“Ele é o principal responsável pela escalada das mortes”, alertou o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde
O ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou, em entrevista ao UOL nesta quinta-feira (07), que o país está “navegando às cegas” em meio à pandemia do novo coronavírus que já matou mais de 8.500 pessoas. Para ele, “o presidente Bolsonaro está cometendo todos os dias crimes contra a saúde pública. Isso tem que ser dito abertamente”. “Ele é o principal responsável pela escalada das mortes, alertou o médico sanitarista.
“O Brasil tem um sistema de vigilância epidemiológica de bastante qualidade. Isso ficou evidente não só na pandemia de H1N1, mas também na de zika. Na primeira fase, de detectar os primeiros casos e fazer o bloqueio, fomos [rápidos]. E foi importante começar o isolamento social no começo de março. Sem isso, teríamos uma situação muito pior agora”, avalia Temporão. Ele criticou a falta de coesão das autoridades. Segundo Temporão, as constantes declarações do presidente Jair Bolsonaro boicotam qualquer iniciativa.
“Alguns fatores fragilizaram a situação brasileira. É preciso ter liderança, coesão e cumprir adequadamente a cadeia de comando. Vivemos uma situação de ausência do ente federal. Estamos navegando às cegas, com cada estado e município adotando suas providências”, destacou. Ele aponta que foi criada uma “governança paralela”, composta pelos governos do Rio, São Paulo e pelo consórcio de governadores do Nordeste, devido à ausência do governo federal.
O ex-ministro condena também a negociação de cargos-chave no Ministério da Saúde em plena pandemia e no momento que ela se agrava e os sistemas de saúde de vários estados entram em colapso. Em busca de apoio no Congresso para evitar um eventual pedido de impeachment, Bolsonaro leiloa cargos com parte do Centrão e vai entregar, inclusive, o comando da Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
Os caciques também querem assumir o controle de secretarias da pasta, entre elas a SVS (Secretaria de Vigilância em Saúde), responsável por monitorar os dados sobre o coronavírus. “É o caos total. É inadmissível uma postura como essa porque só fragiliza. Trocar o ministro já é um absurdo. Além disso, trocar os cargos-chaves é um disparate”, dispara.
A decretação do bloqueio total no Rio, medida, que está sendo analisada pelo governador Wilson Witzel (PSC), é defendida pelo sanitarista. Ela restringiria ainda mais os serviços que podem continuar funcionando e a circulação da população. Dados mostram que a adesão ao isolamento social vem caindo no Rio, e aglomerações em áreas comerciais e turísticas têm sido vistas com frequência.
“O bloqueio total é a única possibilidade nesse momento”, resume. A conclusão se baseia em fatores como a quantidade de mortes no estado, a situação de lotação da rede de saúde e as tendências de propagação do vírus. “As decisões tomadas hoje impactam daqui a 15 dias.” Temporão afirma, contudo, que é preciso dar condições financeiras para que a população mais vulnerável consiga ficar em casa e cumpra o isolamento. “Se não tem essa estrutura por trás, isso não vai funcionar”, pontua.