Novo presidente da ABDI vai na contramão do BC e da política de redução da taxa Selic a conta-gotas. Nomeado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), Ricardo Cappelli avaliou que as críticas à nova política industrial foram ‘precipitadas’
O novo presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Ricardo Cappelli, disse ao jornal Folha de S.Paulo que a redução da taxa de juros no Brasil é central para a retomada do setor industrial.
“Existem algumas questões centrais para a retomada da indústria e a primeira delas é a redução da taxa de juros. Já estamos num caminho descendente. E a expectativa é que ao longo do ano a taxa de juros caia mais”, afirmou Cappelli.
Ele reconheceu, no entanto, que o maior desafio, a partir de agora, será definir e quantificar de forma mais clara as metas do plano da NIB (Nova Indústria Brasil) do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Lula se queixou a interlocutores do pacote de medidas para o setor industrial. O presidente reclamou justamente que a proposta não continha pontos concretos, dando margem para as críticas de que se tratava de reedição de medidas antigas.
O anúncio da NIB (Nova Indústria Brasil) ocorreu na semana passada no fim de janeiro.
REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS
A taxa Selic, os juros básicos da economia brasileira, está hoje em 11,25% ao ano, após o corte de 0,50 ponto percentual promovido na última quarta-feira (31) pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central.
O Copom sinalizou que esse ritmo deve continuar. A expectativa é que a Selic caia para o patamar de 9% no fim de 2024. Ainda um patamar muito alto, pois o país está entre aqueles com as maiores taxas de juro real.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma que mesmo com os quatro cortes na Selic, realizados de agosto a dezembro de 2023, a taxa de juros real – que desconsidera os efeitos da inflação – ainda está em 7,65% ao ano, sendo 3,15 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica.
GARANTIR CRÉDITO PARA AS EMPRESAS
Na avaliação do novo presidente da ABDI, a taxa de câmbio hoje favorece as exportações, e o esforço do governo no momento é garantir crédito para as empresas. “É só não ter uma variação muito grande do câmbio”, ressaltou ele, que começou a trabalhar na ABDI, na última quinta-feira (1º), antes mesmo da cerimônia de posse, que ainda não foi marcada.
Segundo Cappelli, a ABDI vai trabalhar com a equipe de Alckmin no Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) na “missão” de detalhamento das metas.
ENCONTRO COM PRESIDENTE DO BNDES
Cappelli já marcou encontro, no Rio de Janeiro, com o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Aloizio Mercadante, para conversar sobre o plano.
O financiamento do BNDES é central na política anunciada por Alckmin, mas o banco de fomento acabou sendo alvo de críticas devido à preocupação de que a NIB reedite políticas que fracassaram no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
“Achei as críticas precipitadas porque é uma política que define os eixos gerais. A partir da ABDI, podemos apoiar, na definição e detalhamento dessas metas por cada eixo estratégico e setor”, afirmou.
CONTRAPARTIDAS RÍGIDAS
Cappelli ressaltou que os projetos do BNDES e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), que participam do plano, têm contrapartidas, critérios rígidos e penalidades para eventual não cumprimento do que está previsto.
A nova política industrial do Brasil estabelece metas e diretrizes até 2033 a partir de 6 missões, ligadas aos seguintes setores:
• agroindústria;
• complexo industrial de saúde;
• infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade;
• transformação digital;
• bioeconomia; e
• tecnologia de defesa.
METAS DO PROGRAMA
As metas do programa não foram divulgadas no anúncio e ficarão sob análise interna no governo por 90 dias.
A ABDI foi criada em 2004 durante o primeiro mandato do presidente Lula. Apesar de ser ligada ao Mdic, tem autonomia administrativa e status de pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos.
Sua função principal é estimular a transformação digital e a adoção e difusão de tecnologias e de novos modelos de negócios no setor produtivo, seja nas empresas, indústria ou serviços.
ALCKMIN CONVIDOU CAPPELLI
O convite para Cappelli assumir a ABDI foi feito pelo vice e aceito em reunião na tarde da última quarta-feira (31).
Cappelli, que é do mesmo partido de Alckmin, era o segundo na hierarquia do Ministério da Justiça, sob a gestão do ex-ministro Flávio Dino, que deixou o cargo para ocupar vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
Homem de confiança de Flávio Dino, Cappelli foi interventor federal na área de segurança pública do Distrito Federal, após os ataques, pelos bolsonaristas, de 8 de janeiro aos Três Poderes.