
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, rejeita qualquer negociação de paz com a Rússia
Após vencer as eleições alemãs, Friedrich Merz, fala em destinar 900 bilhões de euros para gastos militares, no momento em que a União Europeia realiza, nesta quinta-feira (6), uma “cúpula de emergência” pela continuação da guerra na Ucrânia e pelo rearmamento do velho continente, em que está na pauta dobrar anualmente os gastos militares, para 800 bilhões de euros, com a presidente da Comissão Europeia, a aristocrata alemã Ursula von der Leyen, anunciando que “entramos em uma era de rearmamento”. Total que é praticamente o mesmo patamar do orçamento do Pentágono (US$ 840 bi a US$ 850 bi)
Segundo ela, o inchaço de gastos militares será para responder “a uma necessidade de curto prazo de agir e apoiar a Ucrânia” e atender “à necessidade de longo prazo de assumir muito mais responsabilidade por nossa própria segurança europeia”.
Além de defender aumentar “significativamente” os gastos de guerra, ela insiste na recusa a qualquer negociação de paz séria com a Rússia.
Para viabilizar tal soma, a Comissão Europeia está propondo que os “investimentos em defesa” sejam isentos dos limites fiscais impostos pelas regras da UE sobre gastos governamentais.
Nas contas de von der Leyen, “se os Estados-membros aumentarem seus gastos com defesa em 1,5% do PIB, em média, isso poderia criar um espaço fiscal próximo a 650 bilhões de euros”.
Von der Leyen anunciou um novo instrumento de empréstimos, o ReArm Europe, que disponibilizará 150 bilhões de euros levantados junto aos mercados de capital à indústria de defesa europeia, para tornar a Europa “mais segura e mais resiliente”. “Estamos vivendo em tempos perigosos”, ela asseverou.
O plano “inclui quase nenhum dinheiro novo”, deixando aos estados-membros garantir “o dinheiro real” eles mesmos, informou o portal Euractiv na quarta-feira.
Os empréstimos seriam oferecidos sob a condição de comprar armas feitas no bloco, podendo envolver pelo menos três países da UE ou dois países da UE mais a Ucrânia. Mas os critérios de aprovação de empréstimos e de priorização de equipamentos permanecem indefinidos.
Pelo plano, os fundos de coesão da UE – tradicionalmente destinados a reduzir desigualdades econômicas entre os países do bloco – poderão ser utilizados para projetos de defesa.
Para o Euractiv, a proposta na prática transfere o fardo financeiro para os estados-membros, citando altos funcionários da UE. E o valor total é baseado mais em “esperanças e palpites” do que em reformas concretas que abordem a escassez de produção do bloco, acrescenta a publicação.
Registre-se que os europeus também vêm sendo pressionados por Trump para aumentar a taxa de ocupação, perdão, de “proteção”, dos atuais 2% do PIB para 5%.
Sobre as implicações dessas decisões, segundo a revista The Economist, para se rearmar e manter a guerra na Ucrânia “a Europa terá que cortar o bem-estar: Angela Merkel, ex-chanceler da Alemanha, costumava dizer que a Europa representava 7% da população mundial, 25% de seu PIB, mas 50% de seus gastos sociais”.
Naturalmente, nem todos perdem com o desvio de bilhões de euros para as armas. Na semana passada, quando as notícias de mais grana para a guerra ganharam destaque, os preços das ações dos principais fabricantes europeus de armas – BAE Systems (Reino Unido), RheinMetall (Alemanha), Thales (França) e Leonardo (Itália) – inflaram em torno de 15%.
Observe-se que vários desses fabricantes europeus já têm vínculos com o megafundo de especulação norte-americano BlackRock e que, atualmente, a maior parte das armas que os europeus compram é de procedência norte-americana.
“EUROPA A CINCO MINUTOS DA MEIA NOITE”
Para justificar tamanha pilhagem de direitos e benefícios sociais sob pretexto de “investir na defesa”, os dirigentes europeus têm se esmerado em declarações estapafúrdias que visam gerar medo na população.
Como a do banqueiro Friedrich Merz, provável novo primeiro-ministro alemão, segundo o qual a Europa está a “cinco minutos para a meia noite” – uma referência ao famoso relógio da hecatombe nuclear, mantido pelo Boletim dos Cientistas Atômicos dos EUA desde 1947.
Embora quando, em 2019, o então presidente Trump retirou os EUA do Tratado INF de Proibição de Mísseis Intermediários, assinado por Reagan e Gorbachev, e que evitara por quatro décadas uma guerra nuclear na Europa, Merz nada tenha dito. Retirada que tornou mais inadiável uma solução para a manutenção da neutralidade da Ucrânia.
