O senador eleitor pelo Ceará, Cid Gomes (PDT), enfatizou a necessidade de conformar um bloco, dentro e fora do Senado capaz de “dizer que o Brasil terá uma alternativa que não o Bolsonaro e o PT”. “Fazemos questão de deixar claro que seremos hoje e amanhã uma alternativa diferente destes dois”, disse, em entrevista realizada no último domingo (11) no programa Poder em Foco, do SBT.
Quando questionado sobre a presidência do Senado e a possibilidade do PDT apoiar a candidatura de Tasso Jereissati (PSDB), Cid afirmou que o tucano “é certamente um nome respeitado e teria condições de assumir a presidência do Senado”.
Cid Gomes, irmão do ex-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes, também do PDT, já foi deputado estadual, governador do Ceará, prefeito de Sobral e ministro da Educação.
No Senado, explica, o PDT vai adotar dois movimentos. O primeiro consiste em “formar um bloco para ter atuação durante um longo período, que não seja um bloco ocasional, mas um bloco para atuar, que tenha mais identificação, mais proximidade de idéias. Que possa, em paralelo à apreciação de iniciativas do executivo, formular e propor políticas públicas e fazer disso um embrião de um projeto de longo prazo. Esse bloco seria formado pelo PDT, Rede, PSB e pelo PPS”.
“O outro movimento pressupõe que a gente deva conquistar maioria. O parlamento toma decisões por maioria. Então, esse movimento iria procurar aglutinar partidos que não são alinhados automaticamente na situação. (…) Aí pode entrar o PSDB, o Podemos. Conversaremos com o DEM, com o PP, com o Solidariedade. Se tudo der certo, a gente forma uma maioria de justos 41 senadores”. A Casa é composta por 81 parlamentares.
Essa oposição que o PDT está propondo se diferenciaria da feita pelo PT por “não ser oportunista”. Atuará não para imobilizar qualquer proposta feita pelo presidente eleito, mas somente barrará aquilo que não faria caso estivesse na situação.
“Os brasileiros não se sentem mais representados por pessoas que agem por oportunismo, que agem segundo a situação específica da oportunidade. O que nós [PDT] queremos é fazer uma oposição ao Bolsonaro que não seja a que torce para que ele errar pra eu me dar bem, não seja uma oposição do quanto pior melhor”, afirmou o ex-governador.
PT
Segundo a avaliação de Cid, Bolsonaro não foi eleito pelas propostas que apresentou, mas por um profundo sentimento antipetista na população. “Os brasileiros estavam com um sentimento muito forte de vingança para com o PT, um sentimento antipetista muito forte, e isso que tava dando maiorias identificadas em pesquisas de opinião pública para o Bolsonaro. Não era uma maioria de brasileiros que era a favor do Bolsonaro, era uma maioria de brasileiros contra o PT e queria dar uma lição no PT”, avaliou.
Esse sentimento, em sua opinião, é justificado pela quantidade de erros que o PT tem cometido. “Acho que era importante que o PT faça uma autocrítica, faça um mea-culpa, peça desculpa pelos erros e prometa não errar mais. O PT realmente chegou ao limite e precisa fazer autocrítica”, disse.
“O PT errou, errou profundamente, e errou de novo quando não admite o erro, quando não pede desculpas pelo erro. (…) Errou na questão da corrupção, do aparelhismo e em não ter assumido, admitido, pedido desculpas e em não ter tentado virar a página”.
DEMOCRACIA
Na opinião do senador eleito, apesar da “conivência ou cumplicidade com tortura, com governos ditatoriais” por parte de Bolsonaro, ele não é capaz, na visão de Cid, de ser, por si só, uma ameaça à democracia. “Não creio que essa agenda possa ter guarita. Me recuso a acreditar que a democracia brasileira está em risco com o Bolsonaro, acho muito mais fácil ele se desmoralizar do que a democracia brasileira ter alguma queda ou risco de não ser o sistema. As nossas instituições estão maduras a ponto de não permitir que isso aconteça”, minimizou o pedetista.
GOVERNO BOLSONARO
Cid acredita que a aliança entre Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, tende a se enfraquecer, e talvez acabar, em alguns meses. “Eu penso que a formação dele é uma formação nacionalista, que entende o papel do poder público como protagonista, e isso é o oposto do Paulo Guedes, ele é um liberal no limite, por ele não existiria estado”, opinou o senador eleito, em que pese Bolsonaro ter emitido sinais contrários ao nacionalismo, como bater continência para a bandeira americana e ter dito que a Amazônia não é nossa, admitindo parceria com os EUA para explorar os recurso minerais da região.
Quanto às propostas, Cid criticou a ideia de Bolsonaro de fundir ministérios, como o da Agricultura com do Meio Ambiente ou Cultura e Esportes com Educação. “A economia que se faz juntando ministério é economia de palito, até porque tem que manter a estrutura. Mas o prejuízo que isso traz para atenção a determinados temas e o que o tema vai ter de preferência do titular do ministério é muito maior do que a pequena economia que se faz”, afirmou.
P. B.
Veja a íntegra da entrevista: