Na véspera, diversas personalidades, entidades, juristas, o vice-presidente da República, ministros militares e até o Ministério da Defesa condenaram as agressões ao fotógrafo do Estadão, Dida Sampaio, em manifestação bolsonarista ocorrida em frente ao Palácio do Planalto
Jair Bolsonaro voltou a agredir jornalistas na porta do Palácio da Alvorada na manhã desta terça-feira (05). Com um exemplar da Folha de S. Paulo nas mãos, que trazia como manchete: “Novo diretor da PF assume e acata pedido de Bolsonaro”, ele chamou o conjunto da imprensa de “canalhas”. Ao ser indagado, impediu a fala dos profissionais da imprensa: “Cala a boca, não perguntei nada. Cala a boca, cala a boca (…)”, disse ele, impedindo os repórteres de fazerem perguntas. Seus apoiadores passaram a hostilizar os repórteres que cobriam o Palácio.
A pauta era o fato de Bolsonaro ter tirado o superintendente da PF do Rio de Janeiro, Carlos Henrique Oliveira, do cargo. Ele já tinha dito ao ex-ministro Sérgio Moro que “queria o Rio”. A forma que ele encontrou para se apoderar do órgão no Rio de Janeiro foi orientando o novo diretor-geral da PF, Rolando de Souza, a convidar Carlos Henrique para um cargo em Brasília.
A Polícia Federal do Rio de Janeiro, diferente do que disse Bolsonaro, investiga, sim, integrantes da família e do círculo íntimo do presidente, como é o caso de Fabrício Queiroz. A PF conduzia a Operação Furna da Onça que, entre outras coisas, descobriu um esquema de lavagem de dinheiro comandado por Queiroz de dentro do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
O esquema da lavagem, que envolvia integrantes da milícia comandada por Adriano da Nóbrega, morto recentemente na Bahia, estava sendo investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio.
A mãe e a ex-mulher de Adriano eram funcionárias fantasmas do gabinete de Flávio Bolsonaro. Adriano era um pistoleiro profissional que comandava o Escritório do Crime, uma espécie de central de assassinato por encomenda. Um de seus integrantes, Ronnie Lessa, participou do assassinato da vereadora Marielle Franco.
As notícias que a Folha e toda a imprensa deram irritou o presidente. Estimulado pelo discurso agressivo, um apoiador mais exaltado achou que podia chamar a jornalista de louca. Bolsonaro não repreendeu a agressão do apoiador e continuou atacando a imprensa.
“Pra onde está indo o superintendente do Rio de Janeiro? Pra ser o diretor executivo da PF. Ele vai sair da superintendência pra ser diretor-executivo. Tô trocando ele? Estou tendo influência sobre a Polícia Federal? Isso é uma patifaria. Cala a boca, não perguntei nada. Cala a boca, cala a boca (…) Não tenho nada contra o superintendente do Rio de Janeiro e não interfiro na PF”, disse.
“O atual superintendente do Rio de Janeiro que o Moro disse que eu quero trocar por questões familiares, não tem nenhum parente meu investigado pela Polícia Federal, nem eu, nem meus filhos, zero. Uma mentira que a imprensa replica o tempo todo dizendo que meus filhos querem trocar o superintendente”, afirmou.
E, na contramão das manifestações do conjunto da sociedade, inclusive dos militares, mentiu ao dizer que jornalistas não foram agredidos na manifestação antidemocrática de domingo em frente ao Planalto.
“Para vocês entenderem como é essa imprensa que está aí. Mandei levantar se houve corpo de delito. Ele não pediu corpo de delito. Tá certo? Não fez corpo de delito. Então, se houve agressão, verbal, o que eles fazem o tempo todo conosco. A gente não pega agressão nenhuma, zero, zero agressão. Mas houve um superdimensionamento daquilo por parte da mídia, porque o interesse deles é um só, é tirar a gente daqui”, afirmou Bolsonaro.
Bolsonaro queria nomear Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal. Ramagem foi chefe da segurança da campanha de Bolsonaro. Virou amigo íntimo de Carlos Bolsonaro. Depois, Ramagem foi nomeado para um cargo de assessoria no Palácio do Planalto.
Nesta oportunidade, Carlos Bolsonaro informou a Gustavo Bebianno, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência e ao general Alberto Santos Cruz, que ocupava o ministério da Secretaria de Governo da Presidência da República, que pretendia montar uma espécie de “Abin paralela”, já que não confiava na estrutura oficial. Para isso indicaria o nome de um delegado da PF.
Tanto o general Santos Cruz como Gustavo Bebianno, que viria a relatar esse episódio depois de sair do governo, e um pouco antes de morrer, numa entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, impediram que Carlos Bolsonaro consumasse sua intenção.
Logo depois da demissão do general Santos Cruz, Alexandre Ramagem, que ocupava um cargo comissionado em sua pasta, foi nomeado por Jair Bolsonaro para a direção da Abin. Este, por sua vez, levou o delegado Rolando de Souza para ser seu braço direito no órgão. Na impossibilidade de indicar Ramagem, impedido pelo STF, para a PF, Bolsonaro escolheu seu braço direito para substituí-lo.