Ambos os partidos concordaram em formar bloco na Câmara, que vai somar 31 deputados. Vai ser a oitava força política da Casa
As tratativas estão em curso. PSB e PDT, duas siglas aliadas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), darão, nesta semana, os passos iniciais nas articulações para formar federação. Estão de olho nas eleições municipais de 2024 e no pleito de 2026.
O PSB vai reunir a Executiva nacional, nesta quinta-feira (9), e vai apresentar, segundo as lideranças do partido, formalmente a possibilidade de se juntar ao PDT por, no mínimo, 4 anos, conforme prevê a lei.
Entre os pedetistas, o movimento tem recebido sinalizações positivas.
Os dois partidos já concordaram em formar um bloco na Câmara, que somará 31 deputados — 17 do PDT e 14 do PSB. A federação teria ainda 7 senadores.
Na Câmara, se este formato se concretizar, a federação com PDT e PSB vai ser a oitava força política, atrás de PL (99), Federação PT, PCdoB e PV (81), União (59), PP (49), MDB (42), Republicanos (42) e PSD (42).
No Senado, o PDT tem três representantes, e o PSB, quatro. Seria a quinta força política, atrás do PSD (16), PL (12), MDB (10), União Brasil (9) e PT (8). E ficaria à frente do PP (6), Podemos (4), Republicamos (4) e PSDB (3). E reforçaria a base de apoio a Lula na Casa.
Este novo formato de federação partidária pegou. União Brasil, PP e Patriota também estão em tratativa para se alinharem em federação. As conversas estão em curso.
CAMINHOS PARA A SOBREVIVÊNCIA
Segundo o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, o objetivo na reunião desta quinta-feira é “discutir hipóteses” para o futuro da sigla. Na avaliação da cúpula socialista, o fim das coligações proporcionais, que entrou em vigor no ano passado, e o avanço da cláusula de barreira forçam a análise de caminhos para a sobrevivência de partidos de diversos campos.
No campo da esquerda, houve duas federações no ano passado: PT, PCdoB e PV, de um lado, e PSol e Rede noutra iniciativa.
“Os resultados mostraram que o isolamento não é a solução. PSB e PDT são dois partidos com o mesmo tamanho, e o equilíbrio é muito importante numa federação”, disse Siqueira.
No início de 2022, o PSB chegou a negociar federação com o PT, mas as tratativas não foram adiante. Dirigentes do partido consideraram que o modelo proposto daria mais poderes aos petistas, que teriam ampla maioria na Executiva Nacional da Federação.
Assim, optaram por apenas coligar o PSB à chapa de Lula, sem necessariamente replicar o vínculo nos Estados.
Não ter ingressado na federação causou enorme prejuízo ao PSB, que poderia ter eleito mais deputados. Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que teve mais de 51 mil, o sétimo mais bem votado, não foi eleito. E o ex-deputado Professor Israel Batista, que migrou do PV para o PSB, também não teve êxito eleitoral. Todavia, se não tivesse feito a troca, teria sido reeleito. Ele obteve mais de 40 mil votos.
DECRÉSCIMOS
Em 2022, a bancada eleita pelo PSB para a Câmara, de 14 deputados, foi menos da metade dos 32 eleitos pelo partido em 2018. O PDT também caiu de patamar: fez 9 deputados federais a menos do que os 28 que havia elegido no pleito anterior.
O decréscimo ligou o sinal de alerta em ambas as siglas para as condições futuras de bater a cláusula de barreira, que exigirá, a partir de 2030, ao menos 3% dos votos válidos nacionalmente na eleição à Câmara para que as legendas mantenham acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda em rádio e TV.
PSB e PDT, que haviam tido mais de 5% cada em 2018, no ano passado obtiveram, respectivamente, 3,8% e 3,5%.
Embora o foco seja a sobrevivência a partir de 2026, as siglas também miram a corrida por prefeituras no próximo ano. Em 2020, aliança entre PSB e PDT foi vitoriosa em 4 capitais: Aracaju, Fortaleza, Maceió e Recife.
VITÓRIAS E DERROTAS
Em 2022, o PSB apoiou Lula à Presidência, enquanto o PDT optou por Ciro Gomes. Com o pior desempenho em disputas presidenciais, o PDT ainda foi derrotado pelo PT no governo do Ceará, a principal base eleitoral do partido.
O PSB emplacou o vice-presidente Geraldo Alckmin e reelegeu três governadores — Espírito Santo, Maranhão e Paraíba —, mas perdeu o governo de Pernambuco, berço político da sigla, mesmo com apoio formal do PT, cujos votos foram divididos com a candidata, ex-deputada federal Marília Arraes, que rompeu com PT e disputou o Palácio do Campo das Princesas pelo Solidariedade, e foi derrotada por Raquel Lyra (PSDB), primeira mulher eleita governadora do Estado.
FORTALECER A BASE DO GOVERNO LULA
Na avaliação de lideranças, a federação entre PSB e PDT pode evitar que as siglas dependam de estar na órbita do PT em eleições futuras.
Em Fortaleza, por exemplo, o prefeito Sarto Nogueira (PDT) deve concorrer à reeleição contra candidatura petista, com apoio do governador Elmano de Freitas (PT).
Apesar de já ter havido contatos entre as cúpulas socialista e pedetista, os dois partidos querem primeiro discutir o assunto internamente. O PDT emplacou o presidente nacional, Carlos Lupi, no Ministério da Previdência.
Após ingressar no governo, Lupi deixou o PDT sob presidência interina do deputado André Figueiredo (CE), que tem buscado mediar conflitos entre as alas do partido que defendem adesão ou oposição ao PT no Ceará. Para o presidente do PSB, a federação “pode ser boa” para a relação dos partidos com o PT, por fortalecer a base do governo Lula.
M. V.