O terrorista George Washington, que tentou explodir um caminhão com combustível em Brasília, negociou e vendeu armas de fogo para outros bolsonaristas que estavam no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército.
Mensagens obtidas pela Polícia Civil do DF e divulgadas pelo UOL mostram que, em novembro de 2022, George Washington estava negociando armamentos com pelo menos dois acampados.
Um deles, o fazendeiro Álvaro Canevari, disse que queria uma carabina .357 e que estava se preparando para uma “guerra civil” caso roubassem “a eleição do Bolsonaro”.
A mensagem, enviada no dia 12 de novembro, é posterior à vitória de Lula nas eleições presidenciais. O então presidente Bolsonaro não tinha reconhecido publicamente sua derrota e dava esperanças para o movimento golpista que se formou em frente aos quartéis.
“A carabina .357 cano octogonal vai chegar 2 até início dezembro [sic]. Já estão liberadas, só aguardando a fábrica enviar”, informou George Washington, que estava em Goiânia (GO).
Ele citou ainda armas de calibre .12 e “carregador com 3, 5 e 10 cartucho”. “Dá para começar uma guerra hem!!!”, comentou.
Álvaro Canevari respondeu com um áudio: “Vamos precisar, viu? Porque o Brasil vai entrar em uma guerra civil ano que vem se o Bolsonaro… se eles roubarem… se roubarem a eleição do Bolsonaro, o Brasil vai entrar em uma guerra civil”.
Canevari disse que seu “maior interesse” era na carabina .357. Ao longo da conversa, George Washington enviou mais de 20 fotos de armas para o amigo e disse que “pelos preços que vi aqui em Goiânia estou mais barato”.
George trabalhava como gerente de um posto de gasolina no Pará e, segundo a dona do estabelecimento, recebia um salário entre R$ 4 e R$ 6 mil. Quando foi para Brasília participar do movimento golpista, ele já carregava “diversas armas de fogo, acessórios e munições”, além de dinamites, segundo sua condenação no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).
O relatório da Polícia Civil mostra George Washington conversando com um amigo sobre outra arma que teria vendido para um dos acampados.
Ermeto Silva dos Santos, que é investigado por ter ajudado George Washington na tentativa de explodir o caminhão-tanque, no dia 24 de dezembro de 2022, perguntou ao amigo sobre a entrega de uma Glock para uma terceira pessoa.
“Ei, Washington, o Tiago está perguntando se tu trouxe a Glock dele já”, questionou. O relatório não mostra a resposta de George.
Ermeto ainda foi flagrado combinando, no dia 13 de dezembro, a ida para uma loja onde iriam comprar pólvora, toucas para esconder o rosto e uma mochila.
“Vem umas oito horas para nós ir lá. Tem que ser rápido a missão. Tem que fazer uns protótipos aqui. Tem que fazer e testar, fazer e testar”, falou Ermeto a George Washington.
Quatro dias depois, Ermeto enviou por mensagem uma foto dele usando uniforme militar e uma balaclava, que é um tipo de touca que esconde o rosto da pessoa.
No dia 24 de dezembro de 2022, George Washington e outros bolsonaristas tentaram explodir um caminhão com 63 mil litros de querosene de aviação no Aeroporto de Brasília.
O objetivo do grupo era “dar início ao caos” para que as Forças Armadas dessem um golpe de estado, impedindo a posse do presidente eleito, Lula. O plano deu errado porque eles não foram capazes de explodir a bomba.
George Washington de Oliveira Sousa foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão pelos crimes de incêndio, de expor a perigo a vida, porte ilegal de arma de fogo e artefato explosivo.
Alan Diego dos Santos Rodrigues, outro terrorista, foi condenado a cinco anos e quatro meses de prisão pelos dois primeiros crimes citados.
George Washington conheceu os demais que participaram do plano terrorista no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.
Esse mesmo acampamento foi usado como base para o início da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, quando o Palácio do Planalto e as sedes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional foram invadidos e depredados.