O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Pandemia, afirmou que o relatório da investigação acusará o governo Bolsonaro de crimes contra a vida e crime sanitário, além de corrupção, e não poderá ser ignorado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
“Nosso relatório está indiciando e falando de muita gente, com o auxílio de uma equipe de juristas, profissionais da saúde, advogados. Nosso relatório é muito consistente”, disse Omar.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador foi questionado se as acusações contra Jair Bolsonaro não seriam engavetadas por Augusto Aras, que é o procurador-geral.
“Augusto Aras não é dono da verdade, não pode sentar [no relatório]. Você está falando só em relação ao presidente. Tem outros fatores, nem tudo passa pelo Augusto Aras. E mesmo assim você pode levar ao Supremo notícia-crime, e o Supremo manda o Ministério Público abrir o procedimento, já aconteceu isso”, respondeu o presidente da CPI.
“Tu está achando que o cara vai matar isso no peito [e arquivar] e vai dizer: ‘Não, pera aí, eu mato isso no peito e vou resolver’. Não é assim, não”.
“Não dá para você achar que uma instituição como o Ministério Público Federal, que tem procuradores de vários pensamentos, ache normal chegar a 600 mil vidas [perdidas] e fazer de conta que não está acontecendo nada, jogar para debaixo da mesa”, continuou.
Omar Aziz disse que a CPI vai acusar o governo Bolsonaro de “crime contra a vida, que é a questão do tratamento precoce propagado. Isso levou a óbito muitas pessoas”.
“Crime sanitário, omissão do governo, e aí não é só em relação ao governo federal, ao que aconteceu na cidade de Manaus, com a falta de oxigênio. Ao invés de se mandar oxigênio, mandou uma equipe para propagar o tratamento precoce”, pontuou.
Também há “indícios fortíssimos, e até agora não chega ao presidente Bolsonaro, no Ministério da Saúde de compra para tirar vantagem da vacina, principalmente da Covaxin. E aí o presidente entra quando é alertado pelo Luís Miranda, ele não toma providência”.
Por não ter denunciado um esquema de corrupção do qual foi alertado, Jair Bolsonaro incorreu no crime de prevaricação.
Omar Aziz falou que a CPI não deverá colher outro depoimento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, porque ele está em quarentena nos Estados Unidos, onde confirmou que está com coronavírus.
O ministro “está completamente desmoralizado. Queiroga abaixou a cabeça e levantou os dedos. Ele não conseguiu tirar a capitã cloroquina da equipe, manda fazer um estudo para tirar a máscara”.
“A única diferença dele para o Pazuello é que ele é médico. Os dois são cumpridores de ordem. Um manda, outro obedece. Só que um fardado e outro de bata branca”, comparou.
PREVENT SENIOR E A CLOROQUINA
A entrega do relatório da CPI foi adiada por conta de uma nova investigação que foi aberta sobre o uso de cloroquina sem autorização dos pacientes na rede Prevent Senior. A rede também ocultou a morte de pacientes com Covid-19.
Omar Aziz acha “que o caso da Prevent Senior está provado. Admitiram que há subnotificação, que o paciente entrava com Covid e quando ia a óbito eles colocavam outro tipo de doença”.
O senador enxerga uma ligação entre a Prevent e a política do governo Bolsonaro, que orientava o uso de cloroquina mesmo sabendo que a droga não ajuda no tratamento contra o coronavírus. “O governo adotou essa medida”, falou Omar.
“Para eles, era uma propaganda positiva, aumentou o número de usuários do sistema Prevent Senior”.
“Essa autonomia médica que todo mundo fala, o Bolsonaro fala, permitiu que os caras fizessem o que quisessem. Permitiu que uma associação lá do Nordeste, o Médicos pela Vida, publicasse páginas inteiras defendendo o tratamento precoce”, afirmou.
“Naquele momento, você não tinha conhecimento, hoje eu tenho certeza de que esses médicos fazem autocrítica de ter comunicado aquilo sem saber”, continuou.
A CPI ouviu a médica Nise Yamaguchi e o empresário Carlos Wizard, que fazem parte do “gabinete paralelo”, cúmplice de Jair Bolsonaro na defesa de posições negacionistas, como a imunidade de rebanho e o tratamento precoce com cloroquina.
Nise entrou na Justiça contra Omar Aziz por conta das discussões na CPI. “Você acha que quem propagou tratamento precoce, cloroquina, ivermectina são pessoas inocentes que têm de ser respeitadas? Não me excedi. Isso foi usado contra o meu Estado. Eu estou falando com uma pessoa que propagou a morte”, declarou o senador.
“Eu me arrependo, sim, foi de não ter prendido o Carlos Wizard. Esse tem de ir para a cadeia. Porque ele é um charlatão, está certo? Se utilizando de um nome que ele ganhou enganando os brasileiros, aí propagava: ‘Hahaha, você sabe lá quem morreu? É quem ficou em casa’”, acrescentou.