão (PCdoB), como destaque em um dos carros alegóricos.
Outro destaque deste segundo dia de desfiles foi a Gaviões da Fiel. A escola levou para o Anhembi a desigualdade social como tema, denunciou o fascismo e convocou o povo a defender a democracia. Com o enredo “Basta”, a escola levou à avenida o processo da escravidão, e o enriquecimento dos senhores de engenho por meio da exploração do trabalho de homens e mulheres escravizados.
O carro lembrou tragédias como a do menino Miguel, em Recife, e a falta de oxigênio para tratar pacientes internados com coronavírus. Enquanto isso, na parte de cima, a cena de um banquete trazia a representação de uma elite alheia ao sofrimento dos mais pobres.
A Águia de Ouro levou para a avenida o samba-enredo chamado Afoxé de Oxalá – No Cortejo de Babá, Um Canto de Luz em Tempo de Trevas. A escola denunciou o racismo religioso que demoniza as crenças das religiões negras brasileiras.
A Mocidade Alegre, por sua vez, celebrou a história da cantora brasileira Clementina de Jesus, uma das grandes mulheres do nosso samba, com o samba-enredo “Quelémentina, Cadê Você?”. A Mocidade levou para a avenida uma grande árvore mangueira, representando o morro da Mangueira, e a águia da Portela logo atrás, representando as rodas de samba carioca frequentadas por Clementina.
No Rio, a resistência negra também foi destaque entre as escolas. A Portela usou a árvore gigante africana baobá para falar de resistência, longevidade, sobrevivência e raízes profundas.
Tia Surica, ícone da Portela, foi destaque, representando o respeito à ancestralidade. O sambista Monarco, presidente de honra da escola, falecido no ano passado, aos 88 anos, também recebeu homenagem. O rosto de Monarco estampou os instrumentos e as roupas dos integrantes da bateria.
A Vila Isabel homenageou Martinho da Vila, com o enredo “Canta, canta, minha gente! A Vila é de Martinho!”, exaltando a vida e obra do sambista, presidente de honra da escola. Martinho desfilou no chão, junto com parentes e amigos.