Em tom de galhofa, ele projeta nos outros aquilo que é sua marca registrada: a incompetência
Jair Bolsonaro culpou os trabalhadores pelos altos índices de desemprego registrados no Brasil. Disse a apoiadores, na terça-feira (5), que “uma parte considerável da população não está preparada para fazer quase nada”.
Como de costume, Bolsonaro tenta passar à opinião pública que seu governo não tem nada a ver com o aumento do desemprego. No mesmo dia em que chamou os trabalhadores do Brasil de incompetentes, Bolsonaro já tinha admitido que ele próprio deixou o país à deriva.
“O Brasil está quebrado. Não consigo fazer nada”, confessou, também a apoiadores. Além de mostrar desconhecimento sobre a economia do país com essa afirmação absurda – já que países não são empresas que quebram, pois podem emitir moeda – ele, agora, quer culpar o povo pelos problemas que são de seu desgoverno.
Vejam a íntegra do que ele disse sobre os trabalhadores do país. “Então, [o Brasil] é um país difícil trabalhar. Quando fala em desemprego, né, [são] vários motivos. Um é a formação do brasileiro. Uma parte considerável não está preparada para fazer quase nada. Nós importamos muito serviço”, afirmou o presidente.
A culpa pelos problemas do país, segundo Bolsonaro, é sempre dos outros. Nunca é dele. Ele não tem nada a ver com esses assuntos. É assim também na pandemia da Covid-19. Não faz nada, mas a culpa pelo aumento dos casos e de mortes é da imprensa que “exagera” nos números, dos governadores que “usurparam” os seus poderes, da Organização Mundial da Saúde “controlada” pela China, etc, etc.
E, nesse caso do despreparo, em particular, há que se registrar que há uma nítida projeção daquilo que são os seus problemas sobre os trabalhadores que ele ataca. Aquilo que ele aponta como sendo uma característica dos trabalhadores é exatamente o que ocorre com ele próprio, a sua total incompetência em governar o país.
“Alguns falam que ‘não sei quem’ não deixa eu governar. Quisera eu que fosse só um ‘não sei quem’, unzinho só”, prosseguiu o presidente da República, mais uma vez tentando culpar os outros por seu despreparo.
Sua insanidade para o cargo é mais do que evidente. A ponto de muitas personalidades brasileiras, como foi o caso do jurista Miguel Reale Jr, já terem levantado a tese do impedimento do presidente por incapacidade cognitiva (ou seja, mental) de permanecer no cargo. Já houve casos semelhantes – deste tipo de incapacidade – em nossa história, tanto no Império quanto na República. Nos dois casos, Maria I e Delfin Moreira, os titulares já não respondiam diretamente pelas tarefas de governo.
O tom das declarações de Bolsonaro é de pura galhofa, de cinismo e de desprezo em relação à capacidade dos trabalhadores brasileiros. Tanto que, em seguida, ao invés de falar quais seriam as soluções que ele apresenta para o problema do desemprego que infelicita mais de 14 milhões de pessoas, ele informa que pretende assistir à final da Copa Libertadores da América.
Ou seja, Bolsonaro não apresenta nenhum plano para enfrentar a crise, nenhuma medida para retomar o crescimento da economia. Nada. Sua preocupação é se divertir, promover aglomerações, passear de moto, de barco, fazer mergulhos, falar de futebol. Tudo isso, enquanto o país está à deriva. Caso evidente de impedimento.
No total, o desemprego bateu novo recorde em novembro, superando 14 milhões de brasileiros. A taxa de desocupação chegou a 14,2%, o maior percentual da série histórica da Pnad Covid, pesquisa do IBGE iniciada em maio para mensurar os efeitos da pandemia no país.
Esse indicador considera o mercado informal de trabalho, autônomos e funcionários públicos. Com o fim da ajuda emergencial neste início de ano e o agravamento da pandemia, observado nos últimos dias, a situação tende a piorar, enquanto isso, o presidente, certamente, vai estar se divertindo.
S.C.