O HP entrevista Rene Vicente, vice-presidente nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil), presidente licenciado da CTB-SP e presidente do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores da SABESP e da CETESB), com três mandatos “de resistência à privatização”.
Rene é pré-candidato a deputado estadual e considera o fim do salário regional na SABESP – com diferença entre capital e interior do estado de 20% – sua maior conquista.
Segundo o dirigente sindical, “a carestia na vida prática atinge de frente o dia a dia do trabalhador, que tem que brigar por um prato de comida. Não adianta falar em desenvolvimento, em reindustrialização, se não enfrentarmos o problema imediato que atinge o trabalhador”.
A inflação contamina principalmente os produtos da cesta básica: o arroz, o feijão, o óleo. “Em um país que está entre os maiores exportadores de soja do mundo, como o povo não consegue comprar óleo? Em um país que está entre os maiores exportadores de alimentos do mundo, como o trabalhador não consegue se alimentar direito, não tem óleo para cozinhar o arroz e o feijão”, se indigna Rene. E cita que “uma lata de 900 gramas está 13, até 15 reais; A cenoura, 10 reais o quilo, com a quantidade de terras que tem o país. Isso é um absurdo. O café aumentou 45%. Fui comprar café, 25 reais, meio quilo. Nós não podemos admitir isso. Está afetando diretamente a vida do povo”.
“É por isso que as centrais assumiram a luta contra a carestia e estão montando comitês contra a fome no estado, para arrecadar alimentos”, afirmou.
Para Rene, “estamos vivendo hoje o que alguns economistas chamam de tempestade perfeita”. Citando o Dieese, lembra que são 12 milhões de desempregados, 4,8 milhões de desalentados, trabalhador que não tem mais condição de procurar emprego. Nesse 1º trimestre de 2022, a grande maioria dos acordos salariais, 75%, foram abaixo da inflação, apenas 15% foram acima. A fome atinge os lares brasileiros. São 20 milhões de brasileiros passando fome e 116 milhões com insuficiência alimentar. “Isso é a tempestade perfeita, ao mesmo tempo desemprego, juros alto e inflação, que já atinge os dois dígitos”.
DEMOCRACIA
Para Rene, “o fundamental é a defesa da democracia”. “Sem democracia, nós não temos voz. Hoje, a Constituição Cidadã é afrontada todo dia por esse desgoverno do Bolsonaro, que ameaça, agora, não aceitar o resultado das eleições, agride o TSE. A democracia é primordial para a sobrevivência dos movimentos sociais, portanto para uma educação de qualidade, a reforma agrária e acesso da população ao SUS”.
Rene declarou que tem sido muito importante a unidade das centrais sindicais na defesa da democracia. “Nosso 1º de Maio foi muito importante porque realizou esta unidade“.
DESENVOLVIMENTO NACIONAL
“Vejo que é a hora de virarmos a chave dessa crise econômica, política e sanitária, votando num projeto de desenvolvimento, de reindustrialização do país, com valorização do trabalho, com foco no bem-estar da população brasileira e na distribuição de renda. Que resgate o papel do Estado como indutor e alavanca da economia. Resgate o papel das estatais.
“Colocar a Petrobrás a serviço do povo brasileiro para poder comprar combustível barato. Não podemos admitir que uma empresa como a Eletrobrás, construída com a luta, o suor, o conhecimento e o sacrifício do povo brasileiro, seja entregue para o capital privado, voltado só para o lucro. Nós vimos aí o que é a lógica do lucro, do mercado, com o litro da gasolina custando até a 10 reais, a dona de casa pagando, em alguns lugares do país, até 160 reais por um botijão de gás, enquanto os acionistas, na maioria estrangeiros, lucraram 102 bilhões de reais o ano passado”.
“Temos que fazer como o presidente Lula diz. Precisamos abrasileirar o preço dos combustíveis. Colocar os Correios, o Banco do Brasil, o BNDES, a Caixa Econômica e demais estatais a serviço da nação. Agora, não temos mais tempo a perder. Esse é o verdadeiro patriotismo e não esse que vende tudo, desmata a Amazônia para beneficiar 0,91% da população. Nós queremos beneficiar 99,9%”.
FRENTE AMPLA
“Eu acredito que a pré-candidatura do Lula, se eleito, pode fazer tudo isso. Ela já tem uma boa amplitude. Trazer o Alckmin foi muito acertado. O centro do combate esse ano é derrotarmos o fascismo de Bolsonaro. É a democracia. Temos que conversar com todas as candidaturas progressistas e que querem a derrota do Bolsonaro. Temos que estruturar uma Frente Ampla e resgatar o Brasil para os brasileiros. Estou seguro que, se cumprirmos a nossa parte, o povo vai saber escolher o melhor para o Brasil”, afirmou Rene Vicente.
A PRÉ-CAMPANHA
Pré-candidato a deputado estadual pelo PCdoB, Rene destaca que “minha pré-campanha tem como carro chefe a luta contra a privatização, a defesa do saneamento, do meio ambiente e de transporte público de qualidade. Não pode privatizar a água potável. É um direito de todos reconhecido pela ONU”.
E segue: “Também é nossa prioridade defender os direitos trabalhistas. Precisamos nos proteger dos ataques que os trabalhadores vêm sofrendo nos últimos anos, principalmente depois do golpe de 2016, do governo Temer. Um ataque à CLT, com a terceirização indiscriminada e a tentativa de impedir que o trabalhador tenha acesso à Justiça Trabalhista e até aos sindicatos”.
A categoria fez o 10º Congresso o ano passado e decidiu apoiar candidatos trabalhadores. É a segunda vez que o Sintaema lança um candidato seu. Nivaldo Santana, que também foi presidente do sindicato, foi eleito deputado estadual durante três mandatos. Hoje, é Secretário Nacional do PCdoB e apoia Vicente.
CARLOS PEREIRA