Centenas de integrantes da comunidade judaica de São Paulo lotaram o salão da sinagoga da Comunidade Shalom, neste domingo (26) para participar do evento de iniciativa do Instituto Brasil-Israel (IBI) denominado “Ato em Defesa da Democracia em Israel”.
Lideranças judaicas se sucederam em pronunciamentos para condenar o projeto patrocinado pelo primeiro-ministro em conluio com sua coalizão ultradireitista que visa a supressão do Poder Judiciário, através de uma intervenção que anularia a condição da Corte Suprema de vigilância e de defesa dos direitos humanos estabelecidos na Declaração de Independência do Estado de Israel.
COVARDIA CONTRA A DEMOCRACIA
O líder da Comunidade Shalom, o rabino Adrian Gottfried, abriu a rodada de pronunciamentos pontuando o que é antijudaico na “tentativa covarde de diminuir a democracia israelense em nome de uma suposta reforma judicial: nomear ministros corruptos, excluir mulheres dos espaços públicos e desemerecer o feminicídio, não escutar a população que está gritando, não ouvir o alerta de cientistas, políticos, generais e até políticos da própria coalizão”.
“Vamos nos manifestar em favor da Democracia Israelense e apoiar todos os que estão lutando para mantê-la viva”, conclamou o rabino Adrian.
NÃO AO RACISMO E SUPREMACISMO
Em nome do IBI se pronunciou o dirigente David Diesendruck, chamando todos a se manifestarem. “Aqueles que estão em silêncio são coniventes com os enormes danos à sociedade israelense”, declarou David. “Vamos ficar quietos diante de declarações racistas e supremacistas de membros desta coalizão?”, questionou, para responder logo a seguir, ao final do seu pronunciamento: “Sim, nós devemos acreditar, ter fé, que podemos contribuir nesta luta. Já vivemos momentos em que o silêncio, a omissão, a atitude do ‘vai passar’ foram trágicas para o nosso povo. Precisamos fazer a nossa parte antes que seja tarde demais”.
“Vamos nos manifestar pela democracia e apoiar todos os que lutam para mantê-la”, declarou o rabino Rubem da Congregação Israelita Paulista.
Integrantes dos grupos judaicos juvenis, Hashomer Hatzair, Ichud Habonim, Noam, Chazit, se revesaram na leitura da carta em “Defesa da Democracia em Israel”, que já ultrapassa as duas mil assinaturas e a ser endereçada ao presidente de Israel, Isaac Herzog.
A carta, de iniciativa do IBI e assinada solidariamente pela Casa do Povo, Comunidade Shalom, além de outras entidades judaicas, alerta que a aprovação do ataque de Netanyahu à Corte Suprema afetaria “negativamente a proteção das minorias, das mulheres e dos direitos humanos” e finaliza com a conclamação: “Manifestamos nosso apoio e solidariedade aos israelenses que lutam pela manutenção da democracia, e conclamamos a população judaica brasileira para que faça o mesmo, repudiando qualquer ameaça ao Estado Democrático de Direito no país”.
BANDEIRAS E CANTOS PELA PAZ E ESPERANÇA
Com bandeiras de Israel e do Brasil presentes, foram cantadas músicas pela paz e pela esperança no futuro. A rabina Fernanda Tomchinsky se fez acompanhar pelos presentes em uma oração pela paz em Israel e em todo o mundo.
No mesmo domingo em que o ato acontecia em São Paulo, as manifestações começaram a se acirrar, vararam a noite em Israel e desembocaram, nesta segunda, em centenas de milhares diante do Knesset, o parlamento israelense e uma greve geral convocada pela Central Sindical Histadrut, até que, ao final do dia, Netanyahu anunciou a suspensão da votação da famigerada lei.
A Confederação Israelita Brasileira (Conib) “que representa a pluralidade da comunidade judaica brasileira” saudou o recuo e o sustar de medidas que a entidade denomina “projetos polêmicos” e que “causaram imensos protestos e a paralisação do país”.
Mas, como alerta, em matéria de hoje, o jornalista Amir Tibon do jornal israelense Haaretz, “os que protestavam em favor da democracia em Israel venceram uma batalha, mas não a guerra”, e prossegue, conclamando: “A pressão sobre Netanyahu precisa continuar enquanto a ameaça à democracia israelense continuar viva”.