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Uma aluna morreu e outros três estudantes ficaram feridos após um ataque a tiros dentro da Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, na manhã desta segunda-feira (23).
Segundo informações preliminares, o atirador é um aluno, de 16 anos, da escola e estava usando uniforme durante o ataque. O adolescente sofria bullying e avisava “havia semanas” que praticaria um atentado contra seus agressores, segundo alunos da escola.
Os estudantes contam que ele era perseguido por colegas e que constantemente apanhava na escola. “Ele avisou há semanas. Ele falava que ia atacar a escola e ninguém fez nada”, criticou um aluno.
Em um vídeo recente publicado no Twitter, o jovem apontado como o autor dos disparos entra em luta corporal com duas colegas de sala.
“Todo mundo sabia, a diretora também”, disse Regina Bezerra, que é mãe de um aluno da unidade escolar.
O estudante aguardou a passagem da suposta agressora em um correto no segundo andar e, por volta das 7h15, atirou na nuca da estudante. Um vídeo feito por câmeras de segurança da escola e que vazou no Twitter mostra uma pessoa encapuzada atirando na cabeça de uma menina pelas costas e à queima-roupa. A aluna de 15 anos não sobreviveu.
Outro aluno de 16 anos disse que estava na sala ao lado quando os tiros foram ouvidos. “A gente colocou cadeiras e mesas para bloquear a porta e deitamos no chão”, disse. “Todo mundo ficou desesperado. Depois de um tempo, a diretoria mandou a gente sair pela escada de emergência.”
O estudante que voltava com o atirador todos os dias para casa disse ao UOL que “ele sofria muito bullying, mas não achava ele violento.”
Durante o ataque, este aluno estava no laboratório. “A gente ouviu os tiros e todo mundo deitou no chão. Depois a gente colocou duas mesas na frente das duas portas do laboratórios e ficamos deitados.”
Outras duas vítimas foram baleadas e permanecem em estado estável, mas sem risco de morrer. Uma terceira pessoa se machucou ao tentar fugir do ataque, segundo informações da Seduc (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo).
Todas as vítimas foram levadas ao Pronto-Socorro Sapopemba e não correm risco de morte, de acordo com um coronel da Polícia Militar.
Em nota, o presidente Lula lamentou o ataque e criticou o acesso de jovens à armas de fogo. Segundo a Polícia Civil de São Paulo, a arma utilizada no ataque pertencia ao pai do atirador e está legalizada.
“Recebi com muita tristeza a notícia do ataque na Escola Estadual Sapopemba, Zona Leste de São Paulo. Meus sentimentos aos familiares da jovem assassinada e dos estudantes feridos. Não podemos normalizar armas acessíveis para jovens na nossa sociedade e tragédias como essas”, afirmou o presidente Lula.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que se dirigiu à escola após o ataque, disse estar consternado com o ocorrido.
“Estamos consternados com mais um terrível ataque nas nossas escolas. Na manhã de hoje, três alunos foram atingidos a tiros na Escola Estadual Sapopemba e um deles, infelizmente, não resistiu. O autor dos disparos e a arma foram apreendidos. Nesse momento, a prioridade é apoiar os estudantes, professores e familiares. Toda minha solidariedade às famílias e a todos os afetados neste triste episódio”, afirmou Tarcísio em suas redes sociais.
“Se você me perguntar se eu tenho todas as respostas para lidar com esse tipo de situação, eu sinceramente não tenho. Ninguém quer ver alunos morrendo. Ninguém quer isso. A sensação que fica é de frustração. O governo falhou? Provavelmente, falhamos em alguma coisa. A gente não queria ter falhado”, disse Tarcísio, em entrevista coletiva em frente à escola.
VETO A PSICÓLOGOS
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) comentou a postagem do governador e pediu que ele “reavalie” o veto à contratação de psicólogos e assistentes sociais nas escolas que foi aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
“Precisamos transformar a nota de solidariedade e consternação em ação”, afirmou o deputado. “O senhor vetou uma lei importantíssima que garantia psicólogo e assistente social nas escolas. Reavalie”, continuou.
A União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), também alertou para o descaso com a saúde mental dos estudantes das escolas públicas paulistas.
“Passamos por anos nefastos onde a violência e o discurso de ódio foram incentivados e, infelizmente, vimos estes comportamentos serem replicados. Além disso, os impactos da pandemia ainda são sentidos em muitos jovens que necessitam de maior atenção da sociedade”, destaca a UMES em nota.
“Nossa solidariedade aos familiares, amigos, colegas e alunos da E. E. Sapopemba toda comunidade escolar que foi vítima deste triste evento. Por uma escola sem violência e segura para todos”, ressalta a entidade.
CRIMES CIBERNÉTICOS
O ministro da Justiça e Segurança, Flávio Dino, acionou o Laboratório de Crimes Cibernéticos para investigar a ligação entre o autor do atentado a grupos extremistas na internet, especialmente no Discord, onde o aluno teria anunciado previamente que realizaria o ataque e foi incentivado por outros integrantes do grupo.
O Ciberlab do Ministério da Justiça está tentando acompanhar o caso com a Polícia Civil do Estado de São Paulo e ofereceu colaboração na investigação do caso.
Dino anunciou a investigação conjunta na rede social X, o antigo Twitter. “Solidariedade às vítimas, suas famílias e à comunidade da escola estadual de São Paulo, alvo de ataque com arma de fogo. Laboratório de Crimes Cibernéticos do Ministério da Justiça foi acionado para auxiliar a Polícia de São Paulo a aprofundar as investigações”, escreveu Dino.
Em nota enviada à Hora do Povo, a plataforma Discord afirma estar cooperando com as autoridades. A plataforma não se refere ao caso da E E Sapopemba, ou se as declarações do adolescente que cometeu o ataque foram identificada pelos seus mecanismos.
“Quando tomamos conhecimento de conteúdo ou comportamento potencialmente prejudiciais, investigamos e tomamos as devidas medidas, incluindo: remover conteúdo, banir usuários e desativar servidores”, afirma a plataforma.
Leia a íntegra da nota do Discord:
Estamos cientes do trágico ataque que ocorreu na escola em Sapopemba, em São Paulo, e temos cooperado com as autoridades, assim como fizemos desde o início deste ano para outras investigações, como na Operação Escola Segura.
Temos políticas rigorosas contra atividades que promovam violência e ódio, incluindo “não ameaçar ou prejudicar outro indivíduo ou grupo de pessoas”. Quando tomamos conhecimento de conteúdo ou comportamento potencialmente prejudiciais, investigamos e tomamos as devidas medidas, incluindo: remover conteúdo, banir usuários e desativar servidores. Estamos comprometidos em cooperar com as autoridades locais para proporcionar um ambiente positivo e seguro para nossos usuários no Brasil.
É importante ressaltar que o Discord é amplamente utilizado pelas pessoas para ter interações positivas e para se reunir com amigos. No Brasil, 99% dos usuários de Discord não violaram nossas políticas nos últimos 6 meses.