A ligação de políticos bolsonarista apoiadores e aliados do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) com o escândalo dos cargos secretos na Fundação Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro) só aumenta.
O caso ficou conhecido como “cargos secretos”, já que a nomeação das pessoas não era publicada no Diário Oficial. As formas de pagamento adotadas, segundo o Ministério Público do Rio (MPRJ), dificultam a rastreabilidade e facilitam a lavagem de dinheiro.
Ao todo, a Ceperj possui cerca de 27 mil cargos ocupados sem transparência, segundo apuração do Ministério Público do Rio.
No site oficial da Fundação Ceperj está identificado um núcleo do projeto Esporte Presente com o nome do vereador Pedro Gadelha (Cidadania), da cidade de Casimiro de Abreu, a 132 quilômetros da capital fluminense.
O Esporte Presente é um projeto que leva a prática de atividades esportivas a diversas regiões do Estado do Rio.
Os espaços onde ocorrem as aulas de esporte recebem os nomes de locais como bairros, praças, ruas ou escolas, porém isso não está acontecendo em Casemiro de Abreu.
A não realização da iniciativa reforça a denúncia do uso político dos projetos da Ceperj.
Nas redes sociais, Pedro Gadelha vereador se apresenta como aliado do líder do governo Cláudio Castro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o deputado Rodrigo Bacellar (PL). Guarde esse nome, Bacellar também está ligado aos cargos secretos e saques milionários. Voltaremos no nome dele mais a frente.
De acordo com levantamento do UOL, “na página da Ceperj, 18 alunos aparecem vinculados ao núcleo de número 400 do projeto (cada um também tem uma identificação numérica), ligado a Gadelha. Além da identificação oficial com o nome do vereador, o UOL também apurou que pelo menos duas pessoas que aparecem como alunas do projeto esportivo no site não sabem que estão matriculadas”.
No mês passado, após pressão do Ministério Público do Tribunal de Contas do Estado do Rio, a Ceperj começou a divulgar os nomes dos contratados do “Esporte Presente”.
É nessa lista que o nome de Gadelha foi localizado.
A Fundação Ceperj possui pelo menos 12 outros projetos cujas contratações ainda não foram divulgadas.
Questionado pelo UOL, Gadelha disse desconhecer sua vinculação ao núcleo.
Em um vídeo, de 1º de agosto, publicado em sua página no Facebook, o vereador afirmou que “foi através do governo do estado, com o apoio do deputado Rodrigo Bacellar, que nós trouxemos para o nosso município o ‘RJ para Todos’, que fez mais de 500 atendimentos aqui na cidade”.
O projeto citado por Gadelha, que dá assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade social, também está na lista daqueles que possuem contratações através de cargos secretos da Fundação Ceperj.
A assessoria de imprensa do governo do Rio disse em nota que “entregou nesta sexta-feira ao Ministério Público um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) para corrigir as falhas e dar total transparência aos importantes programas sociais vinculados à Fundação Ceperj”. “Vale ressaltar que todas as determinações dos órgãos judiciais e de controle estão sendo cumpridas”.
BACELLAR
Agora vamos voltar ao envolvimento do deputado líder do governo na Alesp, Rodrigo Bacellar.
A namorada do irmão dele, o vereador de Campos dos Goytacazes, Marquinho Bacellar (Solidariedade), recebeu mais de R$ 22 mil em dinheiro vivo através dos cargos secretos.
Nos últimos dois meses, Bárbara sacou na boca do caixa de uma agência mais de R$ 22 mil. Marquinhos argumentou que a namorada passou por um processo seletivo para conseguir a vaga no Ceperj e teria justificado seus vencimentos.
“Ela não foi nomeada, ela passou num processo seletivo, prestou serviço por seis meses e prestou conta. Sobre as denúncias, pra mim é fake news. (…) Se tiver um erro eu respondo na Justiça, o que eu acho que não vai acontecer”, disse o vereador.
Questionado sobre qual seria a função da companheira no Ceperj, Marquinhos Bacellar não soube explicar.
“Ai você tem que perguntar pra ela ou para o Ceperj. (…) Eu sou vereador de Campos, não sei de nada. Talvez você pergunte para o governador, para algum deputado estadual ou para o presidente da Ceperj”, comentou.
Rodrigo Bacellar fez seu primeiro pronunciamento sobre as denúncias na quinta-feira, 4, e disse: “A gente tem que separar o joio do trigo para que o cidadão de bem não pague a conta por espetáculos midiáticos”, disse ele, no plenário da Alerj.
Bacellar disse que os projetos realizados pela Ceperj têm tido impacto social no estado e afirmou que, “de dez anos para cá, nunca se viu fazer tanto pelo Rio”.
