
O governo de Jair Bolsonaro recuou, na quinta-feira (17), da nomeação de Murilo Resende Ferreira para assumir a coordenação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele é autor da afirmação “professor não gosta de estudar de verdade”.
A nomeação foi publicada na quarta-feira (16), em edição extra do Diário Oficial da União, por meio de uma portaria assinada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Ele ocuparia o cargo de diretor de avaliação da educação básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), diretoria responsável pelo Enem.
Mas, no dia seguinte, também em edição extra do Diário Oficial, Lorenzoni assinou outra portaria em que decidiu tornar “sem efeito” a nomeação de Resende, sem qualquer explicação.
Doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Resende se intitula “aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho desde 2009, estudioso do marxismo e do movimento revolucionário desde 2003”.
Já Bolsonaro publicou em seu perfil no Twitter, antes da primeira exoneração de Resende, uma comemoração por indicar alguém com doutorado em seu governo:
“Murilo Resende, o novo coordenador do Enem é doutor em economia pela FGV e seus estudos deixam claro a priorização do ensino ignorando a atual promoção da “lacração”, ou seja, enfoque na medição da formação acadêmica e não somente o quanto ele foi doutrinado em salas de aula”.
Um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre (MBL), movimento ao qual Murilo Resende pertenceu – e foi expulso – não tem essa mesma opinião.
Também no Twitter, um dos coordenadores do MBL fez a seguinte apreciação do insigne intelectual bolsonarista, nomeado para chefiar o Enem:
“Um maluco completo. Foi do MBL de Goiás. Expulso, vivia xingando a gente por lutarmos pelo impeachment… Lunático, conspiratório, fora da realidade.”
O que será um sujeito que o MBL considera “um maluco completo, lunático, conspiratório, fora da realidade”?
Em uma audiência pública no Ministério Público Federal em 2016, sobre “Doutrinação Político-Partidária no Sistema de Ensino”, Murilo Resende afirmou que professores brasileiros são desqualificados e manipuladores, que tentam roubar o poder da família praticando a “ideologia de gênero”.
Na sexta-feira (18), Resende, retirado do Enem, foi nomeado “assessor especial” da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC).
Em nota, o MEC informou que, como assessor, Resende atuará “em grupo especial de trabalho no âmbito do Inep que, entre determinadas atribuições, ajudará no acompanhamento, análise e direcionamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)”.
A nota diz que a decisão foi tomada pelo ministro da Educação em conjunto com o presidente do Inep, Marcus Vinicius Rodrigues – indicado para o cargo na última segunda-feira (14).
Segundo o presidente do Inep, Resende foi retirado da chefia do Enem porque é um “pensador”. Assim, poderá ajudar mais na assessoria do Ministério.
PLÁGIO
Murilo Resende foi acusado de plágio pelo artigo “A Escola de Frankfurt: Satanismo, Feiura e Revolução”, publicado no site “Estudos Nacionais” em 2018.
Leitores do artigo perceberam muita semelhanças do artigo de Resende com o artigo “The New Dark Ages: The Frankfurt School and ‘Political Correcteness”, de Michael Minnicino, publicado na revista “Fidelio”, do Schiller Institute, em 1992.
Murilo Resende, simplesmente, traduziu o artigo de Minnicino e trocou os nomes dos citados – o jazzista norte-americano Benny Goodman, por exemplo, é substituído por Caetano Veloso – sem dar o crédito ao original.
Em sua defesa, Murilo classificou seu artigo como uma “tradução adaptada”. Ele afirmou que o caso é uma tentativa de difamação.
Só não explicou porque a sua “tradução adaptada” não mencionava os verdadeiros autores do texto.
MAÍRA CAMPOS
Prezados, tinha dúvidas, mas, depois dessa matéria passeia a admirar o Murilo Rezende. Me pareceu um sujeito grudado na realidade.
Muito. Como diz a matéria, o que será um sujeito que o MBL considera “um maluco completo, lunático, conspiratório, fora da realidade”?