Jair Bolsonaro fez um comício para mulheres, no Rio Grande do Sul, para tentar mudar sua imagem neste grupo, no qual é mais rejeitado, e falou que a liberação de armas é uma política de combate à violência contra as mulheres mais importante do que a Lei Maria da Penha.
Depois de dezenas de ataques contra mulheres, xingando jornalistas e falando contra seus direitos, Jair Bolsonaro conseguiu uma rejeição de 55% no grupo.
No evento em Novo Hamburgo, com público exclusivo de mulheres, Bolsonaro preferiu fazer propaganda de sua política pró-armas ao invés de defender mecanismos de combate à violência e de apoio às mulheres.
“Quando precisar trocar um pneu sozinha na rua e vier pessoas na sua direção, prefere ter na bolsa uma Lei Maria da Penha ou uma pistola?”, disse.
Suas ações que facilitaram o acesso à armas fizeram com que a taxa de mortes de mulheres por uso de armas de fogo subisse de 26% para 29% de 2020 para 2021.
Ele próprio sabe que as armas não garantem a segurança de ninguém. Em 1995, quando foi assaltado no trânsito, os ladrões aproveitaram para levar o revólver que o então deputado carregava.
Segundo Carmem Regina Ribeiro, representante da sociedade civil no Conselho dos Direitos da Mulher do Paraná, “é notório e indiscutível que a presença muito mais disseminada da arma de fogo de posse de um grande número de pessoas facilita muito o seu uso em qualquer ambiente, como a própria casa”.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) criticou a fala do “mito”.
“A Lei Maria da Penha já salvou mais de 300 mil vidas. Mas, o presidente acha que ela é inútil. Prega que violência se combate com mais violência. De um defensor da tortura e de torturadores, isso é esperado. De um chefe de estado, é inadmissível”, apontou a deputada.
Na verdade, o que Bolsonaro quer é sabotar a Lei Maria da Penha porque é para a proteção das mulheres, desprezadas por ele.
Como disse a advogada e apresentadora Gabriela Prioli, que recebeu ataques e ameaças de Bolsonaro e seus apoiadores, “não importa o trabalho de imagem que tentam fazer seus assessores e apoiadores políticos, o ódio do Bolsonaro às mulheres é tão forte, mas tão forte, que ele não consegue manter o script”.
A lei 11.340 – Lei Maria da Penha – foi sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de agosto de 2006. Ela tem 46 artigos distribuídos em sete títulos, e criou mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher de acordo com a Constituição Federal (art. 226, § 8°) e os tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro (Convenção de Belém do Pará, Pacto de San José da Costa Rica, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher).
REJEIÇÃO AUMENTOU
A pesquisa Datafolha divulgada no final de setembro mostrou que a rejeição de Bolsonaro entre as mulheres subiu de 53% para 55%. Durante o debate entre presidenciáveis da Band, Bolsonaro atacou a jornalista Vera Magalhães e mentiu sobre iniciativas do governo sobre os direitos das mulheres.
Jair Bolsonaro vetou lei que determinava a distribuição gratuita de absorventes para mulheres pobres. Mesmo seis meses depois que o veto foi derrubado pelo Congresso Nacional, o governo não distribuiu nenhum absorvente.
Quando era deputado, falou que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque “ela é muito feia, não faz meu gênero. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”.
Ele também defendeu que os patrões têm o direito de não empregarem mulheres ou empregar com salários mais baixos por conta da licença-maternidade.
“Quando o cara vai empregar, entre um homem e uma mulher jovem, o que que o empregador pensa? ‘Poxa, essa mulher aqui tá com aliança no dedo, não sei o quê, ela vai casar, é casada, daqui a pouco engravida, seis meses de licença-maternidade’. (…) Quem que vai pagar a conta? É o empregador”.
“Eu não empregaria com o mesmo salário”, falou.
Na campanha presidencial de 2018, outra fala de Bolsonaro repercutiu e fez com que a rejeição entre as mulheres subisse. Ele falou que sua única filha mulher, a Laura, é fruto de uma “fraquejada”.
Jair Bolsonaro também atacou jornalistas mulheres diversas vezes. O caso mais emblemático foi o de Patrícia Campos Mello, que fez uma reportagem sobre o esquema de disparo de mensagens em massa da campanha de Bolsonaro em 2018.
Ele falou que Patrícia se insinuou sexualmente para uma fonte para conseguir atacá-lo. “Ela queria dar um furo a qualquer preço contra mim”, falou em tom jocoso e com duplo sentido.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) decidiu, por quatro votos contra um, que Jair Bolsonaro cometeu crime de ofensa à honra contra a jornalista.