“É muito difícil um subordinado tomar determinadas iniciativas sem conhecimento ou sensação de que está sendo aprovado pelo chefe”, argumentou
O general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, avaliou nesta segunda-feira (21), em entrevista ao site UOL, que é “muito difícil” que o ex-ajudante de ordens Mauro Cid tenha agido sem anuência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no caso da vendas das joias desviadas do patrimônio do Estado por Bolsonaro.
“É muito difícil um subordinado tomar determinadas iniciativas sem conhecimento ou sensação de que está sendo aprovado pelo chefe”, argumentou o general. “Ele não tem essa liberdade para tomar essas medidas, como estamos assistindo”, acrescentou Santos Cruz, diante da afirmação de Bolsonaro de que Mauro Cida tinha autonomia para vender as joias.
“Ele não tem essa liberdade para tomar essas medidas, como estamos assistindo”
Para o militar, Cid pode ter perdido “noção de limite”. “Estamos assistindo a esse fenômeno de pessoas com formação muito boa perderem essa noção de limite”, disse o militar. “Não tem justificativa para cumprir ordem ilegal, se o fez, a responsabilidade é individual. Nunca nenhuma instituição ensinou que é para cumprir ordens ou fazer coisas ilegais”, prosseguiu o general Santos Cruz.
O ex-ministro afirmou que alguns militares não tiveram noção dos limites. Foram pegos por “feitiço político”. “O militar é um eleitor, um cidadão, tem suas preferências, nunca ninguém me disse em quem votar”, declarou. “Esse efeito de fanatismo que pegou no Brasil pega civis e militares, é um feitiço político que deformou nossa sociedade”, disse Santos Cruz.
Ele destacou que governo Bolsonaro tinha “comportamento quase de seita”. “No início do governo, quando estava lá, por isso me desincompatibilizei, tinha um comportamento de seita, de gangue digital, bandidos da internet”, afirmou o general. “Tinha até um guru. Não vou falar nada porque a pessoa já faleceu, e espero que esteja em bom ambiente celestial. Isso continua com uma pequena parcela, seja civil ou militar”, prosseguiu.
“No início do governo, quando estava lá, por isso me desincompatibilizei, tinha um comportamento de seita, de gangue digital, bandidos da internet”, afirmou o general
Na sexta-feira (11), a Polícia Federal iniciou uma operação que investiga o desvio de joias que foram dadas de presente por governos estrangeiros à União. Segundo os investigadores, ajudantes de Bolsonaro revenderam joias e bens recebidos pela Presidência da República. O advogado de Cid disse que seu cliente passou o dinheiro da venda para Bolsonaro. O defensor, Cezar Bittencourt, disse ainda que seu cliente vai confirmar que fez isso a mando de Bolsonaro.