Além da namorada de seu irmão vereador, outros parlamentares de Campos, ligados a Bacellar também estão envolvidos no esquema dos cargos secretos e sacaram mais de R$ 2 milhões na boca do caixa de agências bancárias do município.
Em comum entre todos os funcionários de Campos com cargos no Centro de Estudos e Pesquisas do Estado (Ceperj) está a ligação com o deputado estadual e líder do governo Cláudio Castro na Alerj Rodrigo Bacellar.
Em uma única agência bancária de Campos funcionários do Ceperj sacaram mais R$ 12 milhões. Campos dos Goytacazes é reduto político de Bacellar
O grupo formado por parentes de vereadores de Campos com cargos no Ceperj só foi revelado depois do início das investigações do Ministério Público. O órgão tem indícios de funcionários fantasmas e rachadinha em um projeto que já gastou mais de 280 milhões de reais em saques na boca do caixa.
O vereador de Campos Fred Machado (Cidadania), aliado da família Bacellar, foi identificado como “eterno namorado” de Mayara Wigand, em suas redes sociais. Ela sacou como seis pagamentos como funcionária do Ceperj. Ao todo, Mayara recebeu R$ 48 mil.
Roziane Moço França não é parente de sangue, mas de consideração de outro vereador do município. Em uma foto, ela se declara ao irmão de criação Helinho Nahin, outro vereador de Campos que é próximo a Rodrigo Bacellar.
Roziane fez cinco saques, recebendo pouco mais de R$ 13 mil como funcionária do Ceperj.
Já o vereador Bruno Vianna (PSD) também indicou seu irmão, Gabriel Cordeiro Vianna, para um cargo no Ceperj. As famílias Vianna e Bacellar são aliadas em Campos. Gabriel realizou quatro saques. Ao todo, ele retirou na boca do caixa mais de R$ 13 mil.
A tia do vereador Rogério Matoso (União Brasil), Rosana Juncá, também fez saques como funcionária do Ceperj. Ela tem usado as redes sociais para exaltar o governador Cláudio Castro e o deputado estadual Rodrigo Bacellar.
Segundo uma pessoa contratada para um cargo fantasma, as postagens faziam parte do acordo entre ela e o político de Campos.
“Como a grande maioria das pessoas (trabalhava como cabo eleitoral). Muita gente, principalmente, se você for ligado a um vereador, ou ligado ao Rodrigo. O Rodrigo hoje ele tem a maioria dos vereadores. O pessoal brinca que ele é o governador de fato”, contou.
Questionado sobre as funções que exercia como cabo eleitoral, o funcionário do Ceperj explicou que atuava falando bem do deputado.
“Falar bem dele, curtir as coisas todas dele nas redes, facebook e no Instagram”, disse.
Uiara Martins da Silva de Paula é casada com Bruno Ferreira de Paula, assessor de um vereador da base de Bacellar em Campos. Ela e o marido têm cargos secretos o Ceperj e receberam mais de R$ 70 mil em quatro meses.
Bruno é um dos 12 funcionários da Câmara Municipal de Campos que fazem uma dupla função, o que é proibido pela constituição.
O vereador Maicon Cruz (PSC) é chefe de três pessoas que acumulavam cargos ilegais. Segundo ele, a nomeação dos funcionários não foi indicação política.
“Não foi indicação política nenhum, não temos ligação com o Ceperj. Eu não tenho ligação com o Rodrigo Bacellar. Eles (os funcionários) foram ao Ceperj e fizeram o processo seletivo”, justificou Maicon.
Contudo, o vereador não soube explicar porque dois de seus assessores, que só teriam trabalhado um mês, receberam entre 5 e 7 salários.
“Tudo o que eu tenho são documentos. Como eu os havia notificado, eles colocaram advogados, que estavam falando pelos dois. Ele pode explicar melhor, porque eu não entrei nesses detalhes”, disse o vereador.
“Não me cabe julgar. Não sou julgador. Todas as medidas aqui, não expus porque eu achei que eles estavam com boa fé (…) No meu gabinete não tem nada de irregular “, comentou Maicon.
SUSPENSÃO DAS CONTRATAÇÕES
Na última segunda-feira (1), o MPRJ entrou com uma ação civil pública pedindo que o governo estadual e o Ceperj parem de fazer contratações de funcionários temporários sem a devida transparência. A suspeita do órgão é de que o órgão do governo venha sendo utilizado eleitoralmente.
Somente neste ano, a folha de pagamentos ligada à fundação chegou a R$ 300 milhões apenas no primeiro semestre deste ano, sendo que os beneficiários sacaram R$ 226 milhões em espécie, na boca do caixa.
De acordo com dados da Secretaria Estadual de Fazenda, o governo Cláudio Castro engordou o orçamento do órgão em 25 vezes desde que assumiu o comando do Executivo estadual.
Teve pessoas que trabalharam honestamente, e não tem que pagar pela ganância dos outros não!