
“Não há dúvida que ele [Bolsonaro] se equivocou”, disse Rodrigo Maia
Alguns dias após causar um grande mal estar no país e no exterior com a divulgação em suas redes sociais de um vídeo pornográfico para, baseado nele, atacar o carnaval brasileiro, a maior festa popular do Brasil, Jair Bolsonaro, voltou à carga e disse, em discurso nesta quinta-feira (7), na cerimônia no 211º aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, no do Rio de Janeiro, que “só há democracia se as Forças Armadas quiserem”.
Ao descrever sua campanha nas eleições do ano passado como uma missão ele disse: “a missão será cumprida ao lado das pessoas de bem do nosso Brasil, daqueles que amam a pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa, daqueles que amam a democracia. E isso, democracia e liberdade, só existe quando a sua respectiva Força Armada assim o quer”, afirmou.
A reação foi imediata. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, rebateu dizendo que “não há dúvida que ele [Bolsonaro] se equivocou”. “A base da democracia está no Congresso Nacional e no equilíbrio entre o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário”, frisou o deputado. “O papel que se espera das Forças Armadas é o da defesa de nossa soberania”, acrescentou o presidente da Casa, finalizando que, certamente, era à defesa da soberania que o presidente deveria ter se referido.
Maia tem razão ao dizer que Bolsonaro está equivocado. A população, ao contrário do que pensa Bolsonaro, não quer que a soberania do país seja ultrajada, que o Brasil seja transformado numa mera colônia de grandes potências. Por isso o presidente da Câmara chamou a atenção de que a obrigação das FFAA é a defesa da soberania. A base da democracia está na participação do povo nas decisões que lhe dizem respeito. A base da democracia está no respeito por parte dos governos aos anseios da população.
Bolsonaro não entendeu nada. Ele acha que as FFAA vão seguir as ideias neoliberais rasteiras de seu governo que quer estrangular a economia nacional e jogar o Brasil na condição de quintal dos EUA. Essa sua fala revela que Bolsonaro não entende nada de democracia e muito menos de Brasil.
Até hoje ele não conseguiu apreender o que disse Afonso Arinos, num de seus discursos na memorável campanha das diretas. “O poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido”. É, portanto, o povo, o maior defensor da democracia.
Quando os reais garantidores do regime democrático, os milhões de brasileiros, decidiram ocupar as ruas para, eles sim, viabilizarem a democracia, no início da década de 1980, o capitão das milícias estava às voltas com confusões disciplinares bombásticas dentro dos quartéis do Rio de Janeiro. Confusões essas que acabaram provocando, mais à frente, a sua baixa precoce das Forças Armadas.
Por falar nisso, aproveitamos a oportunidade, até porque o assunto da Previdência está em voga, para lembrar que ele se aposentou nesta época com apenas 33 anos, recebendo uma gorda aposentadoria de R$ 10 mil.
Agora, pelo discurso de hoje, ele revela que continua sem entender nada.
O presidente do Senado, David Alcolumbre, também reagiu ao absurdo e disse que a fala de Bolsonaro “causou um certo incômodo no Congresso Nacional”. “Essa foi uma declaração do presidente. Do meu ponto de vista, como presidente do Senado, eu quero fortalecer as instituições, fortalecer a democracia”, disse Alcolumbre.
“Nós precisamos estar juntos nesse projeto de construção de um novo Brasil, que saiu das urnas com desejo da maioria dos brasileiros de que Jair Bolsonaro fosse presidente do Brasil. Assim como elegeram governadores, deputados federais e senadores da República”, acrescentou.
Como já é de praxe, depois que Bolsonaro abre a boca para falar alguma coisa, um batalhão de assessores saiu em campo para tentar consertar o estrago provocado por ele.
O primeiro foi o vice-presidente Hamilton Mourão. Ele já foi logo dizendo aos jornalistas que a fala “foi um mal entendido”. “O que que o presidente quis dizer? Está sendo mal interpretado. O presidente falou que onde as Forças Armadas não estão comprometidas com democracia e liberdade, esses valores morrem. Foi isso que ele [Bolsonaro] quis dizer”, argumentou Mourão.
Outro que tentou minimizar a declaração foi Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI da Presidência. Ele deu entrevistas afirmando que não viu “nada demais” na fala do chefe do Executivo federal. “Não achei polêmica. Não vejo nada de mais na declaração. Ele [Bolsonaro] estava fazendo um discurso para comemoração dos 111 anos do Corpo de Fuzileiros Navais ( na verdade 211) e ele falou o que todo mundo sabe: as Forças Armadas são o baluarte da democracia e da liberdade. Historicamente, em todos os países do mundo”, disse ele.
Questionado se era válido dizer que só há democracia se as FFAA deixarem, Heleno baixou o tom e disse que “a partir de 1985, as FFAA têm sido o baluarte da democracia e da liberdade”.
A indignação no Congresso não ficou só nos presidentes das duas casas. O deputado Rubens Bueno (PPS-PR), afirmou que a declaração de Bolsonaro representa “uma afronta aos Três Poderes e à Constituição. Espero que ele explique direito o que quis dizer. Se isso não for esclarecido, vão começar a surgir dúvidas sobre sua real intenção no governo. Um homem eleito pelo povo jamais poderia falar uma coisa dessas”.
“Democracia é conquista da sociedade brasileira, resulta de uma história complexa e cheia de sacrifícios. E não é concessão. O presidente da República deveria ser mais cuidadoso quando fala sobre temas-chave da vida nacional. A democracia brasileira precisa ser cultivada”, disse o líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Orlando Silva.
O deputado André Figueiredo (PDT-CE), líder do PDT na Câmara dos Deputados, disse que é fato que “Bolsonaro não tem preparo administrativo, nem moral para governar o Brasil”. “O Brasil tem uma Constituição Federal conquistada pela dura luta de muitos companheiros”, reagiu o líder.
O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) também rebateu a fala de Bolsobaro. “O presidente ou não conhece ou finge não conhecer a Constituição que jurou defender. Dizer que a democracia e a liberdade só existem quando as Forças Armadas querem é uma ameaça inaceitável. Meu mais forte repúdio.”
Mesmo partidos que deveriam estar na base do governo se irritaram com a fala de Bolsonaro. O senador Otto Alencar (PSD-BA) disse que “o presidente Jair Bolsonaro foi eleito pelo voto popular dentro do regime democrático. Em nosso país, a democracia está consolidada, com as instituições funcionando normalmente, inclusive as Forças Armadas. O presidente precisa tomar consciência de que, já investido do poder e como tal, é preciso meditar para falar e não cometer lapso verbal.”
Ao final do dia, o “ruído” era tão grande que Jair Bolsonaro gravou um vídeo para tentar explicar o que ele quis dizer com a fala da parte da manhã. “Hoje de manhã usei da palavra e, para variar, vai dar polêmica quando eu falei que no Brasil nós devemos às Forças Armadas a nossa democracia e a nossa liberdade e essa fala já começou a se levar para as mais variadas interpretações possíveis”, reclamou.
Em seguida pediu ajuda a Augusto Heleno para que este dissesse o que achou de sua fala. Heleno voltou a garantir que estava tudo bem. Até o prestativo porta-voz do governo, Otávio Rêgo Barros, estava lá ao lado dos dois, falando também em socorro a Bolsonaro.
Errando parônimas de novo, HP? “(… ) concertar o estrago(… )”
E há um erro de digitação após a fala de Afonso Arinos. A palavra portanto aparece grafada como “portantro”.
Pois é, meu amigo. Corrigimos. Mas não deixe de apontar os erros. Se nós não contarmos com os amigos, com quem poderemos contar?