Com a crise econômica e social se aprofundando no Brasil no governo Bolsonaro, levando milhões de famílias a uma situação de vulnerabilidade alimentar extrema, estudantes da Universidade de São Paulo, criaram o projeto “Amparar Mulheres” para ajudar famílias nessas condições, em especial àquelas chefiadas por mulheres, as chamadas “mães solo”.
A iniciativa pretende apoiar famílias na região de Parelheiros, bairro situado no extremo sul da cidade de São Paulo.
O projeto surgiu a partir dos Centros Acadêmicos de Educação Física e Esporte (Caefe) e do Moraes Rêgo (CMR), que representa os cursos de engenharia de materiais, metalúrgica, minas, petróleo e nuclear – da Escola Politécnica, além de Marlene e Keila Pereira, mãe e filha que são lideranças de Parelheiros.
A diretora do Caefe, Barbara Silva Ferreira, de 22 anos, explicou como surgiu a ideia do projeto: “O Amparar Mulheres tem o intuito de apoiar mães solos, que moram na região de Parelheiros, no extremo sul de São Paulo. A gente sabe que é uma região que o governo não chega e, infelizmente, ainda necessita de algumas atenções básicas”. Ela destacou que o objetivo é de arrecadar doações de fralda, produtos de higiene pessoal, máscaras e de alimentos para atender 150 famílias da região.
Barbara destaca que a ideia surgiu “do Centro Moraes Rego (CMR), um centro acadêmico da Poli-USP, e esse centro acadêmico entrou em contato com o Restaurante da Marlene, que é onde nós temos a maior troca de informações sobre as famílias, porque o restaurante fica na região da nossa atuação e onde coletamos todos os dados sobre as famílias”.
Isabela Ramayana de Camargo, de 19 anos, faz parte da coordenação do projeto Amparar Mulheres e também do CMR. Ela conta que a principal motivação dos estudantes para criar a campanha é o impacto que a pandemia teve sobre grupos que já eram vulneráveis. “As famílias chefiadas por mulheres, por mães solo, já sofriam muito. Quando chegou o vírus, esse foi um dos principais grupos afetados pela crise sanitária, pela crise econômica, e pelo aumento da desigualdade social e da fome no Brasil, por isso decidimos focar nosso projeto ali”.
Parelheiros
O Restaurante da Marlene é um polo gastronômico e cultural da região de Parelheiros. É chefiado por Marlene Pereira, culinarista e agricultora, de 57 anos, que cursa Ciências da Natureza na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo.
Além do Amparar Mulheres na região, Marlene também atua em outros projetos sociais voltados a mães na região. Ao HP, ela destacou a necessidade de iniciativas como esta para garantir apoio às famílias da periferia de São Paulo.
“Trazer o Amparar Mulheres para Parelheiros é muito importante por se tratar de um território periférico onde as mulheres geralmente têm filhos cedo, sem planejamento, e em diversos casos são mães-solo. O desemprego é grande entre elas, então precisamos de projetos que amenizem de alguma forma as necessidades mais básicas desse público”, disse.
Marlene destaca que “Parelheiros tem inúmeras necessidades, mas tem algumas que sobressaem. A vulnerabilidade é grande, então precisamos de moradia para todos, ainda tem muita gente morando precariamente, rola muita invasão, enfim. Por ser também um polo de ecoturismo é preciso olhar para o saneamento básico melhor, seja pelas condições em que vivem as pessoas por aqui, ou pela preservação desse pedaço rico da Mata Atlântica”.
Ela ainda contou como é a conciliar a faculdade com o restaurante e os projetos sociais. “A faculdade tem sido difícil. Estou cozinhando todos os dias, a cozinheira que era meu braço direito engravidou e está licenciada. Não é nada fácil conciliar e as notas não estão boas, mas não vou desistir! A meta é no ano que vem me dedicar 100% à faculdade!”.
Fazer a diferença
Keila Pereira, liderança jovem da região e também coordenadora do Amparar Mulheres destacou a importância do projeto ir além da doação de alimentos. “Nós discutimos bastante até chegar num kit básico que representa o mínimo dos itens que têm faltado nas casas das mães solo. Alimentação, limpeza, higiene pessoal, e máscaras pff2. Queremos realmente poder fazer a diferença para as mães que estão desempregadas neste momento, mesmo que sejam poucas as famílias, que seja uma ajuda de maior consistência”, defendeu Keila.
“Ficamos muito animadas quando recebemos o convite do Centro Moraes Rêgo para integrar o projeto e esperamos poder contribuir cada vez mais e crescer essa iniciativa, estamos apenas começando”, pontuou Keila.
Campanha
Bárbara também destacou que os Centros Acadêmicos pretendem envolver os estudantes da universidade no projeto. “Começamos a divulgação pelo Instagram, com postagens diárias sobre o tema. Outra ideia que surgiu foi da entrega de panfletos na porta do bandejão, mas percebemos que não surtiu tanto efeito, talvez por conta da pandemia e a galera ainda tem um receio de conversar, de chegar perto, e outra coisa que estamos desenvolvendo agora também, são os lambe-lambes, de colar lambes pelas escolas.
“Outra ideia é do Centro Acadêmico realizar um evento, com todos os protocolos segurança, que é um evento com a professora Soraia Chung, uma professora da EEFE-USP, com 80 alunos em um campus da EEFE, onde ela realizará os jogos nativos, em que os alunos levarão alimentos e produtos de higiene pessoal, entre outras coisas”, destacou.
Para custear os itens, os estudantes pretendem arrecadar R$ 27.790,94 através de doações, patrocínios e elaboração de eventos futuros. Eles também lançaram uma campanha de arrecadação coletiva na internet.
Informações:
Instagram e Facebook do projeto
Doações:
https://benfeitoria.com/projetoampararmulheres