“Trump deixa para trás um sistema sanitário saturado, com mais de 300.000 mortos”, afirmou o jornalista norte-americano Bob Woodward, na entrevista concedida ao jornal EL PAÍS, no dia 15 último. Woodward se tornou conhecido ao revelar, ainda muito jovem, junto com Carl Bernstein, o assalto à sede do Partido Democrata, o escândalo Watergate, que levou o presidente Richard Nixon a renunciar em 1974.
A jornalista do El País, Amanda Mars, que conduz a entrevista com o jornalista, lembra que “há cerca de seis meses, quando faltava meio ano para o primeiro mandato de Donald Trump terminar, o legendário repórter de 77 anos acreditava que ‘qualquer coisa’, ou pelo menos ‘quase qualquer coisa’, ainda poderia ocorrer no restante da presidência do republicano.
Na entrevista, Woodward ressalta que “Trump age controlado por seus próprios impulsos, não planeja, não pensa as coisas, de um modo muito alarmante falhou na hora de proteger as pessoas deste país, tanto do vírus como da violência”, disse o jornalista que já escreveu dois livros sobre o atual ocupante da da Casa Branca, um deles intitulado simplesmente “Medo”.
Woodward, que em seu livro trata o governo que sai como “febril e errático”, considera que “Trump é um especialista em dizer coisas que não são verdade”.
“Ele e seu secretário de Justiça, William Barr, desafiaram várias vezes o tradicional Estado de Direito. O sistema constitucional pode ter parecido eventualmente cambaleante, que podia mudar da noite para o dia. Mesmo assim, a democracia resistiu”, prossegue.
E reafirma: “A democracia nos Estados Unidos resistiu, embora tenha sofrido abalos, como o que ocorreu na semana passada quando o Capitólio foi atacado, mas o fracasso foi Trump, fracassou em entender a responsabilidade de sua presidência”.
“As coisas pelas quais Trump foi submetido ao impeachment ―incitar uma revolta no Capitólio― são horríveis, e algumas pessoas morreram ali. Mas o vírus matou mais de 300 mil pessoas. Não digo que ele poderia evitar todas elas, mas muitas sim, simplesmente pedindo às pessoas que usassem máscara, que mantivessem a distância de segurança, que lavassem as mãos. Se tivesse feito isso em fevereiro, talvez o vírus estivesse sob controle neste país”, salienta.
Coube a Woodward, no seu segundo livro, “Raiva”, após entrevistar Trump por nove horas, revelar por suas próprias palavras que ele sabia que o vírus era mortal e que durante meses confundiu deliberadamente a opinião pública em seu país, dizendo ao povo que “praticamente o paramos” ou que “um dia desaparecerá como por milagre”.
Segundo diz Woodward no livro, Trump ainda acrescentou que sabia do perigo: “Você simplesmente respira e se contagia”.
E admitiu mais: “E isso é muito complicado. É muito delicado. É mais mortal inclusive que uma gripe intensa. É algo mortal”. Mais adiante, Trump procurou se justificar dizendo: “Ainda gosto de minimizar sua importância, porque não quero criar pânico”, como se o morticínio que se seguiu às suas mentiras e negligências já não provocassem sofrimento e pavor suficientes.