A Polícia Federal desmentiu, em relatório, a defesa de Jair Bolsonaro e apontou a participação direta do ex-presidente no desvio e venda, nos Estados Unidos, das joias que foram roubadas do acervo público da Presidência. Ao todo, as jóias valem R$ 6,8 milhões.
A PF indiciou Jair Bolsonaro pelos crimes de peculato/apropriação de bem público, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Outros 11 também foram indiciados.
No relatório sobre a investigação, tornado público por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal disse que Jair Bolsonaro mentiu em diversos momentos de seus depoimentos.
Quando o escândalo das joias dadas como presente por líderes estrangeiros surgiu, Bolsonaro falou que “não ficou pessoalmente com as joias”, as quais ficaram no acervo [privado], que fica em um galpão emprestado pelo ex-piloto Nelson Piquet. Jair disse ainda que “não levou as joias para os Estados Unidos na viagem do dia 30 de dezembro de 2022”.
A Polícia Federal afirmou de maneira direta que essa versão não condiz “com a realidade dos fatos”.
“As joias do ‘kit ouro rose’ nunca foram para a denominada Fazenda Piquet”. “Ao contrário, após serem desviadas do acervo público, (…) as joias foram para os Estados Unidos, por meio do avião presidencial e posteriormente levadas pessoalmente por Mauro Cid [então ajudante de ordens de Jair] para a sede da empresa Fortuna, na cidade de Nova Iorque e submetidas a leilão no dia 07 de fevereiro de 2023”.
Esse kit continha um relógio, uma caneta, um par de abotoaduras e um rosário árabe, sendo tudo da marca de luxo Chopard.
“Jair Bolsonaro não apenas determinou que as joias fossem levadas para o exterior, como também tomou ciência de que os itens do ‘kit ouro rose’, por sua determinação, foram submetidos a leilão”, destacou a Polícia Federal.
Bolsonaro e Mauro Cid conversaram por WhatsApp sobre o leilão deste kit de joias. Em 4 de fevereiro de 2023, Cid enviou o link do leilão das peças. Jair respondeu “selva” [expressão militar que significa “ok”, “tudo bem”], confirmando que tinha ciência.
O ex-presidente chegou a abrir o link por cerca de um minuto, mostram dados de seu celular que foram obtidos pela PF.
Para os investigadores, Jair Bolsonaro mentiu “com o objetivo de esconder das autoridades, naquele momento, que os bens foram ilegalmente para o exterior para serem vendidos”.
Isso porque enquanto a investigação acontecia os subordinados de Jair Bolsonaro estavam realizando a “operação de recompra” das joias que tinham sido vendidas no exterior, já que o Tribunal de Contas da União (TCU) havia determinado que as peças fossem entregues ao Estado brasileiro.
Por seu alto valor de mercado, joias, relógios e outras peças que Jair Bolsonaro recebeu como presente de outros países tinham que ser incorporadas ao acervo público da Presidência.
A investigação também comprovou que Jair Bolsonaro mentiu ao falar que sequer sabia da existência do relógio Patek Philippe que seus aliados venderam nos Estados Unidos. O dinheiro da venda era sempre entregue em espécie para o ex-presidente.
Bolsonaro trocou fotos e informações com seu ajudante de ordens, Mauro Cid, sobre o Patek Philippe. Nas conversas de WhatsApp, os dois até trocaram imagens com o certificado do relógio.
Este Patek Philippe foi vendido junto a um Rolex por Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens, em uma loja nos Estados Unidos pelo valor de US$ 68 mil (cerca de R$ 370 mil).
Segundo Mauro Cid, que fechou um acordo de colaboração premiada, “o dinheiro seria entregue sempre em espécie de forma a evitar que circulasse no sistema bancário normal”.