Representante do governo iraniano fez gestões junto às autoridades em Brasília para reforçar a organização hoje integrada por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul, destacando os “interesses comuns (principalmente na área de ciência e tecnologia) na construção de uma nova ordem mundial”
Uma comitiva da República Islâmica do Irã, encabeçada pelo vice-ministro para Assuntos Políticos do Ministério das Relações Exteriores, Ali Bugheri, esteve em Brasília fazendo gestões junto às autoridades do governo brasileiro para o ingresso daquele país asiático na organização BRICS, hoje já integrada por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul.
Em encontro na embaixada iraniana na Capital Federal, Bugheri expôs os motivos da solicitação que será formalizada ao BRICS, destacando “o potencial de relações econômicas e comerciais” entre o Brasil e o Irã, “principalmente na área de ciência e tecnologia”. Nesse ponto, lembrou que os dois países ocupam a mesma posição mundial em desenvolvimento no setor, a 14ª.
Lembrou, ainda, que seu país tem uma posição de destaque na produção de petróleo e gás, podendo dar uma “importante contribuição” nessas áreas. Bugheri resgatou a existência de “120 anos de relações diplomáticas ininterruptas” entre os dois países.
O representante do governo iraniano ressaltou, também, “o papel do BRICS na construção de uma nova ordem mundial baseada no princípio do multilateralismo”. Na sua avaliação, o BRICS deve cumprir um papel “estratégico”, pela força política e econômica dos países que integram essa organização, que pode, segundo ele, ser reforçada pelo Irã. “Esperamos uma posição positiva do Brasil”, disse ele, pela “importância do país no âmbito do BRICS e no cenário internacional”.
Bugheri avaliou que, além do Irã, outros países podem ingressar no BRICS e contribuir com a construção de uma nova ordem. “Temos um grande interesse no ingresso a esse grupo, pois temos uma visão comum com nossos amigos brasileiros”, afirmou.
Depois de dizer que “os Estados Unidos querem manter o atual hegemonismo pela força”, Bugheri disse que “Irã e Brasil tem sérios interesses em construir uma nova ordem baseada na multipolarização”, pois “são duas forças que querem a paz no mundo”. “O BRICS pode ser um instrumento para trabalhar por essa mudança, pois a organização não é meramente comercial, mas um canal para trazer segurança e estabilidade para o mundo”, ressaltando que “nossa intenção é reforçar essa posição do Irã para o governo brasileiro e é nesse caminho que iremos convidar todas nações soberanas e independentes do mundo”.
“O tempo é de mudança da ordem antiga para a ordem nova”, enfatizou, acrescentando que “é nesse caminho que iremos convidar todas nações soberanas e independentes do mundo”, lembrando, também, que “isso acarretará custos, preços, mas que teremos a esperança na construção de futuro melhor, de desenvolvimento e paz”.
O vice-ministro afirmou que “mesmo com todas as sanções injustas praticadas contra nosso país e nosso povo, nossos jovens e cientistas conseguiram superar os obstáculos e proporcionar grande avanço tecnológico”, disse, ao destacar o papel que o Irã pode desempenhar ao integrar o BRICS.
Bugheri assinalou que “o problema dos Estados Unidos conosco não são os direitos humanos, como argumentam, mas é com o avanço de nossa ciência e da indústria iraniana, e o problema principal deles é com o nosso avanço tecnológico. Mesmo com as sanções, que acarretaram um elevado custo para o nosso povo, não conseguiram bloquear o desenvolvimento da economia iraniana”, argumentou.
Acrescentou que “se retirarem essas sanções, teremos melhores condições ainda para participar nas relações econômicas e financeiras com vários países, entre os quais o Brasil”, dando como exemplo o desenvolvimento de fontes alternativas de energia ao gás e petróleo, área, avaliou, em que seu país é considerado o 1º do mundo “na produção de energia verde, setor em que o Irã vem conquistando novas etapas, como também nas fontes nucleares”.
“No momento, estamos conseguindo produzir energia elétrica através de usinas nucleares próximo ao Golfo Pérsico”, informou, lembrando que o Irã, diferentemente dos Estados Unidos, “está cumprindo a sua parte em relação ao acordo nuclear” do qual os norte-americanos “saíram ilegalmente para não cumprir com os seus compromissos”.
