O secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, foi demitido na quarta-feira (11) a mando de Jair Bolsonaro. O motivo foi o vazamento, antes da hora, da notícia da volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras).
Bolsonaro ficou “uma fera” pelo fato do secretário-adjunto da Receita, Marcelo Silva, ter dado detalhes, na terça-feira (10), durante um seminário, da proposta que está sendo discutida sigilosamente dentro do governo.
Marcelo Silva e seu chefe Marcos Cintra não inventaram da cabeça deles a proposta de cobrar de 0,4% até 2% de todas as transações financeiras. O próprio ministro Paulo Guedes já defendia publicamente a volta da CPMF.
“O Imposto sobre Transações Financeiras (nome inicialmente apresentado por ele) é feio, é chato, mas arrecadou bem e por isso durou 13 anos”, argumentou o ministro, em entrevista publicada na segunda-feira (09).
Bolsonaro também disse em várias entrevistas que haveria um imposto sobre movimentação financeira, mas que não seria igual à CPMF. “Se desburocratizar muita coisa, eu estou disposto a conversar”, disse ele.
O que irritou Bolsonaro é que ele pretendia disfarçar mais. Fingir que era contra, etc. E o secretário-adjunto estragou tudo abrindo o jogo antes da “preparação” que o governo queria fazer. Afinal, Bolsonaro havia jurado na campanha que a CPMF não voltaria.
Assim como jurou também que seu governo iria combater a corrupção, que o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) ficaria sob responsabilidade de Sérgio Moro, que a Polícia Federal seria respeitada, etc.
Tudo mudou sobre esses órgãos, mas sem estardalhaço, na surdina. O que o funcionário da Receita fez sobre a CPMF foi desastroso, do ponto de vista dos planos sorrateiros de Bolsonaro.
Eles estavam escondendo a sete chaves a proposta da volta da CPMF. O plano era escolher a melhor hora de apresentar a volta do imposto. Estavam soltando a ideia a conta gotas. Diriam que era inevitável. Guedes dizia uma coisa, o governo esperava as repercussões e assim a coisa caminhava.
O funcionário da Receita se empolgou e abriu o jogo. Deu detalhes. A notícia caiu como uma bomba. Todo o Congresso protestou, empresários chiaram e a proposta foi queimada. Por isso a ira de Bolsonaro. Por isso caiu o secretário da Receita.
A proposta existia. Tanto isso é verdade que a nota que comunicou a demissão do secretário esclarece “que não há um projeto de reforma tributária finalizado“.
E prossegue dizendo que “a proposta somente será divulgada depois do aval do ministro Paulo Guedes e do presidente da República, Jair Bolsonaro“.
Ou seja, Bolsonaro ficou uma fera porque atropelaram tudo e sua máscara caiu. Ele queria fazer de um jeito soturno, parecido com o que ele fez em relação à destruição do Coaf. Primeiro tirou do Moro, depois demitiu o diretor. Depois trocou o órgão de nome e, por fim, colocou o Coaf no terceiro escalão do Banco Central. Deu um fim ao órgão que ousou descobrir as falcatruas de seu filho, Flávio.
Mesmo fazendo assim, alguns bolsonaristas menos fanáticos desconfiaram que o “mito” estava desmontando a estrutura de combate à corrupção. Imaginem então uma volta abrupta da CPMF. Ia ter muito eleitor do PSL querendo pendurar o “mito” numa árvore. Com apoio, é claro, dos que não votaram nele.
O governo tentou esconder que Marcos Cintra foi demitido. Disse que ele pediu demissão, mas não é verdade. O atropelo de seu subalterno, Marcelo Silva, de abrir o jogo, foi a causa da demissão.
A população, principalmente os assalariados e a classe média, está sendo sufocada com uma carga tributária recorde no governo Bolsonaro, de 35,07% do PIB. A notícia da volta da CPMF, num momento de crise e recessão como a que o país vive, foi interpretada como uma afronta ao Brasil. O desgaste foi gigantesco. O Planalto não perdoou a precipitação da Receita.
Assim também aconteceu com o chefe do Ibama do Pará, o coronel da Polícia Militar Evandro Cunha dos Santos. Ele disse que não haveria mais destruição de equipamentos usados no desmatamento ilegal – posição defendida publicamente pelo próprio Bolsonaro. Só que não pode abrir o jogo desse jeito. Foi demitido.
Agora ele demite também o chefe da Receita Federal pelo mesmo motivo. Por terem tornado pública uma proposta que é defendida pelo governo, mas que estava sob segredo aguardando a “melhor hora” para ser apresentada.
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