Desde que Fabrício Queiroz foi preso, Bolsonaro estava emudecido, acuado e com medo. Passaram-se quase duas semanas e ele não disse quase nada. Nenhuma besteira. Um recorde. Há quem diga que ele não aguentaria muito tempo e, em breve, entraria numa espécie de síndrome de abstinência e voltaria ao seu “normal”.
Não deu outra. Queiroz foi para casa e ele imediatamente voltou a falar. Ao comentar um projeto da ministra Damares Alves, na quarta-feira (14), ele resolveu atacar desrespeitosamente a oposição. Disse que “a esquerda busca meios de descriminalizar a pedofilia, transformando-a em uma mera doença ou opção sexual”.
É sabido que Bolsonaro usou e abusou deste tipo de expediente durante a campanha eleitoral e depois. Ele mesmo admitiu isso na quinta-feira passada (09), ao reclamar da derrubada das páginas bolsonaristas pelo facebook.
“Isso me elegeu presidente da República”, disse Bolsonaro, sobre o uso das mídias sociais para atacar desafetos.
Ele chamou de perseguição as acusações de produção de notícias falsas e material de ódio por assessores. “Tentam no tapetão o tempo todo querer derrubar a chapa Bolsonaro-Mourão ou desqualificar o governo ou desgastar o governo, mas não apresentam uma prova sequer”, argumentou.
O que foi feito por ele na campanha já foi classificado como fake news.
O bolsonarismo tentou à época associar o PL 236/2012 do Senado a uma suposta descriminalização da pedofilia, dizendo que tinha sido uma iniciativa da “esquerda”. As duas coisas foram desmentidas pelos órgãos de controle.
Primeiro, o PL 236 tratava sobre o novo código Penal e não alterou nada sobre as punições relacionadas à pedofilia. A idade de iniciação sexual foi mantida em 14 anos após um salutar debate sobre o tema.
E, segundo, os relatores da matéria foram, primeiro o senador José Sarney (MDB), e depois o senador Antônio Anastasia (PSDB), nenhum dos dois eram adeptos de Karl Marx ou Lenin, e nem mesmo de Willy Brandt.
Essa conversa, ressuscitada por Bolsonaro, de que o debate havido na época da mudança do Código Penal, conduzida por Sarney e Anastasia, representavam uma ameaça à moral e as bons costumes, está na cabeça de pessoas retrógradas, pervertidas e obscurantistas de toda ordem.
E é público e notório que o governo Bolsonaro está repleto desse tipo de gente, a começar pelo Planalto e pelo Ministério em questão, o da Damares Alves.
Como este é um tema já esclarecido, espera-se para qualquer momento mais uma derrubada da postagem de Bolsonaro pela rede onde ele publicou mais essa fake news.
Mentir novamente, como fez Bolsonaro, visa desviar a atenção sobre os graves delitos identificados no círculo mais íntimo do presidente, como é o caso do ex-assessor de seu filho, Fabrício Queiroz, e o escândalo do advogado da família, Frederick Wassef, ter escondido Queiroz em sua casa de Atibaia por mais de um ano.
Sem falar nos inquéritos que correm no STF para investigar a tentativa de Bolsonaro de aparelhar a Polícia Federal e também para desvendar quem são os financiadores de atos antidemocráticos apoiados por ele e do “gabinete do ódio”, que existe dentro do Palácio do Planalto.