Em nota, a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED) repudia qualquer proposta de privatização da estatal
A Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED) repudiou, nesta sexta-feira (13), “qualquer proposta de privatização da Petrobrás e gestões temerárias que enfraquecem o seu papel estratégico em prol da soberania e desenvolvimento econômico do Brasil”. Em nota, os economistas destacam que, ao defender a privatização da Petrobrás, o governo Bolsonaro propõe que o povo brasileiro seja submisso aos interesses de outras nações e movimentações especulativas dos capitais financeiros.
“O abandono da soberania nacional se agravará ainda mais se os projetos de privatização completa da empresa se concretizarem. Se as forças vivas do país não se insurgirem contra esse modelo de subordinação a um mercado profundamente dominando por interesses geopolíticos de outras nações e movimentações especulativas dos capitais financeiros. Esse modelo coloca os consumidores brasileiros à mercê dos importadores de derivados, com riscos de abastecimento de produtos indispensáveis para o crescimento do país, principalmente se os preços internacionais continuarem nos patamares que estão, em consequência das movimentações de interesses nacionais de outros países”, avaliaram os economistas.
“Subordinaremos a soberania nacional a empresas privadas, que controlarão o fornecimento do país, abrindo mão de ter o principal instrumento para uma política de autonomia de garantia de fornecimento de energia, indispensável para a retomada do crescimento. A Petrobrás ficará submissa aos interesses dos acionistas de curto prazo que, além do controle objetivo que hoje têm da empresa, passarão a ter o direito formal de conduzir os destinos do país. Petróleo não é uma mercadoria qualquer e não pode apenas ficar dependendo dos interesses privados. Todas as grandes potências do mundo já nos ensinaram isso”, frisaram.
Na última quinta-feira (12), o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, entregou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, o pedido para iniciar os estudos de privatização da Petrobrás e da Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) – estatal responsável por comercializar o óleo e o gás extraídos da camada pré-sal.
Para a ABED, tal ação é absurda. “Não há país que tenha grandes reservas de petróleo, capacidade de refino e amplo mercado doméstico de derivados que abandone sua soberania energética e se submeta as flutuações dos mercados”, afirmaram os economistas.
“Acontece assim com os EUA, que tem na garantia energética o principal balizador de sua política diplomática e de mobilização de suas Forças Armadas, utilizando todo o seu poder geopolítico para impedir qualquer ameaça ao fornecimento de petróleo e gás para os americanos. Suas empresas atuam em conjunto com seus soldados e diplomatas. O mesmo ocorre com os países do Oriente Médio, que utilizam seu enorme potencial de produção para se impor nos mercados mundiais. É assim com a China, grande consumidor do mundo, que amplia suas relações internacionais para garantir acesso ao petróleo e ao gás, além de ampliar sua capacidade de refino dentro do país, diversificando suas fontes de suprimento”, lembrou a ABED.
Leia a nota na íntegra abaixo.
EM DEFESA DA PETROBRÁS PÚBLICA, DA SOBERANIA E DO DESENVOLVIMENTO DO BRASIL
Não há país que tenha grandes reservas de petróleo, capacidade de refino e amplo mercado doméstico de derivados que abandone sua soberania energética e se submeta as flutuações dos mercados.
Acontece assim com os EUA, que tem na garantia energética o principal balizador de sua política diplomática e de mobilização de suas Forças Armadas, utilizando todo o seu poder geopolítico para impedir qualquer ameaça ao fornecimento de petróleo e gás para os americanos. Suas empresas atuam em conjunto com seus soldados e diplomatas.
O mesmo ocorre com os países do Oriente Médio, que utilizam seu enorme potencial de produção para se impor nos mercados mundiais. É assim com a China, grande consumidor do mundo, que amplia suas relações internacionais para garantir acesso ao petróleo e ao gás, além de ampliar sua capacidade de refino dentro do país, diversificando suas fontes de suprimento.
É assim com os países da Europa, que buscam desvencilhar-se da dependência do gás natural russo, orientando ações da OTAN na guerra Rússia-Ucrânia. É assim com a Venezuela, que sofre sanções dos EUA exatamente por ter uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
Não é assim com o Brasil. Temos no pré-sal a maior reserva de petróleo novo do mundo, um mercado interno de derivados que é um dos maiores do planeta e com uma capacidade de refino que era quase suficiente para atender as demandas nacionais de derivados. O atual governo desmontou a empresa que integrava do poço ao posto, que produzia, refinava, distribuía o petróleo e atuava estruturando o mercado de gás natural, incluindo a garantia de oferta de eletricidade através das suas térmicas a gás. Também era a principal fornecedora de biocombustíveis e de fertilizantes e atuava estrategicamente na petroquímica.
Um projeto de soberania energética estava por trás do modelo de atuação da Petrobrás. Um projeto de soberania nacional envolvia a criação de uma cadeia de supridores, localizados no Brasil, para atender as necessidades dos equipamentos críticos para o desenvolvimento dos projetos do pré-sal, do refino e da integração vertical da empresa. Criava-se assim uma política de geração de emprego e renda para os brasileiros.
Tudo isso vem se desmontando a partir de 2016, depois da derrubada da Presidenta Dilma. As leis, regulações, portarias e políticas foram sendo modificadas em direção a um modelo que transforma a pujança da Petrobrás em uma média empresa que apenas exporta petróleo cru, sem papel relevante no gás natural, saindo da produção em terra, diminuindo sua capacidade de refino, abandonando a distribuição de derivados e de gás de cozinha, paralisando os projetos de suas novas refinarias e deixando de atuar nos biocombustíveis, fertilizantes e petroquímica. A nova Petrobrás abre mão da soberania energética e se submete às flutuações de curto prazo dos mercados, garantindo alta lucratividade para os investidores, que desejam extrair o máximo de retorno no curto prazo, mesmo que isso custe a morte da empresa no médio e longo prazo, por insuficiência dos investimentos para seu crescimento.
O abandono da soberania nacional se agravará ainda mais se os projetos de privatização completa da empresa se concretizarem. Se as forças vivas do país não se insurgirem contra esse modelo de subordinação a um mercado profundamente dominando por interesses geopolíticos de outras nações e movimentações especulativas dos capitais financeiros. Esse modelo coloca os consumidores brasileiros à mercê dos importadores de derivados, com riscos de abastecimento de produtos indispensáveis para o crescimento do país, principalmente se os preços internacionais continuarem nos patamares que estão, em consequência das movimentações de interesses nacionais de outros países. Subordinaremos a soberania nacional a empresas privadas, que controlarão o fornecimento do país, abrindo mão de ter o principal instrumento para uma política de autonomia de garantia de fornecimento de energia, indispensável para a retomada do crescimento. A Petrobrás ficará submissa aos interesses dos acionistas de curto prazo que, além do controle objetivo que hoje têm da empresa, passarão a ter o direito formal de conduzir os destinos do país. Petróleo não é uma mercadoria qualquer e não pode apenas ficar dependendo dos interesses privados. Todas as grandes potências do mundo já nos ensinaram isso.
Muitas guerras, conflitos, derrubadas de governo mostram a importância do seu controle ao longo da História. O povo brasileiro não permitirá a continuidade da destruição da Petrobrás e se insurgirá contra esses vendilhões da pátria.
É por isso que a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia – ABED repudia qualquer proposta de privatização da Petrobrás e gestões temerárias que enfraquecem o seu papel estratégico em prol da soberania e desenvolvimento econômico do Brasil, ao mesmo tempo que inviabilizam o acesso da população à bens essenciais derivados do petróleo a preços módicos.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ECONOMISTAS PELA DEMOCRACIA