Além da cloroquina, o pequeno ato de Bolsonaro pediu também o fechamento do Congresso Nacional e do STF. O presidente afirmou que não havia nenhuma faixa desrespeitando a Constituição
Em sua cruzada para aumentar o número de infectados pelo coronavírus no Brasil, Jair Bolsonaro promoveu mais uma aglomeração neste domingo em frente ao Palácio do Planalto. Segundo a jornalista Flávia Said, do site Congresso em Foco, já é a 63ª violação ao isolamento social do presidente.
O ato muito fraco fez Bolsonaro baixar um pouco a bola e economizar nas agressões aos outros poderes. Todos usavam máscaras. Os organizadores fingiam que o ato não era a favor do golpe, tentando, sem sucesso, impedir a presença das faixas contra o STF e o Congresso Nacional.
Mesmo com a padronização das faixas mais visíveis, feitas pelo partido “Aliança pelo Brasil” – que ainda não conseguiu as assinaturas necessárias para o seu registro – e a intensa convocação da milícia digital bolsonarista, o presidente insistiu em dizer que era um movimento “espontâneo do povo”.
Um pouco mais distante estavam as faixas golpistas pedindo a volta da ditadura e o fechamento do Congresso e do STF. Mesmo assim, Bolsonaro disse: “É uma manifestação pura da democracia”.
“Fico muito honrado com isso. Tenho certeza de que movimentos como esse fortalecem o nosso Brasil acima de tudo”, disse Bolsonaro, ladeado por alguns ministros, em transmissão ao vivo.
No trio que acompanhou o percurso, os organizadores colocaram um boneco inflável com o rosto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que segurava um símbolo de dinheiro, vestia uma camisa com o escudo do Botafogo e a logomarca da empresa Odebrecht.
Na última quinta-feira, Bolsonaro recebeu Maia no Palácio do Planalto.
Um acampamento intitulado “Renuncia Maia” foi montado na Esplanada dos Ministérios, com faixas pedindo a saída de Rodrigo Maia.
“Nem uma faixa nem uma bandeira que atente contra a nossa Constituição, contra o estado democrático de direito. Nisso, o movimento está de parabéns”, afirmou Bolsonaro.
Durante a semana, outro acampamento, também de apoiadores de Bolsonaro, estava montado na Esplanada, com o nome de 300 do Brasil. O Ministério Público do Distrito Federal chegou a pedir à Justiça a desmobilização do acampamento do grupo 300 do Brasil por representar perigo para a democracia.
O pedido foi negado para “garantir a sobrevivência da liberdade de pensamento, da liberdade de locomoção e ao direito de reunião”.
A não ser a “militância raiz” bolsonarista, pouca gente, como de costume, aderiu ao chamamento do presidente para mais essa aglomeração midiática. A novidade do ato é que todos os ministros foram obrigados a mostrar alinhamento automático e tiveram que estar presentes na rampa.
Nem todos obedeceram. Bolsonaro levantou o braço de um por um dos onze ministros presentes, como se tivesse fazendo uma chamada. Estavam presentes os ministros da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, da Cidadania, Onyx Lorenzoni, da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, do Ministério da Justiça, André Mendonça, e da Agricultura, Tereza Cristina.
O fanatismo dos bolsonaristas presentes ao ato deste domingo ficou bastante explícito com os gritos de “cloroquina!”, “cloroquina!” e nas faixas pedindo o remédio que é propagandeado pelo presidente.
Estudos científicos indicam que não há evidências da eficácia da cloroquina no tratamento do coronavírus – ao contrário, pode provocar efeitos colaterais capazes de levar à morte do paciente em determinadas circunstâncias, segundo médicos e especialistas.
Depois de provocar a saída do segundo ministro da Saúde em um mês, depois de reter os recursos emergenciais a estados e municípios e seguir desdenhando a gravidade da pandemia, Bolsonaro desrespeitou novamente as autoridades sanitárias.
Ele tirou a máscara para dizer que “o governo federal tem dado todo o apoio para atender as pessoas que contraíram o vírus. Esperamos brevemente ficar livre dessa questão, para o bem de todos nós. O Brasil, tenho certeza, voltará mais forte de tudo isso. O que mais queremos é resgatar os valores que formam a nossa nacionalidade: respeitar a família, ter uma boa política externa…”, disse ele em vídeo divulgado em seu Facebook.