O papa Francisco saudou os “governos que enfrentam a crise e mostram a prioridade de suas decisões: primeiro as pessoas” e alertou para o erro de secundarizar a vida diante de supostos fatores econômicos, acrescentando que “seria triste se o oposto fosse escolhido, o que levaria à morte de muitas pessoas, algo como um genocídio viral”.
A declaração veio após seu dramático exemplo de rezar sozinho na Praça São Pedro pela primeira vez na história, na sexta-feira, dia 27. Ele enviou uma carta, no dia seguinte, ao presidente da Comissão Pan-Americana de Juízes para os Direitos Sociais, dr. Roberto Andrés Gallardo, destacando: “Estamos todos preocupados com o crescimento, em progressão geométrica, da pandemia. Estou feliz com a reação de tantas pessoas, médicos, enfermeiros, enfermeiras, voluntários, religiosos, sacerdotes que arriscam suas vidas para curar e defender as pessoas saudáveis do contágio”, ressalta Francisco na missiva.
Na carta, além de enfatizar que “alguns governos adotaram medidas exemplares com prioridades bem definidas para defender a população”, adverte: “É verdade que essas medidas ‘incomodam’ aqueles que são obrigados a cumpri-las, mas é sempre para o bem comum e, a longo prazo, a maioria das pessoas as aceita e se move com uma atitude positiva. Os governos que enfrentam a crise mostram a prioridade de suas decisões: primeiro as pessoas. E isso é importante, pois sabemos que defender as pessoas supõe um prejuízo econômico”.
O QUE VIRÁ DEPOIS
A seguir, o papa defende que, além do enfrentamento da pandemia, todos devem se preparar para o que vier depois e que segundo ele vão demandar profundas mudanças nas concepções de condução da economia.
Segundo o papa Francisco, já se notam algumas consequências da pandemia do Covid-19 que devem ser enfrentadas, como por exemplo a fome, especialmente pelas pessoas sem trabalho fixo, violência, surgimento de agiotas, e tantos outros efeitos. Em relação “ao futuro econômico”, o Papa apontou para o trabalho da economista Mariana Mazzucato, professora da University College of London contida no livro “O valor de tudo. Quem produz e quem subtrai na economia global”, publicado em 2018, ressaltando que tal pensamento “ajuda a pensar o futuro”.
O livro conta como especuladores e rentistas fingem ser criadores de valores na economia global e lança um apelo a fim de repensar o valor como a chave para criar um mundo diferente e melhor.
APOIO DO PAPA A PROPOSTA DE CESSAR-FOGO GLOBAL
No domingo, o papa Francisco declarou apoio ao apelo feito pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, por um cessar-fogo global para que o mundo possa se concentrar no combate à pandemia de coronavírus.
Dizendo que a doença não conhece fronteiras, Francisco apelou a todos para “interromper todas as formas de hostilidade belicosa e favorecer a criação de corredores para ajuda humanitária, esforços diplomáticos e atenção àqueles que se encontram em situações de grande vulnerabilidade”.