Merz também não reclamou quando o atual premiê Scholz revelou ter sido comunicado pelos EUA de que instalaria de volta mísseis na Alemanha até 2026.
Aliás, ele quer enviar mísseis de cruzeiro Taurus para o regime de Kiev, coisa que sabiamente Scholz se negou fazer, por temer o repuxo.
Por sua vez, Macron fez um discurso à nação na quarta-feira (5), para estimular a russofobia, dizendo que “não se pode confiar na Rússia” e prometendo mais guerra na Ucrânia.
E, no final de semana passada, o premiê britânico, Sir Starmer, realizou um ato de desagravo ao ditador Zelensky, após este ter sido conduzido por uma escolta de marines até à porta da Casa após entrevero com Trump. Starmer chegou até mesmo a bravatear sobre “botas no chão e aviões no ar” na Ucrânia em uma suposta “missão de paz” – apesar de estar cansado de saber do “Nyet” russo.
AVENTURA DA OTAN NA UCRÂNIA KAPUT
O frenesi que acomete os países europeus tem como móvel a derrocada da aventura da Otan para anexar a Ucrânia, desencadeada com o golpe da CIA/neonazis de 2014 em Kiev, e ao fracasso das sanções contra a Rússia, que jogaram a Europa na estagnação ao invés de quebrar a Rússia e servirem de estopim de outra operação de “mudança de regime”.
E, claro, o colapso do projeto de Biden e seus mínions, de usar a Ucrânia como bucha de canhão para destruir a Rússia, para depois encarar a China, que não passou pelo crivo das urnas graças ao fiasco da Bidenomics.
Ao contrário desses líderes europeus, Trump emite sinais de que não quer herdar a derrota da guerra de Biden, aposta numa estratégia MAGA de alguma coexistência com Moscou para tentar dividir a aliança Moscou-Pequim, para se concentrar na China, e não hesita em manter a Europa no cardápio.
Inclusive anunciando que vai “comprar a Groenlândia”, exigindo dos europeus o aumento da taxa de ocupação por tropas norte-americanas para 5%, ao invés dos atuais 2% – às custas de dizimar o padrão de vida dos europeus –, convoca as empresas europeias a se mudarem para os EUA e anuncia uma guerra tarifária.
900 BILHÕES DE EUROS, QUER MERZ
Numa situação de estagnação e retrocessos sociais, o corte de benefícios para liberar fundos para a guerra e para as armas irá gerar resistência, além de desmascarar gente como Merz.
O provável novo premiê alemão, em sua campanha, contestou a mudança do freio de endividamento – para o que terá de ser emendada a constituição alemã -, afirmando que o atual mecanismo “protege o dinheiro e os pagamentos de impostos da geração mais jovem”.
“Deveríamos gastar o dinheiro deles hoje porque não podemos sobreviver com o que temos? Coletamos 1 trilhão de euros em impostos por ano. E não devemos sobreviver com isso?” disse Merz em dezembro passado.
Agora, a conversa mudou e ele quer um endividamento de 900 bilhões de euros para o rearmamento da Alemanha e para bancar a guerra na Ucrânia e, portanto, passou a fazer apologia de que se mexa no ‘freio da dívida’. O que está gerando nas redes sociais uma enxurrada de memes ironizando-o.
OS CÚMPLICES DE 2014
Em 2007, um ano antes de W. Bush “convidar” a Ucrânia a ser anexada pela Otan, isto é, pelos EUA, o presidente russo Vladimir Putin advertiu contra a “ordem unipolar” de Washington, a violação pelos EUA dos acordos pré-reunificação alemã, ou seja, que a Otan não se moveria “um centímetro” para leste [do Oder-Neisse] e anunciou o Nyet à anexação da Ucrânia e à quebra da neutralidade.
Portanto, só por cinismo extremado é que líderes europeus que participaram do desmanche da estrutura de segurança coletiva da Europa agora alegam que a guerra começou com a “invasão da Ucrânia” em fevereiro de 2022 e não no dia do golpe de estado patrocinado pela CIA em 2014.
Golpe que derrubou o governo legítimo usando neonazis como tropa de choque e franco atiradores, para instaurar um regime para levar a cabo o ditame de Washington de pôr mísseis às portas da Rússia para chantageá-la ou para cometer uma decapitação, o tão debatido, nas revistas especializadas norte-americanas, “primeiro ataque nuclear”.
