ROBERTO BITTENCOURT (*)
Após afirmar que não era coveiro para se preocupar com a morte de brasileiros e que 70% da população brasileira iria se infectar, inevitavelmente, pelo Coronavírus, Bolsonaro pressiona Governadores e Prefeitos a abrir o comércio, retornar as aulas, entre outras medidas genocidas.
A única possibilidade de encerrar as medidas rigorosas de distanciamento social é a diminuição persistentes do número de casos de infectados pelo Coronavírus, por no mínimo 14 dias. Flexibilizar as medidas de distanciamento social em plena fase de crescimento da transmissão do vírus é conduzir mais e mais brasileiros à morte.
A única possibilidade de assegurar que o número de infectados pelo Coronavírus esteja diminuindo é a realização massiva de testes rápidos para verificar a presença de anticorpos na população, de maneira continuada. A regra é clara:
ou transmissão do Coronavírus está controlada ou não!
Se essas condições não estão presentes, a determinação de flexibilizar é “chute” e um atentado à saúde pública.
A Organização Mundial da Saúde acrescenta questões fundamentais:
(1) O Sistema de Saúde deve ser capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos, além de traçar os contatos. Quebrar o isolamento com os hospitais e UTIs colapsados é provocar o caos.
(2) Os riscos de novos surtos devem estar controlados, em especial nos serviços de saúde e nas clínicas de idosos.
(3) Os governos devem ser capazes de estabelecer e controlar medidas preventivas rigorosas, como: distância mínima, uso de máscaras e outras medidas nos locais de trabalho e ensino.
(4) Os riscos de importação de contaminados deve estar controlado.
(5) As comunidades devem estar completamente conscientes e engajadas.
Essas medidas devem ser implementadas em fases, sem precipitações ou experimentos humanos, como em medidas cegas de tentativa e erro.
Sabe-se que a evolução da pandemia pelo Coronavírus é diferente em cada estado brasileiro, encontramos capitais já em colapso do sistema de saúde e em outras capitais a transmissão é mais lenta, mas é fato que nenhum governador realizou testes de rastreamento suficientes para determinar se a curva da transmissão está ainda crescendo ou se já está em queda. Nas próximas semanas, possivelmente, o quadro ficará mais claro. No momento, a figura abaixo, elaborada com dados obtidos pela John Hopkins University, apresenta a situação da transmissão do Coronavírus, em alguns países, entre eles o Brasil.
A experiência de todos os países que estão retomando suas atividades econômicas, somente o fazem com a pandemia controlada, ou seja, em segurança. Economia e Pandemia não se misturam. Durante o período que a população permanece em distanciamento social, o Estado assume os custos e garante renda mínima a todos que necessitam. A transição para diferentes fases do distanciamento social é possível e necessária, mas sempre com parâmetros bem definidos do estágio de erradicação da pandemia.
(*) Roberto Bittencourt é Doutor em Saúde Pública e Professor do Programa de Pós Graduação da Escola Superior em Ciências da Saúde do Distrito Federal