ROBERTO BITTENCOURT (*)
Isolamento Social Organizado e ações de Inteligência Epidemiológica devem ser implantadas imediatamente para se evitar um longo e arrastado período de surtos do Coronavírus, tanto nas capitais como no interior do país.
Na medida em que o isolamento social vai sendo substituído gradativamente por medidas de flexibilização, novos contingentes de pessoas sem imunidade vão se contactando com pessoas infectadas, na sua maioria assintomáticos e, nesse momento, novos ciclos de contagio vão se estabelecendo.
Portanto, todo o esforço ainda deve ser para se manter o isolamento social mais ou menos restritivo, em especial, nas regiões onde a transmissão denominada R(t) está acima de 1, em curva de crescimento. Considera-se essa intervenção como Fase I.
Mas em paralelo deve-se iniciar a intervenção clássica do enfrentamento epidemiológico das epidemias, considerada a Fase II, qual seja: identifica os casos, classifica o risco clínico, rastreia os contactantes, isola seletivamente os infectados e, finalmente interrompe a transmissão.
O volume de informações para se identificar os casos, infelizmente, no Brasil já é altíssimo.
Hoje, 29/05, temos mais de 465 mil casos confirmados de Coronavírus, sendo que perto de 200 mil pacientes recuperados e próximo de 30 mil mortes.
Essas informações, assim como as testagem em curso, estão sendo subutilizadas e servem apenas para somar os novos casos da COVID.
Em torno das pessoas infectadas deve-se organizar as ações da Fase II, com uso intensivo de Inteligência Epidemiológica. Em especial, nas cidades do interior do país, onde é plenamente exequível realizar o rastreamento, isolamento e supressão, com sucesso.
A fim de implementar a Fase II devem ser utilizados dois componentes a pleno vapor:
(1) As Equipes de Saúde da Família associadas as equipes da Defesa Civil, ambas com grande capilaridade nas comunidades e no interior do Brasil, com capacidade de acompanhar os casos e,
(2) As plataformas de Georreferenciamento disponíveis amplamente, que permitirão identificar dos principais focos, por CEP, verificar os fluxos de contágio e mapear as zonas mais atingidas.
A estratégia de supressão da transmissão é a única capaz de interromper a atual pandemia, além de organizar o sistema de saúde de maneira permanente, para enfrentar as próximas epidemias, que seguramente ocorrerão.
Brasília, 29 de maio de 2020
(*) Médico – Pós Doutor em Saúde Pública, professor da Coordenação da Pós Graduação e Extensão da ESCS / FEPECS e professor do Curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília