CPI da Pandemia avança no Senado e já permite vislumbrar novas linhas de investigação. Nesta segunda semana de trabalhos, o colegiado vai ouvir o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres; o ex-secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten; e o ex-chanceler, Ernesto Araújo
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado, que investiga as ações, omissões e inações do governo federal, sob Bolsonaro, no combate à pandemia da Covid-19, ouviu na primeira semana de trabalhos os dois ex-ministros da Saúde e o atual, respectivamente, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Marcelo Queiroga.
Descoberta importante foi a de que o governo Bolsonaro recusou 11 vezes ofertas para compra de vacinas. Isto é, não ignorou apenas o oferecimento das 70 milhões de doses feita pela Pfizer, farmacêutica estadunidense.
Outra conclusão, amplamente especulada pelas mídias tradicionais e digitais, ainda que as investigações da CPI estejam só começando, é que o presidente da República, primeiro, ignorou ou negligenciou a pandemia, depois negou-a e, agora, sabota os protocolos, até os mais básicos, como uso de máscaras e o distanciamento social para contenção da expansão Covid-19 no país.
“Nós não temos em nenhum outro país um chefe de governo, ou chefe de Estado, que ficou tão contra a vacina como o presidente da República do Brasil”, disse o relator das investigações, senador Renan Calheiros (MDB-AL), em entrevista no sábado (8), ao podcast “A Malu tá ON”.
INTENÇÃO DE ESPALHAR O VÍRUS DA COVID-19
Outra convicção da maioria do colegiado é a de que Bolsonaro agiu, intencionalmente, com o objetivo de espalhar o vírus da Covid-19, dizem membros da CPI.
Os senadores avaliam que os depoimentos colhidos pela CPI na semana passada deixaram claro que Jair Bolsonaro agiu para espalhar o coronavírus visando alcançar a chamada “imunidade de rebanho”. “Isso, na prática, é um grande crime, se for verdade, pois ele assumiu o risco de muita gente morrer, o que efetivamente aconteceu”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE).
Em entrevista, o senador Rogério Carvalho (PT-SE), que é suplente na comissão, sublinhou que o presidente defendeu [e defende] remédios sem eficácia, incentivou aglomerações, vetou o uso de máscaras para proteção contra o vírus e não buscou as vacinas para imunizar a população. Ele acrescentou, ainda, que Bolsonaro continua a atrapalhar a entrega de insumos ao país por conta de acusações à China e segue a combater o isolamento social, necessário para conter a pandemia.
DESDOBRAMENTO DA CPI
Renan condenou as críticas contra ele feitas por Jair Bolsonaro e disse que eventual processo de impeachment poderá acontecer em função das investigações do colegiado sobre a atuação do governo federal no enfrentamento à pandemia.
“O impedimento do presidente será — ou não — consequência da própria investigação. Não é a CPI que vai pedir”, disse o relator da CPI ao podcast “A Malu tá ON”, de acordo com reportagem do jornal GGN.
Renan também criticou os ataques que Bolsonaro fez à China, maior parceiro comercial do Brasil e também o maior fornecedor de insumos para a produção de vacinas contra a Covid. Na semana passada, o ex-capitão insinuou que o país asiático teria criado o coronavírus em laboratório para uso em uma “guerra química, bacteriológica e radiológica”.
Essas “maluquices” fazem parte da estratégia do “gabinete do ódio” para tirar o foco dos problemas reais em curso no País — o morticínio de brasileiros por Covid-19, que já são mais 420 mil óbitos em nível nacional, a gravíssima crise econômica, o crescente desemprego, que oficialmente está perto de 15 milhões de pessoas.
AGENDA DA CPI NESTA SEMANA
Entre terça (11) e quinta-feira (16), a CPI vai ouvir o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, cujo depoimento estava marcado para a última quinta-feira (6), mas foi transferido para a terça-feira.
Na quarta-feira (12), vai ser ouvido o advogado e publicitário Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) do governo federal. A CPI vai ouvir ainda, na quinta-feira (13), o ex-chanceler Ernesto Araújo e representantes do laboratório Pfizer.
Na opinião do senador Humberto Costa, a primeira semana de CPI foi “muito boa”. Para ele, os depoimentos dos ex-ministros da Saúde mostraram que, na prática, Bolsonaro tentava mudar as orientações técnicas de enfrentamento à pandemia, ignorando princípios científicos adotados ao redor do mundo.
Para o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), a oitiva de Araújo é relevante. Ele disse que é importante ouvir o ex-ministro para entender o relacionamento do Brasil com outros países que são grandes fornecedores de insumos ou de vacinas já prontas.
Segundo Vieira, as decisões da pasta tiveram impacto claro na baixa disponibilidade de vacinas para os brasileiros. Também para o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o ex-ministro Ernesto Araújo tem responsabilidade direta na política de aquisição internacional de vacinas.
M. V.