Pastor que ocupava cargo no MEC é apontado como pivô em caso de pastores lobistas que cobravam propina para liberar repasses da pasta
Uma arma de fogo de propriedade do ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro, Milton Ribeiro, disparou, acidentalmente, durante a tarde da última segunda-feira (25), no balcão da companhia aérea Latam, no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. Uma funcionária da Gol, que estava em um guichê vizinho, foi atingida por estilhaços.
O ex-ministro bolsonarista foi levado para a Superintendência da Polícia Federal, onde prestou depoimento. Ele embarcaria para São Paulo às 19h50.
Ribeiro disse à Polícia Federal que, como havia feito o “despacho de arma de fogo” pela internet, chegou ao balcão da companhia aérea por volta das 17h e, que, ao abrir sua pasta de documentos, pegou a arma para separá-la do carregador “dentro da própria pasta, momento em que ocorreu o disparo acidental”.
“Como havia outros objetos dentro da pasta, o local ficou pequeno para manusear a arma”, disse o ex-ministro, em depoimento.
Ainda de acordo com as declarações à PF, Milton Ribeiro afirmou que “com medo de expor sua arma de fogo publicamente no balcão, tentou desmuniciá-la dentro da pasta, ocasião em que ocorreu o disparo acidental”.
“O projétil atravessou o coldre e sua pasta e se espalhou pelo chão”, diz o depoimento.
Segundo o ex-ministro, não havia outros passageiros no balcão, “apenas a funcionária da Latam”.
A concessionária privatizada Inframerica, responsável pela administração do Aeroporto de Brasília disse que não falaria sobre o caso porque, por se tratar de arma de fogo, o assunto foi conduzido pela Polícia Federal.
Milton Ribeiro disse ainda que ele mesmo perguntou às pessoas que foram ao local do incidente se alguém havia sido atingido com estilhaços, “momento em que não apareceu qualquer vítima”.
Ribeiro contou que estava em Brasília “com o fim de resolver pendências administrativas”, e que havia chegado ao meio-dia na capital federal.
Resolução nº 461 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) indica os procedimentos de despacho de armas de fogo e de munição. De acordo com o documento, “a realização do descarregamento das armas de fogo despachadas é de responsabilidade do passageiro e deve ocorrer previamente à chegada ao aeródromo ou no aeródromo, em local disponibilizado pelo operador de aeródromo”.
Ou seja, se o descarregamento ocorrer no aeroporto, a exigência é que o manuseio da arma de fogo ocorra exclusivamente no local destinado a essa prática. Em Brasília, esse espaço fica na sala da PF, localizada no desembarque doméstico. Entretanto isso não aconteceu, já que segundo a defesa do ex-ministro, o disparo ocorreu por “excesso de zelo”, já que ele não quis retirar a arma de dentro da pasta.
MUDANÇA APÓS A DEMISSÃO
Em seu depoimento, Milton Ribeiro afirmou que despacharia a arma por estar de mudança de Brasília após ser exonerado do cargo de ministro da Educação. Ele foi afastado numa tentativa de Bolsonaro de reduzir o impacto das denúncias de corrupção na pasta.
Milton Ribeiro é acusado de favorecer um esquema de lobby dentro do MEC organizado por pastores que cobravam propina de prefeituras em troca de repasses volumosos de recursos. Segundo gravação divulgada pela imprensa, Milton Ribeiro orientou que os pastores fossem favorecidos a “pedido de Bolsonaro”.
Em um dos casos, os pastores chegaram a cobrar 1 quilo de ouro em propina de uma cidade do interior do Maranhão.
Além da propina em espécie, a negociação envolvia compra de apoio político. Uma bíblia com fotografia do ex-ministro, que é pastor evangélico, chegou a ser distribuída em evento oficial do MEC.
O Ministério da Educação também é alvo de outras denúncias de corrupção, entre eles o uso de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para o favorecimento de aliados e a compra de kits de robótica para escolas de Alagoas, onde sequer existe estrutura básica, como refeitório ou banheiro.
O estado é reduto eleitoral do presidente da Câmara, Arthur Lira, e a empresa vencedora da licitação pertence a aliados do parlamentar.
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