Qualquer um que chegar na Bélgica e propuser que, ao invés de três línguas oficiais, o francês, o nerlandês e o alemão, seja imposta uma só, vai ser visto como um louco perigoso. O mesmo na Suíça. Mas os atuais líderes europeus acham muito natural que discípulos do colaboracionista de Hitler, Stepan Bandeira, proíbam a língua russa, falada por quase a metade da população, e majoritária no leste e sul, aliás as áreas que deram a vitória ao presidente ilegalmente deposto.
CIA COMEÇOU A GUERRA HÁ 11 ANOS
E foi um dos golpes mais descarados da história, com dois senadores norte-americanos insuflando os arruaceiros pagos pela Usaid, um deles, John McCain, confraternizando com o então mais notório nazista ucraniano, Oleh Tyahnybok. A vice-secretária de Estado, Victoria Nuland, distribuindo rosquinhas Pretzel e notas de 100 dólares, o uso de franco atiradores para causar o caos, e Nuland, pelo telefone, vazado e amplamente divulgado na internet, decidindo quem ia ser o primeiro-ministro e o “F**” UE.
O vice Biden, por sua vez, no telefone, ameaçando o presidente Yanukovich para paralisá-lo, e que depois nomeou o próprio filho, Hunter, diretor de uma empresa de gás ucraniana. E, com os governos da França e da Polônia, que haviam sido garantidores do acordo de pacificação até nova eleição, passando a alegar que já não era da alçada deles.
Primeiro o golpe se lançou contra os comunistas, logo em seguida contra tudo que fosse russo, até a revolta explodir no Donbass e com os neonazis chegando ao extremo de queimar vivos oposicionistas refugiados em um sindicato.
Contra o golpe, a Crimeia – russa há centenas de anos, exceto a partir do momento em que Krushev a presenteou à Ucrânia -, se levantou e em referendo aprovou a reunificação.
Até que se chegou, com mediação da Alemanha, França e Rússia aos acordos de Minsk, que estabeleciam o respeito aos direitos dos russos e uma forma de autonomia para o Donbass. Mas, como depois confessaram Angela Merkel e Françoise Holland, era apenas para dar tempo da Otan armar a Ucrânia. Acordos que foram respaldados pelo Conselho de Segurança da ONU.
Então, aqueles que a CIA instalou no poder já haviam inscrito na constituição a cláusula de “entrada na Otan” e logo, da sabotagem aos acordos de Minsk passaram abertamente a anunciar que já não valiam, com Zelensky falando até mesmo na posse de armas nucleares.
UCRÂNIA NEUTRA
Nessa situação, a Rússia propôs em dezembro de 2021 aos EUA e à Otan resolverem os problemas de fundo, aceitando a neutralidade da Ucrânia e restaurando a segurança coletiva indivisível na Europa, para o que Moscou exigiu a volta das forças às posições de 1997, ano de assinatura do primeiro acordo Rússia-Otan e o não ingresso da Ucrânia na Otan, o que foi recusado pelo governo Biden.
Quando era iminente uma operação militar ucraniana para limpeza étnica do Donbass, expulsando os falantes de russo para a Rússia – a exemplo do que a Otan organizara, nos anos 1990, na Krajina, expulsando os sérvios – a Rússia reconheceu as repúblicas do Donbass e iniciou a operação para dar fim à guerra movida contra os russos já fazia oito anos.
A operação militar especial, como foi denominada pela Rússia, tinha como objetivo central restaurar a neutralidade da Ucrânia e nas negociações de Instambul acordo nesse sentido foi praticamente conseguido, rubricado. Do qual o lado ucraniano recuou, após ordem do governo Biden, transmitida pessoalmente pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
A veracidade da afirmação russa de que se chegara a esse acordo foi atestada, posteriormente, pelo próprio chefe dos negociadores ucranianos, David Arahamiya, que inclusive comentou que a guerra teria acabado ali (e não haveria as centenas de milhares de mortos e feridos), e com perdas territoriais módicas.
A Rússia tem reiterado sua disposição de negociar a paz, desde que seja restaurada a neutralidade da Ucrânia, com proibição de bases e tropas estrangeiras; restauração dos direitos dos russos étnicos e das demais minorias e fim da perseguição à igreja ortodoxa; desnazificação; reconhecimento das novas realidades territoriais (as regiões que decidiram em plebiscito pela reunificação com a Rússia); e levantamento dos milhares de sanções anti-Rússia.
Outro aspecto nauseante da campanha em prol da captura da Ucrânia pela Otan é a ocultação do caráter neonazista do regime de Kiev, da profusão de suásticas e outros símbolos ligados às SS nas hostes ucranianas que foram flagrados, até episódios como o do nazista ucraniano que emigrou para o Canadá após a II Guerra e foi homenageado em pleno parlamento canadense na presença do próprio Zelensky.