A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) condenaram as recentes declarações de Bolsonaro contra a imprensa.
“A Abraji repudia as declarações do presidente. Ele se diz democrata, mas seus atos e palavras apontam na direção oposta. Autocratas e ditadores costumam usar estratégias discursivas para defender o fechamento de jornais: constroem, antes, um ambiente de hostilidade e demonizam a imprensa para confundir a população”, diz o texto da Abraji.
Para a ABI, Bolsonaro “apenas verbalizou o que todo candidato a ditador tem na cabeça: a ojeriza a uma imprensa que não se subordine a ele”.
“Essas manifestações de Bolsonaro não devem ser vistas apenas como algo ridículo. Estamos diante de movimentos de um inimigo da democracia que não hesitará em tentar um golpe de estado caso seja apeado do poder. Lembrando a marchinha, não foi a cachaça que levou Bolsonaro a esses ataques à liberdade de expressão. Eles representam a sua convicção. É preciso estar alerta”, advertiu Paulo Jeronimo, presidente da ABI.
Na segunda-feira (15), Bolsonaro voltou a atacar a imprensa. Segundo o ele, “o certo é tirar de circulação — não vou fazer isso, porque sou democrata — tirar de circulação Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, [site o] Antagonista, [que] são fábricas de fake news”.
Bolsonaro fez essas declarações na paradisíaca região de São Francisco do Sul, Santa Catarina, onde está a comitiva presidencial passando novas férias, ignorando que mais de 240 mil pessoas morreram no país em decorrência da Covid-19. Ali ele promoveu novas aglomerações e desdenhou da pandemia. A live em que ele insultou a imprensa foi gravada pelo filho, Eduardo Bolsonaro.
A 546 km dali, em Chapecó (SC), a prefeitura declarou que o município entrou em colapso e não tem mais UTI para atender aos pacientes infectados.
Leia a nota da Abraji na íntegra:
Ameaçar tirar de circulação jornais é próprio de autocratas e ditadores
Nesta segunda-feira (15.fev.2021), durante o feriado de Carnaval no litoral de Santa Catarina, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar a imprensa.
O presidente gravou um vídeo no qual critica o Facebook, defende uma lei para aumentar a taxação das redes sociais no Brasil e o fim das operações dos três maiores jornais do país:
“Na minha página ou na página de qualquer um, com todo respeito, é a página do presidente da República. Eu sou qualquer um, do povo: proibir anexar imagens a título de proteger fake news? O certo é tirar de circulação — não vou fazer isso, porque sou democrata — tirar de circulação Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, [site o] Antagonista, [que] são fábricas de fake news”.
No vídeo transmitido em uma live pelo filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente alega que o Facebook estaria impedindo seus seguidores de publicar imagens nos comentários das publicações.
“Agora deixa o povo se libertar, porque tem liberdade. Logicamente que, se alguém extrapolar alguma coisa, tem a Justiça para recorrer. Agora o Facebook bloquear a mim e a população é inacreditável […] E não há uma reação da própria mídia, ela se cala. Falam tanto da liberdade de expressão para eles em grande parte mentir com matérias. Agora para a população é uma censura que não se admite”.
A Abraji repudia as declarações do presidente. Ele se diz democrata, mas seus atos e palavras apontam na direção oposta. Autocratas e ditadores costumam usar estratégias discursivas para defender o fechamento de jornais: constroem, antes, um ambiente de hostilidade e demonizam a imprensa para confundir a população.
É inaceitável que o presidente insinue que a mídia brasileira seja conivente com a censura e produza tão somente reportagens mentirosas. Bolsonaro distorce o discurso da proteção da liberdade de expressão para atacar a imprensa. Com isso, despreza o papel fundamental de uma imprensa independente e crítica na manutenção da democracia.
Contrariando o art. 85 da Constituição, Bolsonaro esquece que é responsabilidade do cargo que ocupa o respeito ao exercício dos direitos políticos, individuais e sociais, sendo impedido de atentar contra a liberdade de imprensa.
Diretoria da Abraji,16 de fevereiro de 2021.