“O Centrão é o que de pior pode existir no Brasil”, afirmou ele em agosto de 2018. Agora diz que “este é um nome pejorativo que deram ao grupo”. “Prefiro” estar com eles, afirmou
Nesta quinta-feira (25), Jair Bolsonaro fez juras de amor ao grupo de parlamentares chamado de Centrão. “Este é um nome pejorativo que deram ao grupo”, disse ele. A fala é bem diferente do que ele mesmo e seus auxiliares diziam antes sobre esses deputados. “O Centrão é o que de pior pode existir no Brasil”, afirmou ele em agosto de 2018.
“O segredo para administrar bem o Brasil é botar as pessoas certas nos ministérios certos (…) por isso não integramos o Centrão”, acrescentou Bolsonaro, em diversos momentos.
Agora, a máscara caiu. Ele disse que sempre foi do grupo. “Prefiro estar no Centrão do que no esquerdão, lá você não consegue nada de bom para o país”, afirmou o farsante.
“São 513 deputados, quase 300 são do dito Centrão. Se eu não conversar com eles, vou conversar com quem?”, questionou em entrevista ao Diálogo com Lacombe, gravada na sexta-feira (19) e exibida na RedeTV! na noite de quinta-feira (25).
Depois que assumiu que sempre foi do Centrão, Bolsonaro lembrou por onde passou quando era deputado. “Eu fui do PP metade do meu tempo. Fui do PP, fui do PTB, do PFL. No passado ingressei em siglas que foram extintas, como o PRB, PPB”, disse o capitão cloroquina.
Em agosto de 2018, em programa eleitoral, Bolsonaro não poupou críticas ao grupo de parlamentares que agora diz admirar: “De 1 lado o Centrão, com essa gente que você muito conhece. De outro, a esquerda, que teima em voltar ao poder. Juntos, têm todo o tempo de televisão e de rádio, bem como quase R$ 1,7 bilhão para investir em campanha”, disse Bolsonaro.
Também em 2018, um vídeo do atual Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Augusto Heleno, viralizou nas redes sociais. O material foi gravado durante a convenção do PSL que oficializou Bolsonaro como candidato da sigla e mostra o general cantando uma paródia da música “Reunião de Bacana (Se Gritar Pega Ladrão)”, de Bezerra da Silva. “Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão”, cantou Heleno, em referência à aliança do ex-governador de São Paulo e também candidato ao Planalto, Geraldo Alckmin (PSDB), com partidos desse bloco.
É certo que logo depois de assumir a Presidência começou a mudar o discurso moralista. Iniciou logo as tratativas para aparelhar a Polícia Federal e encobrir os crimes dos filhos. Começou a perseguir ferozmente todos os órgãos de fiscalização e combate à corrupção – vide COAF, Receita Federal e a própria PF – e aparelhou a Procuradoria Geral da República (PGR). Com isso, passou a alardear que em seu governo não havia corrupção.
A mentira teve pernas curtas. Apesar de todo o aparelhamento, veio à tona o esquema de propina bilionária na compra de vacinas pelo governo, denunciado pela CPI da Pandemia. Num jantar, o representante do governo explicou ao vendedor como era o esquema: “tem que pagar um dólar por cada dose de vacina importada”, disse ele.
O episódio mostrou que a “honestidade” do “mito” não passava de conversa fiada. Com o escândalo, o Ministério da Saúde foi obrigado a suspender a compra. Depois, também, estourou o escândalo do Orçamento Secreto, uma máquina bilionária e clandestina de suborno e compra de votos sob controle do Planalto. Só esse ano foram usados R$ 18,5 bilhões no esquema de suborno e compra de votos com o Orçamento Secreto, felizmente já barrado pelo STF.
Incomodado com o fato de seu ex-ministro da Justiça e pré-candidato à Presidência, Sergio Moro, é – e será – uma testemunha viva de sua falácia de paladino da moralidade, ele usou a entrevista para partir para cima do ex-aliado. “Quero ver ele em cima de um caminhão falando para 2 mil pessoas. Não consegue conversar”, disse. O farsante criticou também o fato de ex-aliados estarem orbitando em torno de Moro, a exemplo do general Carlos Alberto Santos Cruz, que se filiou ao mesmo partido de Moro. Para o presidente da República, essa postura parece “recalque”.