O Ministério do Interior da Alemanha anunciou que o serviço de inteligência interna do país começará a monitorar um movimento de negacionistas do coronavírus que participam de protestos anti-distanciamento, avaliando que sua rejeição às restrições impostas pelo governo para conter a pandemia pode ser considerada incitação à violência além de orientação neonazista.
A porta-voz do Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV, na sigla em alemão), Angela Pley, disse que partes do grupo chamado Querdenken (“Pensamento lateral”) questionam a legitimidade do Estado alemão, transformando-se em ameaça. O grupo vem organizando manifestações cada vez mais violentas contra as medidas anti-Covid-19. Em seu rol de membros existem teóricos extremistas de direita teóricos da conspiração.
Nos protestos, membros do Querdenker e céticos das vacinas marcham ao lado de neonazistas e membros do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Além deles, Pley afirmou que membros do movimento de extrema direita Reichsbuerger (Cidadãos do Reich, em português), que nega a existência do Estado contemporâneo alemão. Grupos declaradamente antissemitas participaram dos atos negacionistas.
A decisão do Ministério do Interior permite, por exemplo, que o BfV colete dados sobre determinadas pessoas do grupo. Segundo o Ministério, a medida foi adotada porque os protestos contra as medidas de restrição preventiva tomadas na Alemanha foram repetidamente usados de forma provocativa para aumentar tensões.
Conforme a pasta, os organizadores do movimento Querdenken, “até certo ponto mostraram claramente que sua agenda vai além da mera mobilização para protestar contra as medidas estatais de proteção contra o coronavírus”.
O Conselho Central dos Judeus da Alemanha saudou a decisão, dizendo que se tornou “urgentemente necessária”, dada a influência da extrema direita no movimento de protesto. “Esse desenvolvimento deve ser interrompido a todo custo”, disse o presidente do conselho, Josef Schuster.
Algumas autoridades estaduais para a proteção da Constituição, como na Baviera e em Baden-Württemberg, já haviam colocado o movimento Querdenken sob monitoramento.
As medidas contra a pandemia foram reforçadas em março e abril deste ano, quando o país foi atingido por uma terceira onda de contaminações.
O governo receia que os extremistas de direita e teóricos da conspiração queiram explorar o incômodo gerado pelas medidas para incitar o ódio contra políticos e instituições públicas a cinco meses das eleições gerais no país, marcadas para 26 de setembro.