Presidente do Senado percorreu 14 vezes, em aviões da Aeronáutica, os 1.792 quilômetros que separam Brasília de Macapá. Mesmo assim, o irmão perdeu a eleição
O senador Davi Alcolumbre (DEM), presidente do Senado, usou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para fazer a campanha eleitoral de seu irmão Josiel, candidato do DEM à prefeitura de Macapá.
Segundo o Estadão, entre os dias 9 de outubro e 18 de dezembro, Alcolumbre percorreu 14 vezes, em aviões da FAB, os 1.792 quilômetros que separam Brasília de Macapá.
Josiel Alcolumbre (DEM) acabou perdendo a eleição para o candidato do Cidadania, Dr. Furlan, na eleição realizada no último domingo, dia 20, no segundo turno.
O jornal mostra ainda que os registros dos voos oficiais indicam que as viagens eram sempre feitas na companhia de seguranças do Senado. Em setembro, período da pré-campanha, Alcolumbre não realizou nenhuma viagem ao Amapá, seu Estado natal, utilizando aviões da FAB.
As regras da Aeronáutica não permitem que aviões da FAB sejam usados para fins particulares. No dia 6 de março, Jair Bolsonaro publicou um decreto que alterou normas de transporte de autoridades nessas aeronaves. Agora são exigidas justificativas e comprovações que atestem a necessidade do uso dos aviões, autorizado em três situações: emergência médica, motivo de segurança e viagem a serviço.
O irmão de Davi Alcolumbre esteve bem colocado nas pesquisas e caminhava para vencer a eleição já no primeiro turno.
Mas após a explosão de transformadores que deixou o Amapá às escuras por mais de duas semanas, em novembro, a coisa complicou para ele. O candidato do DEM teve 29% dos votos contra 16% de Furlan no primeiro turno.
O governo de Bolsonaro teve uma atuação desastrada e demorada para resolver o problema, causando protestos e repressões policiais violentas contra os manifestantes. A população do Amapá ficou quase um mês sem energia.
O apagão no Amapá foi provocado pela multinacional espanhola Isolux, que controla a rede desde 2008. Mas, com todas as dificuldades criadas pela Isolux e pelo próprio governo federal, foi a Eletronorte, uma estatal, que resolveu o problema criado pela privatização.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, decidiu adiar as eleições em Macapá. Com o novo calendário, o primeiro turno ficou marcado para o dia 6 deste mês. A segunda rodada foi realizada no dia 20.
Após 19 dias de apagões, Jair Bolsonaro viajou para Macapá (AP) e a população se manifestou chamando-o de “miliciano”, “genocida” e “racista” e gritando “fora Bolsonaro” no aeroporto e nas ruas da cidade.
A visita de Bolsonaro não foi para ajudar a resolver o grave problema que vive a capital do Amapá e diversas outras cidades do estado, mas apenas uma tentativa de autopromoção fracassada.
Mesmo assim, Davi Alcolumbre apareceu ao lado de Bolsonaro em Macapá.
Para piorar a situação de Josiel, Bolsonaro gravou um vídeo pedindo votos para ele em retribuição à “parceria” do irmão, Davi Alcolumbre.
“Neste momento, eu peço a você, do fundo do coração: vote em Josiel para prefeito de Macapá. Um prefeito perfeitamente afinado com o presidente da República”, disse o presidente da República.
“Ao longo desses dois anos, eu tive contato direto com o senador Davi Alcolumbre, presidente do Senado. Em todos os momentos que o governo precisou do Senado, o Davi nos socorreu. Ele foi um grande parceiro nessa relação”, continuou Bolsonaro.
E o resultado foi que Josiel afundou e Bolsonaro perdeu mais uma eleição que ele apoiou. Dr. Furlan (Cidadania), apoiado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), virou e venceu a eleição no segundo turno por 55,67% contra 44,33% de Josiel Alcolumbre.
Além de Bolsonaro, Josiel teve os apoios do prefeito Clécio Luís e do governador Waldez Góes.
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