Jair Bolsonaro desembarcou em Dubai, capital dos Emirados Árabes, neste sábado (13) , com direito a uma agenda com o primeiro-ministro Mohammed binRashid Al aktoum; discurso na cerimônia de abertura da Dubai Air Show (feira de aviação civil e militar) e reunião com o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed al Nahyan, no domingo (14); e, no dia da República brasileira, 15, o ocupante continuará em missão naquele país para participar da abertura do Invest In Brasil Forum.
Em sua chegada ao hotel, ao dizer que o país foi “atacado” durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP 26), realizada em Glasgow, desde o início do mês, fez aquilo que já é seu hábito nas viagens internacionais: mentir sobre a realidade nacional.
“Ali [COP] é um local onde quase todos apresentam os problemas para os outros resolverem. Você pode ver. China, Índia, EUA não assinaram nada. Nós somos os que mais contribuímos para a não emissão de gases de efeito estufa e que por vezes mais pagamos a conta, mais somos atacados”, disse ao chegar no hotel em que está hospedado em Dubai com diárias que chegam a R$ 75 mil.
Primeira mentira: não é verdade que China e Estados Unidos nada assinaram na COP 26: os governos dos dois países assinaram um acordo bilateral com declaração conjunta sobre o reforço da ação climática.
Mentiu, deliberadamente ou não e, caso não soubesse da existência do acordo, já seria um tanto quanto preocupante em se tratando do posto que ocupa. Aliás, isso não é exatamente uma novidade para Bolsonaro, que parece não conhecer, sequer, o que acontece no terreno das mudanças climáticas no Brasil, que dirá fora de nossas fronteiras.
Não é por acaso que, desde 2019, o governo brasileiro tem sido duramente criticado pela forma como tem conduzido a questão do desmatamento na Amazônia.
De acordo com números recentes divulgados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão oficial do governo brasileiro, a Amazônia Legal teve uma área de 877 km² sob alerta de desmatamento, uma alta de 5% em relação a 2020 e recorde para o mês de outubro na série histórica.
Dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, mostram que o Brasil tem aumentado o total de gás carbônico emitido para a atmosfera, apesar de ter firmado um acordo de redução há mais de 10 anos.
Esse quadro está diretamente relacionado com as medidas de desmonte das políticas climáticas do país e de desestruturação dos órgãos encarregados por essas mesmas políticas, inclusive e, principalmente, das estruturas de fiscalização das práticas criminosas empreendidas por latifundiários e grupos econômicos nada comprometidos com nossos ecossistemas naturais, especialmente o da Amazônia, que contam com a complacência do governo brasileiro.
Outra mentira: disse que o Brasil está fazendo a sua parte e que tem conseguido bons resultados na questão da emissão de gás carbônico.
No entanto, a quantidade de gás carbônico emitida pelo Brasil em 2020 foi a maior desde 2016. Desde 2010, o país elevou em 23% o valor de gases de efeito estufa, ainda segundo o Observatório do Clima.
Bolsonaro aponta que o Brasil é responsável por 2,7% das emissões de gases estufa no mundo, o que seria pouco diante do tamanho da economia em comparação com a China, EUA e Índia. Mesmo assim, acusa outras nações de fazerem pressão em cima do país. E desdenha de qualquer ameaça de boicote.
A agenda internacional de Bolsonaro ainda inclui reuniões para debater a alta do petróleo, que tem impacto direto nos preços dos combustíveis no Brasil, e a chamada transição energética.
Vamos ver o que capitão vai dizer sobre sua política de alinhamento do preço dos combustíveis aos praticados no mercado internacional. Em 2019, ele visitou Riad, na Arábia Saudita, Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e Doha, no Catar.
De lá para cá a situação só piorou para os brasileiros, com o aumento sem precedentes nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, o que já está comprometendo gravemente a mobilidade de milhões de pessoas, impactando negativamente a produção nacional e levando outros tantos a ter que recorrer à lenha para preparar suas refeições.
MAC