“Outro problema para eles (os EUA) é com as nossas forças de defesa, área que conseguimos um grande avanço para nos proteger”, acrescentou.
ORDEM BASEADA NA FORÇA
O vice-ministro, em sua apresentação, fez uma análise da atual situação internacional, segundo ele, “baseada na força de um único país”, e perguntou: “qual a ordem mundial que deve haver para preservar os interesses soberanos das nações?”
“Até então, o que vimos foi o uso da força militar, a imposição de uma moeda única e na cultura da concentração. O mundo é testemunha dessa ordem”, sentenciou, lembrando os exemplos das invasões patrocinadas pelos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque “mesmo sem autorização do Conselho de Segurança da ONU e da própria ONU”.
Bugheri lembrou que o “pretexto dos Estados Unidos sempre foi a estabilidade, mas o resultado nesses dois países está muito claro”, apontando que “no Iraque houve, depois da invasão, a promoção do terrorismo, quando os americanos coonestaram com os piores crimes, e no Afeganistão foi a mesma coisa. No Afeganistão houve aumento da produção de drogas em 45%”, exemplificou como resultado da invasão norte-americana.
“O fato é que a presença dos Estados Unidos e da OTAN não trouxe nenhum resultado positivo na região”, sustentou, “e o Iraque e o Afeganistão são exemplos dessa ordem que tentam nos impor, depois de terem executados os governos desses dois países”, denunciou. “O resultado final, depois de terem investido 17 bilhões de dólares (na invasão e durante as ocupações) foram as migrações, terrorismo, retrocesso na economia e falta de estabilidade, inclusive para os americanos”, continuou.
Bugheri salientou que, a partir da constatação do declínio do sistema unipolar, “Brasil e Irã podem dar uma importante contribuição para a nova ordem mundial”.
“DITADURA DA MÍDIA”
Bugheri condenou a ação das agências de notícias controladas pelos EUA e seus satélites europeus que “não conseguem ver os reais interesses do Brasil e do Irã, bem como de seus povos”, acrescentando que para as populações em geral chegam informações que “sempre passam por intermediário desses outros interesses internacionais, o que significa que muitas dessas notícias, antes de chegar à população, passam antes por Washington, Londres ou Paris”, denominando esse fenômeno de “ditadura da mídia”.
O vice-ministro lembrou, ainda, que “as políticas internacionais do Irã sempre foram no sentido de assegurar a paz e a estabilidade na região (Ásia e Oriente Médio) e de respeito aos direitos das demais nações, como os direitos humanos” e utilizou como exemplo “o respeito aos direitos do povo palestino que enfrentam o sionismo”.
“Aos Estados Unidos não interessam os direitos humanos e, sim, os seus interesses, pois para eles os direitos humanos não passam de uma ferramenta utilizada como pretexto para violar os direitos de outras nações soberanas”, afirmou.
O ENCONTRO NA EMBAIXADA
O encontro com o vice-ministro iraniano contou com a participação de convidados da embaixada, jornalistas e representantes de partidos políticos.
Romênio Pereira, secretário de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores (PT), e Walter Sorrentino, vice-presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), presentes ao evento, fizeram uma saudação ao representante do governo iraniano, ressaltaram as relações entre os dois países e a contribuição que podem dar na construção de uma nova ordem mundial, baseada na paz e no respeito ao princípio da autodeterminação dos povos.
Hossein Gharibi, embaixador do Irã no Brasil, anfitrião do encontro, também reforçou a importância das relações entre os dois países, “especialmente na área de ciência e tecnologia”, bem como o fortalecimento do BRICS.
O diplomata Eduardo Ricardo Gradilone Neto, cujo nome já foi aprovado pelo Senado Federal para assumir a condição de novo embaixador do Brasil no Irã, também marcou presença no encontro, quando ressaltou “a cooperação das autoridades iranianas” diante da mudança na representação diplomática brasileira em Teerã, destacando “o grande potencial de relacionamento entre as duas nações por conta do inconformismo com a atual ordem mundial”.
(MAC)