“E daí?”, respondeu ele ao ser questionado sobre o número crescente de mortos no Brasil
Jair Bolsonaro sabota de todas as formas possíveis o combate que o Brasil faz ao coronavírus. Nesta quinta-feira (07) ele interrompeu uma reunião com industriais que foram a Brasília pedir ajuda para enfrentar a crise e os arrastou numa caminhada ridícula até a sede do Supremo Tribunal Federal (STF) para pressionar a corte pelo relaxamento das medidas de proteção da população.
Usou e constrangeu os empresários do setor produtivo para, junto com ele, chantagear o STF pelo fim da quarentena. Esses mesmos empresários disseram após a reunião que foram surpreendidos com a pauta do presidente.
Segundo alguns deles, foram pedir ajuda para a travessia da crise e não pressionar pelo relaxamento da quarentena.
O presidente-executivo da Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos, José Velloso, disse que foi iniciativa do presidente trazer o assunto para a reunião, que os empresários queriam tratar da competitividade do setor.
“Não estava na nossa agenda inicial, mas o presidente Bolsonaro trouxe a discussão da flexibilização do isolamento no país. E é consenso de que nós precisamos sim de uma estratégia. Estratégia correta, tomando todos os cuidados, o máximo cuidado com os trabalhadores, para poder sair da forma mais rápida possível, identificando o que será necessário para essa nova etapa da retomada da economia brasileira”, afirmou.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, José Ricardo Roriz Coelho, que também participou da reunião, reforçou que qualquer medida tem que ser tomada sem trazer risco para as pessoas.
“Nós precisamos de uma coordenação, nós precisamos ter um trabalho conjunto para que a volta da atividade, não só atividade industrial, mas o comércio etc, seja feita da melhor maneira possível sem risco para as pessoas e preservando o maior número de empregos possível”, disse.
A ideia fixa do presidente é que os brasileiros têm que se infectar logo pelo coronavírus. Ou seja, ele trabalha incessantemente a favor da Covid-19. Por isso manipulou os empresários.
Promove aglomerações, chama a pandemia de gripezinha, não diz uma palavra às famílias das mais de 9 mil vítimas da doença, critica as medidas de isolamento social – única forma adotada no mundo inteiro para proteger a população -, e amplia ao máximo os setores considerados essenciais. Por ele, todos os brasileiros estariam trabalhando, se aglomerando e se infectando.
Já defendeu a abertura de igrejas, de lotéricas, e por aí vai. A lista elaborada por ele de setores essenciais já contém 50 itens, mas, não satisfeito, ele hoje assinou mais um decreto incluindo também a construção civil e “atividades industriais”, assim mesmo, genericamente, ou seja, toda a indústria.
Essa verdadeira campanha de Bolsonaro para ajudar o coronavírus a matar mais brasileiros só não provoca mais estragos na população porque o STF estabeleceu que Estados e municípios têm o poder de estabelecer políticas de saúde, inclusive questões de quarentena e a classificação dos serviços essenciais.
Isso limita as consequências nefastas das insanidades de Bolsonaro. Por isso ele manipulou os empresários que foram em busca de créditos. Ele criou um espetáculo midiático com o intento de pressionar o STF a mudar de posição e autorizá-lo a promover a matança de mais gente.
Os mais de 130 mil infectados e os mais de 9 mil mortos não sensibilizam nem um pouco o presidente. A última vez que conseguiram que ele falasse alguma coisa sobre o número de mortos no país, ele respondeu: “E daí? O que você queria que eu fizesse? Eu sou messias mas não faço milagre”, disse ele ao repórter.
O fato de pacientes estarem na fila de UTI também não o sensibiliza em nada. Quando uma pessoa precisa de uma UTI é porque o caso é muito grave. Se não vai para a UTI, a pessoa morre rapidamente. E, no Rio são mais de 300 pessoas esperando na fila de um leito de UTI. É o colapso do sistema de saúde.
Nenhuma palavra foi dita pelo presidente sobre essa tragédia.
A única vez que ele falou em UTI foi para dizer que as empresas estão na UTI e precisam ser salvas. Por isso todos tinham que voltar ao trabalho.
A forma mais eficaz de Bolsonaro ajudar o coronavírus é fazer o que ele e Guedes vêm fazendo nos últimos tempos. Retém ao máximo a liberação dos recursos emergenciais já aprovados pelo Congresso Nacional, criam toda a sorte de exigências burocráticas para que milhões de pessoas tenham que passar a noite aglomerados em filas para poderem ter acesso aos recursos.
Estrangulam os estados e municípios, criando impasses e exigências de contrapartidas inaceitáveis com o único intuito de atrasar os repasses urgentes para o enfrentamento da crise. Se possível, eles nem passavam nada, mas, como isso é impossível, eles seguram os recursos o máximo que podem.
Exigem validação de CPF, título de eleitor, RG, etc. Tudo o que eles puderem fazer para dificultar a vida do povo e obrigarem a população a se aglomerar nas agências da Receita, da Caixa, etc, eles fazem.
Passaram R$ 1,3 trilhão rapidinho aos bancos, no que eles chamaram de “injeção de liquidez”, logo no início de março. Só que esse dinheiro não chega para as empresas produtivas, para o comércio e os serviços. Com isso, milhões perdem o emprego.
Tudo o que era preciso para que as pessoas pudessem se manter em quarentena foi sabotado pela dupla Guedes e Bolsonaro. Forçaram a população a furar a quarentena por falta de recursos para sua sobrevivência.
Mas, o empenho mais intenso de Bolsonaro é mesmo acabar de vez, o mais rapidamente possível, com distanciamento social.
Outra ajuda que Bolsonaro deu à expansão do coronavírus no Brasil, além de reter o dinheiro emergencial e forçar a barra com a inclusão de dezenas de setores na categoria de “serviços essenciais”, foi demitir em plena pandemia o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, que vinha conduzindo bem os esforços para conter o ritmo da disseminação da doença.
Ele demitiu Mandetta no meio da pandemia e colocou no seu lugar Nelson Teich, uma pessoa que nunca esteve no serviços público e que, por mais que diga o contrário, não consegue se posicionar de forma independente e técnica na luta contra o coronavírus.
Nada melhor para o objetivo de Bolsonaro de facilitar a vida do coronavírus do que ter na pasta da Saúde um ministro que não consegue se localizar, não tem iniciativa e não tem a agilidade necessária que a gravidade do momento exige. O coronavírus aplaudiu a decisão e pisou no acelerador.